Capítulo 35

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Robert

A tensão que reinava dentro do escritório de senhorita Milena, era inegável. Todos nós havíamos ficado transtornados com aquela notícia e, o que dava lugar ao que as pessoas qualificam de desespero, tinha-se transformado, no nosso pior pesadelo. Lágrimas pertinentes escorriam sobre a face de senhor Romando de uma maneira ininterrupta, era a primeira vez que via um homem expressar tamanha sensibilidade, uma emotividade, que na maioria dos casos, era apenas constatada, por mulheres. A senhorita Milena tinha o rosto e os olhos inchados de tanto chorar, assim como de também, tentar abafar as suas lágrimas, pois era perceptível a sua dor, que era na verdade, o que todos sentíamos, porém, no mais alto nível da escala.

Senhorita Rara tentara consolar-me a todo custo, dentre todos, era a que parecia a menos agitada, mas só parecia, porque à medida que passava as suas doces mãos por entre as minhas, não pude deixar de reparar que elas tremiam e, o seu rosto outrora alegre, mudificou-se para completamente pálido.

O meu rosto estava totalmente destroçado pelas correntes lágrimas, as minhas escleras estavam inegavelmente avermelhadas, sabia disso, por causa da tremenda cólica que sentia nelas e, quando isso acontecia, era porque as lágrimas haviam realizado a sua função. Aquela sensação de incapacidade colocava-me nas estribeiras, eu não podia simplesmente não fazer nada, eu queria a minha pequena Lúcia e, eu ia atrás dela onde quer que ela estivesse, porque sei que podia dar o meu anélito de vida, nem que fosse pela última vez. Foi então, que no minuto a seguir, saio de rompante da sala de senhorita Milena, provocando, desse modo, a surpresa de todos que lá se encontravam, conhecia isso, porque ouvia os seus murmúrios e passos, que com certeza, justificavam a sua presença atrás de mim.

Direcciono-me ao escritório de minha pequena Lúcia e, quando lá chego, descerro a porta descuidadamente, adentrando prontamente. Procurava apressadamente as chaves do Audi de Cassandra, que sem me aperceber, estavam por cima da escrivaninha de minha pequena Lúcia. Sem mais demoras, acelero-me para pegá-las e, quando orientava-me para sair daquele recinto, a senhorita Milena, juntamente com a senhorita Rara e o senhor Romando, já lá estavam.

— Robert, tu precisas de te acalmar! — Clama senhorita Rara já sem fôlego.

— Eu não me posso acalmar, enquanto a minha pequena Lúcia não estiver aqui. — Digo com os olhos molhados.

— Por favor Robert, não te maltrates deste jeito. — Manifesta senhor Romando em lágrimas.

— Eu tenho de ir à Formby Beach, pois a minha pequena Lúcia me espera e, eu sei que ela está bem. — Informo com a cabeça baixa e, no intervalo em que me dirigia para a saída, a senhorita Milena impede-me, proferindo algumas palavras.

— ACALMA-TE, ROBERT! — Vozeia dando uma pausa em sua manifestação — O mais lógico a ser pensado, é que ela já não se encontra na praia, dado que como o detective Cowell disse, os seus colegas foram lá com uma equipe de paramédicos para as investigações, assim que o incidente foi reportado, portanto, devem ter levado o corpo para o hospital mais próximo, a fim de realizar a autópsia, para se descobrir a causa da morte. — Finaliza senhorita Milena ofegante.

Após ouvir atentamente o discurso de senhorita Milena, pude constatar que os seus pensamentos eram os mais acertados e, os mais racionais, naquele momento.

— Qual será a localização desse hospital? — Pergunto indignado.

Nesse momento, a senhorita Rara pega em seu telefone que estava em sua carteira, entrando, logo de seguida, no seu Google maps para saber a localização do hospital mais próximo em Formby Beach.

— Está localizado em Southport & Ormskirt Hospital NHS Trust. — Diz Senhorita Rara corajosamente.

Depois disso, sou arrancado ferozmente do escritório de minha pequena Lúcia pelas minhas próprias pernas, porque nem elas são mais capazes de ficar imunes a tudo isso. Na sucessão, já me encontrava no exterior da British Company, empeçando uma nova jornada, cujo destinatário, era cada vez mais conhecido por mim. Adentro ao Audi de Cassandra, dando início assim, a um percurso, que a todo custo, me levaria até minha pequena Lúcia. Não pude deixar de reparar em senhorita Milena e na senhorita Rara que na companhia de senhor Romando, estavam atrás de mim, seguindo-me no veterano Porsche de senhorita Rara.

O caminho até ao hospital em Formby Beach foi atribulado, porque apesar das estradas estarem livres e a velocidade com que percorria os quilómetros fosse considerada alta, o clima não estava no seu melhor, porque chovia torrencialmente. Porém, assim que cheguei ao hospital, saí do carro às pressas e, correia incansavelmente, até achegar a recepção do hospital, esquecendo-me completamente de senhorita Milena, que vinha com as figuras de senhorita Rara e o senhor Romando, a todo momento atrás de mim.

Depois de receber as indicações de onde ficava a Morgue da recepcionista, corro descontroladamente até aquela divisão e, quando lá compareço, tive a pior visão de todos os tempos. Com os olhos marejados e muito receio, abro a porta daquele compartimento que recebia o nome de Morgue. Era frio e sem qualquer vestígio de vida humana, tinha várias gavetas que eram consideradas os "Minis frigoríficos humanos", porque aquilo, era o que chamava o "Frigorífico da Vida", pois era aí, onde as pessoas eram reservadas e armazenadas, antes de serem enterradas. Fui vagueando e já chorando compulsivamente, até que por fim, encontro um doutor, que calculava ser o responsável por todos os corpos que lá chegavam.

— O senhor é o responsável pela identificação do corpo da paciente Lúcia Morgan? — Questiona pacientemente.

— Sim. — Garanto entre gotas de água.

— Os meus pêsames, pois lamento informar, que foi uma morte premeditada, uma vez que de acordo com as análises, a paciente sofria de alguns transtornos, dado que encontrou-se várias cicatrizes antigas em seus pulsos, todavia, com um certo grau de profundidade, já que em um de seus cortes, a paciente quase perfurou a veia, o que nos levou a concluir, que o seu quadro de depressão era considerado gravemente avançado e, isso, a levou ao suicídio. — Comunica calmamente.

E, aquilo claramente, tinha acabado comigo. Suicídio era a palavra que não saia da minha cabeça, suicídio  era a palavra que descrevia, os gritos e pedidos de socorro imperceptíveis de minha pequena Lúcia, suicídio era a palavra que ignorei estupidamente, porque o meu amor se sobrepôs e, suicídio era a palavra que jamais haveria de esquecer para o resto de toda minha vida e, com certeza, levá-la-ia ao caixão.

Em meu corpo, já não haviam mais forças para suportar e, a única coisa que fiz, foi cair de joelhos com lágrimas berrantes que despenhavam sobre o meu rosto. Eu estava totalmente derrotado, mas foi nesse instante, que a senhorita Rara, na presença da senhorita Milena e do senhor Romando, entraram onde me encontrava, sabia disso, porque sentira os seus aparecimentos e, ouvira as suas vozes que davam origem a gritos de choros, por uma imagem que jamais seria apagada por nós, que era o corpo de minha pequena Lúcia completamente sem vida, porém, com o rosto coberto e, em seu pescoço, uma marca de nascimento, o que era irónico, pois aquela mancha que significava o nascimento, era a mesma, que agora, presenciava a morte. 

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