Capítulo 114

578 58 14
                                    

Camila (1/2)

Comentários geram engajamento e ajuda a autora aqui, então vamos comentar!
______________________

Não sei porque o que o Igor disse mexeu tanto comigo.. o fato dele se esquecer, mexeu bem mais.

Eu não sei porque realmente me importei, o Igor brinca com essas coisas de casamento o tempo todo, coloca até o nome do Bruno no meio.. mas dessa vez ele realmente não estava brincando.. será quê.. ele realmente pediria?

E o fato do anel, em que momento ele viu? Será que ele viu faz tempo e deixou escapar agora por conta da bebida, ou ele descobriu agora?

Duas semanas se passaram e eu ainda não esqueci, eu realmente estou emotiva, nem sei porquê eu estou ligando pra isso...

— Mãe.. — Isabela estalou o dedo na minha frente — Posso?

— Oi filha, desculpa.. mãe não estava ouvindo.. pode o quê?

— Já terminei o para casa, posso mexer no celular?

— Pode sim, só não fica muito tá? Sabe como seu pai está..

Me levantei da mesa e deitei no sofá, Igor esses dias tá estranho, não algo que venha me assustar, mas ele tá de pouco papo, anda um pouco estressado, ainda mais com a Isabela que está numa fase de desenvolvimento que precisa de paciência..

Eu já tentei sondar o Roni, mas aquele ali é osso duro, diz que filho dele não se envolve nesses assuntos e que quem tem problemas é o Igor, não eu.

Às vezes me bate um medo do Igor virar chavinha e voltar a ser como era antigamente.. eu não sei como pude esquecer tudo que passou entre a gente, mas é a pura verdade, quando eu lembro é como se eu tivesse contando histórias de terceiros. Não me dói como um dia doeu um dia, mas que me deixou de aprendizado, deixou.

Ouvi a porta abrir e rapidamente olhei para a Isa que deixou o telefone encima da mesa e veio pro meu lado.

— Não adianta esconder o telefone não dona Isabela, eu vi. — Igor disse jogando o boné na mesa e indo em direção ao banheiro.

Ela ia responde-lo como ela vem fazendo ultimamente, mas fiz sinal de silêncio com o dedo e ela obedeceu.

— Vai ver filme lá no quarto da mamãe, vai.. — ela saiu de bico, subindo as escadas.

Ela me lembra muito o Igor quando é contrariada, não contém a língua dentro da boca. Mas fazer o que, isso é fase da criança, é agora que ela aprende ou nunca.

Igor saiu do banheiro e pegou um copo de suco na geladeira, parando em pé ao lado do sofá.

— Ela tava usando o telefone por que se ela estava de castigo?

— Eu não sabia que ela estava de castigo, você não falou nada comigo...

— Mas falei pra ela, caralho! Nada que falo aqui o povo escuta não? Já basta na rua..

— E eu sou advinha pra saber que ela não podia, porra? Já falei pra você não trazer teus problemas pra dentro de casa! — o interrompi — Para com isso, tá me irritando já!

— Te irritando de quê, eu tô falando alguma coisa da rua, por acaso?

— Não, não tá falando, mas tem que mudar com a tua família por que? Tua filha é uma criança ainda, tenha paciência com ela porra, se você ouve gracinha na rua o problema é teu, vai soltar teus socos, teus caralhos a quatro lá fora, vai ser o homão que tu põe banca...

— Camila.. — ele me interrompeu mas não liguei

— Aqui dentro tu não vai se criar, não de novo! Tô cansada dessa porra já, você muda tudo, menos esse teu jeito imbecil.

— Imbecil é o caralho, tu sabe o que tá acontecendo pra tá falando uma porra dessas?

— Óbvio que não sei, porque não tenho um marido dentro de casa ué! — ia passando por ele, mas ele segurou no meu braço forte — Me solta, não começa.

— Ah, pra isso eu não sou teu marido né? Então quem seria teu maridinho perfeito? O Bruno?

— Para de babaquice, ninguém falou do Bruno aqui.. — puxei meu braço — Para de colocar em terceiro a tua culpa!

— Vai pra casa do caralho, é isso que eu ganho por pensar nos outros, me fodo! Eu tenho que fazer as coisas que eu quero mesmo, não o quê me mandam só porque vão ficar feliz.. — ele parou, parecendo pensar..

Mas pra quem sabe ler, um pingo é letra né...

— Então é isso né? — bati palmas — Então meus parabéns, Igor.. você quer continuar com a sua vida? Quer fazer o que quiser? Vai lá, faz. Continua nessa vida de merda que tu tem, que tu vai me ver bem longe de tu! — segui em direção a cozinha

— É assim né? Tudo eu que tenho que te servir, tudo eu que tenho que mudar..

— No que você quer que eu mude? Me fala?

— E por que eu tenho que mudar? Tu não me conheceu assim?

— Por que todo dia alguém morre nesse caralho de vida que tu segue, porra, se liga! Meus filhos não merecem sofrer por alguém que não liga pra vida, que não liga pra porra nenhuma! — digo, exaltada — Você não sabe o meu arrependimento de ter te conhecido nessa vida, se eu soubesse o inferno que isso me traria, eu nunca teria me envolvido!

— Então tu deveria voltar pro teu doutorzinho porra, ele não leva uma vida digna? Num fode! — ele gritou e saiu batendo porta.

Isso me corrói, sei que eu deveria pensar um pouco mais antes de falar, na hora da raiva falamos coisas que pensamos e que talvez não sejam ser ditas, mas não dá, o impulso fala mais alto.

Semana passada teve uma chacina num morro aqui perto... O tanto de bandido que faleceu não tava escrito, foram de ralo, literalmente, feitos como bicho. Eu me senti em cada mãe, mulher, família e amigos que choravam a morte de um ente. Eu sei que quem entra pra essa vida sabe o risco que corre, mas depois que eles partem, infelizmente quem fica pra sofrer é a família.

O Igor sair dessa vida não é apenas uma decisão minha, não é por capricho, é por necessidade. É uma coisa que eu vejo que ele não precisa e nunca precisou, um lugar que ele já está fazendo hora extra. Eu não quero perde-lo pra vida do crime, mas também não vou pagar pra ver.

Não entra na minha cabeça como ele ainda pode querer continuar depois de tudo isso, sua culpa é tão grande que ele mal assistiu as reportagens da chacina, ele sabe que isso poderia ser noticiado com ele sendo um dos corpos. Agora me diz, a pessoa tem todos os prós e contras ali na sua frente, é noticiado a cada dia, o que mais ele vai esperar acontecer?!

(...)

Lado Errado Onde histórias criam vida. Descubra agora