Capítulo 9

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                Camila ❁ — Semanas depois .

Se passaram semanas desde o baile. Minha rotina voltou ao normal e até agora mamãe não perguntou nada sobre a "tal volta pra casa depois do baile" e também não contei. Não era necessário na minha opinião já que não vi nada demais.

Talita quer toda sexta ir pro baile, já eu, nem tão cedo. Mamãe liberou eu ir ao pagofunk do morro, que estranhei, pois ela nunca deixava, todo sábado eu vou.

E o Igor... Bem, ele continua o mesmo. Com seu olhar negro e pesado sobre mim sempre. Ele até troca umas palavras as vezes, mas só quando lhe dar na telha ou quando não tem ninguém na sua garupa, se tiver ele finge que nem conhece.

O Léo se tornou meu "amigo". Onde me vê ele fala, brinca, dá carona e até pagou um açaí pra mim e para o Davi em um dia de jogo, mas ele sabe que com ele será apenas amizade. Nunca pensei que um dia eu seria "amiga" de um bandido. Eu tinha um pensamento totalmente diferente do que eles são de verdade, e descobri que eles são apenas pessoas. Ok, que fazem coisas erradas (mais do que o normal) mas eles são pessoas.

— Mila — mamãe disse enquanto secava a mão molhada em um pano de prato — Tem uma colega aqui no morro, que precisa de alguém que olhe a netinha dela de segunda a sexta.

— Criança?

— É. — ela respondeu — Deve ter um ano, dois, quase isso.

— É uma boa ideia? Trazer criança pra cá? — ri, enquanto desviava a atenção para um canal na tv.

— Com tanto que não quebre meus enfeites da estantes — ela sorriu — É bom que você ganha seu dinheirinho.

— E dá pra ajudar aqui em casa..

— Não, seu dinheiro é seu. — ela disse séria — Não precisa comprar nada, até porque eu trabalho pra manter vocês, gasta com você que eu economizo com suas roupas e suas melissas — ela riu e eu também.

— Tá bom, eu olho, só preciso paciência

— Ah é, porque ela não é o Davi que você desce a mão, mesmo eu falando que não — levantou uma sobrancelha — Vou falar com ela hoje quando descer pro trabalho — caminhou até a porta do seu quarto — Leva o Davi na escola pra mim? — assenti com a cabeça e ela entrou para o quarto.

Hoje eu não tive aula, então fiquei em casa e ajudei a mamãe a dar uma arrumada na casa. Como eu disse, minha mãe sempre faz de tudo pra nos dar do bom e do melhor, então tudo, nem que seja no mínimo detalhe que eu puder fazer para fazê-la feliz, eu vou fazer.

(...)

Davi se arrumou e logo estava pronto, pegou sua mochila e saímos, quando começamos a descer a ladeira, Léo parou do nosso lado.

— E aí Camilinha — fizemos um toque — Tava querendo falar contigo mesmo.

— Solta o verbo.

— Pô a Brenda queria falar com você..

— Brenda? Quem é Brenda e o que ela quer comigo?

— O que ela quer eu não sei, só perguntou se eu conhecia alguma Camila que morava na barreira, a única que eu saiba é você.

— Não sei quem é Brenda..

— Mano, é só tu ir lá que tu vai saber..

— Não é cilada não né, Léo?!

— Tá maluca porra? Acha que eu ia te colocar na bola? Tô te dando o papo reto, ela perguntou por tu, se quiser te levo lá.

— Tá, vou levar o Davi na escola e já volto.

— Quando voltar me procura no moto-taxi — ele disse — Te levo lá. — assenti e continuei caminhando ao lado de Davi.

(...)

Desci da moto entregando o capacete ao Léo e logo ele desceu também, retirou a chave da moto e segui caminho entrando numa pequena vila, fiz o mesmo o seguindo.

Assim que chegamos ele gritou pela tal Brenda e logo uma menina saiu com uma nenenzinha no colo.

A menina era linda. Seus cabelos longos e escorridos, sua pele morena como cor de índia, era realmente muito bonita.

Já a bebê era branquinha, porém seus cabelos escorridos e seus olhos escuros aparentava traços com a mulher, deduzir ser filha da mesma.

— Oi, então você é a Camila?! — ela perguntou ajeitando a menina em seu colo — Sou a Brenda.

— Oi Brenda. — apertei sua mão e dei um sorriso fraco

— Então, minha mãe tem uma colega, e creio que você a filha dela quer aceitou a cuidar de uma criançinha — me olhou de cima a baixo — É, você não tem cara de quem é piranha, nem parece que mora aqui no morro..

— Tá maluca Brenda? — Léo se interviu — A mina é mó responsa.

— Tenho que saber com quem minha filha está né! — ela disse óbvia e depois sorriu — Então, Camila, me chama no whatsapp e aí combinamos tudo.

— Ok.

Passei meu número a ela e combinamos tudo, Léo disse que me deixaria em casa então subi na moto...

No caminho de volta, encontramos Igor, assim que bateu os olhos em mim, seu semblante mudou ficando totalmente fechado, mas rapidamente ele virou a cara, fingindo não ligar e continuou conversando com uns garotos da boca.

Assim que chegamos na porta de casa, desci da moto e entreguei o capacete pro Léo.

— A Isabela é uma criança de ouro, não vai ter trabalho com ela.

— Conhece elas?

— E como — ele riu — Conheço a Isabela antes mesmo de nascer, é só dá comida que ela para. — sorrimos

— Valeu Léo.

— Tranquilo, agora vou pro meu expediente, porque sou um trabalhador honesto!

— Sei... É o futuro do Brasil. — digo rindo

— Com toda certeza — ele disse e arrancou com a moto.

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