Capítulo 8

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C

amila ❁

Confesso que no dia seguinte eu estava na merda.

Não por ter bebido, não cheguei ao ponto de beber e dar pt, mas sim de medo.

Depois que o Leozão deixou eu e Talita aqui na porta de casa, eu pude vê a merda que tinha cometido.

Olhando de fora não parece nada demais, mas aos olhos do povo da rua, é.

Todos aqui sabem que não sou de sair, todos conhecem minha mãe e a batalha dela e todos sabem que me desdobro pra me manter no pódio de "filha perfeita", então todos sabem que eu JAMAIS teria amizade com qualquer bandido aqui do morro, como nesses 17 anos eu nunca tive... Pois bem, isso acabou de mudar.

Não digo nem pela Talita, ela e a mãe dela são um caso a parte, são como amigas, cão e gato. Mas digo por mim. Assim que o Léo nos deixou aqui na porta de moto, eu pude vê o olhar de TODOS para mim. É foda sentir pelo olhar de quase vinte pessoas a sensação de estar cometendo um erro. Mas já passou.

Acordei e fui direto tomar banho, tirar todo aquele lápis de olho, rímel e maquiagem borrada, lavar meu cabelo e meu corpo que precisa.

Fui para sala penteando o cabelo quando vi mamãe na cozinha colocando feijão no fogo.

— Acordou cedo — ela disse.

— Que horas tem?

— 11:40— disse — Pela hora que chegou, achei que ia dormir até às seis.

— Viu a hora que cheguei? — perguntei preocupada, mas me mantive estável.

— Você esqueceu que eu acordo cedo, né? — respondeu — Vi sim, só que estava no quarto.

— Entendi.. — respondi, calma — O que tem pra comer?

— Você vai lá na padaria comprar um frango, tô com preguiça de cozinhar. — ela sorriu, saindo da cozinha.

Meu medo era minha mãe estar essa calmaria toda. Minha mãe é a famosa "cadeira que espera a bunda", ela vai esperar um momento certo pra falar algo, ou vai jogar um verde pra poder colher maduro. Sei que uma hora vai chegar ao ouvido dela e por mais "inocente" que pareça, ela vai falar, ou melhor, vai me dá palestra!

Acabei de arrumar meu cabelo e peguei um pacote de biscoito indo até a padaria comprar o frango assado.

Parecia que não era só a minha que não queria fazer comida, pois a fila estava enorme. Falei com os conhecidos e me encostei na parede quando senti aquela moto passar por mim.

— Acordada uma hora dessa? Caiu da cama? — rimos e fizemos um toque.

— Eu não durmo mais do que a cama — sorri — Mas e tu, o que está fazendo acordado?

— Trabalho — ele riu — Tenho deveres a cumprir.

— Ah, entendi. — sorri meio sem jeito

— Só te avistei no canto tu arrochando em — ele sorriu — E aí, vai quando pro baile de novo? Mês que vem é a micareta dos DJ's

— Nunca mais — digo rindo — Um milagre não acontece duas vezes.

— Ah, eu estava certo então.. Tu é filhinha de mamãe — ele sorriu.

— Sou, até demais.

— Já imagi...

— Tá sem trabalho pra fazer né, Leozinho? — O tal menino parou com a moto do lado da moto do Léo.

— Virou meu chefe agora? — ele riu — Camila, esse é o Igor, meu parceiro.

— Tu é a menina que achou que eu ia roubar te irmão né? — ele disse com ar de deboche

— E você foi o menino que segurou meu braço, muito educado — respondi no mesmo tom e ele levantou a sombrancelha

— Tu sabe com quem...

— Opa, vão ficar de viadagem aqui os dois? — Léo se intrometeu — Para com essa porra, morreu o assunto.

Continuei encarando e estalei a língua

— Tá chupando bala? — ele implicou com um sorriso no rosto

— Nem vou me dar o trabalho de te responder! Tô indo pra casa, tchau Léo. — subi o morro sem olhar pra trás.

Cheguei em casa bufando, esses bandidos acham que só porque tem arma e fama de bandido podem falar com quem quiser do jeito que quiser, comigo não!

— Cadê o frango, Camila?

— Ih mãe a padaria tava muito cheia, marca um dez que vou pegar lá.

— Marca um dez, marca um dez — me imitou — Fala direito, garota! — ri e me joguei no sofá0 lo

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