Capítulo 90

1.5K 233 12
                                    

Camila ❁ — meses depois
 
— NÃO DESCONTA EM MIM! — gritei — Já falei pra você não trazer os teus problemas da rua pra dentro de casa!

— Num fode, enchendo a porra do meu saco! — ele se levantou, saiu e bateu a porta.

— Bate mais que ela ainda está aqui, filha da puta! — gritei, sozinha.

Eu sabia que seria difícil, mas não tanto.

Eu e Igor estamos nos estranhando a meses. Voltou a fumar, mas não a se drogar ainda. Quando não chega em casa estressado, chega bêbado.

Isso me trás tantas lembranças ruins do Igor. Aquela gravidez, aquelas brigas... Eu tento afastar todos os pensamentos ruins que aparecem, mas é difícil, cada dia que passa aquele pesadelo se aproxima de novo.

Eu prometi pra ele que não o abandonaria, mas tá tão difícil. Mais uma vez eu passando por cima de todos os meus princípios por ele e agora por nossa família.

O clima tá tão ruim aqui, que minha sogra nem deixa mais a Isa vir pra cá, e eu a entendo, eu também não quero que ela presencie nossa brigas constantes. Ela é maior que o Thomás, já entende muitas coisas.

O Thomás também é raro ficar aqui. Quando não está na minha mãe, está na minha sogra ou na Talita, já que está um grude com essa dinda grávida dele.

Eu sei que os problemas da boca estão sufocando o Igor, e eu super entendo ele viver estressado, mas descontar em mim ou nas crianças coisas que não tem nada a ver, isso eu não aceito.

Na rua ele pode ser o que quiser, mas aqui em casa não. Já que ele não tem jeito, as coisas aqui vão ser do jeito que eu quiser!

O Igor voltou a ser aquele ciumento controlador que era. Se já era ruim na época que eu ainda ouvia as coisas que ele dizia, imagina agora que não escuto.

Ele ainda não me encostou a mão. Digo ainda porque às vezes por um mísero segundo eu tenho a sensação que ele vai chegar a me encostar, mas não encosta. E sim, sempre espero o pior.

Levanto e acabo de lavar a louça, tomei uma aspirina e subi pro meu quarto, vou dormir um pouco, vê se essa dor melhora.

(...)

Ouvi o Igor gritando que nem um desesperado lá em baixo, me levantei e fui para o corredor, olhando para baixo.

— O que você quer, gritando que nem um maluco?

— Achei que já não estava em casa! — me encarou — Tá fazendo o que? — disse, subindo as escadas

— Estava dormindo, Igor. — caminhei para o quarto e ele veio atrás.

— Bora pro baile hoje? — veio me beijando.

— Não, e sai. — o empurrei.

— Por que? Para de palhaçada cara!

— Isso eu digo pra você! Você vai ficar enchendo minha cabeça e eu vou ficar mais puta do que já estou contigo!

— E por que você está puta comigo? — ele riu.

— Não se faz não e sai de cima de mim, cara! — o empurrei novamente e ele beijou minha boca.

— Só queria passar um tempo com você, ultimamente nós só anda brigando pô.

— Ainda bem que você sabe, e o motivo é você mesmo! — ele se sentou ao meu lado.

— Vou nem te falar nada, tu tá tontiando minha mente com esse bagulho! Já falei que é difícil porra! — se exaltou

— Difícil é o caralho, Igor! Eu tô cansada! — me levantei — Tu tá meses nessa porra, dizendo que tem um plano e eu nunca vejo nada, só vejo você se afundando cada vez mais! — abri o guarda roupa.

— Ou, tá fazendo o que? — ele me segurou pelos braços — Tu não vai sair daqui não! — apertou meus braços, enterrando seus dedos em minha pele — Tu não vai sair daqui! — disse entre os dentes.

— VOCÊ ESTÁ ME MACHUCANDO! — gritei — Porra, se liga, Igor! Eu não vou ficar com você vendo você acabar com a tua vida, tu tá testando o Marreta até a hora em que ele te dá um tiro! — ele soltou meu braço — Eu não tô dizendo nem por mim mais, tô dizendo por você, começou a fazer a merda, termina! Eu não quero mais essa enrolação, se você não acabar logo com isso eu vou sair de casa e ainda levo o meu filho, e dessa vez, não tem volta!

Ele parou na frente da porta, impedindo minha passagem.

— Meu filho você não leva! — falou sério, me encarando.

— O MEU filho, não merece um pai merda que nem você está se comportando! Saí da minha frente! — empurrei o seu braço, passando por ele.

O que eu estou sentindo agora eu não consigo explicar. Olhando assim, parece mesmo que peguei pesado com o Igor, mas é totalmente ao contrário. Se ele jogasse limpo comigo, eu ajudaria ele em cem por cento, como sempre ajudei, mas ele não joga. Sempre me esconde as coisas, eu sempre fico sabendo pela boca dos outros! Mas as consequências ele quer descontar toda em cima da família dele e isso eu não aceito!

São meses e meses nisso, tá pior de como era! O papo que está tendo no morro é que o Marreta vive avacalhando o Igor e o Igor só abaixa a cabeça, que porra é essa que o Igor tem com ele?

Eu me sinto uma impotente diante a essa situação. Cara, ele é o meu marido e além de tudo é o meu melhor amigo, deveria se abrir comigo, nós concordamos de sempre dizer a verdade um ao outro, mesmo que doa, mesmo que machuque.

Eu realmente não quero ter que deixar o Igor novamente, porque eu o amo, e o amo mais do que dá última vez. Vai ser horrível desfazer todo os nosso laços, toda nossa história que reconstruímos com tanto esforço, mas com tanto querer. Mas como dá última vez, eu tenho alguém pra pensar além de mim.

Lado Errado Onde histórias criam vida. Descubra agora