Capítulo 65

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Igor ✕

Depois de anos, sabe a sensação de respirar ar livre? De tirar um peso das costas, de se sentir livre? Era essa a sensação.

Eu queria gritar, que saudades de tudo. Nunca achei que sentiria saudades até das broncas da minha mãe por deixar o banheiro molhado, saudades da minha coroa. Da minha filha, da minha família.

Atravessei o portão e já vi o carro do Smith, Léo saiu com uma muleta e veio até a mim, que saudades dos meus manos.

— E aí mano! — Léo me deu um abraço — Saudades em vacilão!

— Lili cantou, filho! — ri — Qual foi? — apontei pro gesso.

— Pipa. — ri, Léo é sempre atrapalhando com esses bagulho de pipa.

Smith já veio me dando um abraço forte, esse era como um pai.

Ele pegou em meu rosto e olhou em meus olhos.

— Faça desse lugar um trauma e nunca mais queira voltar!

— Tá maluco, piores anos da minha vida filho, sou passarinho livre agora!! — ele riu

— Saudades seu filho da puta! — ele me abraçou — Bora, que o morro todo tá querendo te ver!

(...)

Assim que parei na porta da casa da minha mãe, lá estava ela. Com os olhos tão inchados, seus cabelo que viviam curtos agora estavam na altura dos ombros.

E minha pequena que de pequena não tinha mais nada. Seus cabelos estavam grandes e liso como o da Brenda, mas num tom claro. Ela estava alta, meu Deus quanto tempo da vida da minha filha eu perdi?

— Meu filho! — mamãe veio me abraçando, que saudades do melhor abraço do mundo — Eu achei que esse dia nunca mais ia chegar! — ela começou a me observar — Tá gordo ou mais forte?

— Mais forte, eu acho — ri e me abaixei.

A Isa estava atrás da minha mãe segurando em sua perna, será que minha filha não estava me reconhecendo?

— Vem cá filha, vem dar um abraço no papai! — ela colocou o dedo na boca e se escondeu mais atrás da minha mãe.

— Vai Bela, vai falar com seu pai! — minha mãe colocou ela na minha frente, e ela me encarou por algum tempo, mas logo me abraçou.

— Você é o meu papai mesmo? — ela sussurrou em meu ouvido

— Sim, eu sou o seu papai mesmo. — a apertei em meus braços.

— Então promete que não vai viajar nunca mais? — ela disse, ainda abraçada comigo.

— Eu prometo... Nunca mais vou sair do seu lado, eu prometo. — ainda abraçado com ela, as lágrimas caíram.

Minha filha tinha quase cinco anos e não era mais a neném que era quando eu fui preso, já era uma mocinha, a mocinha mais linda desse mundo!

(...)

Nem preciso falar que o churrasco já estava no pique né? Que saudades de beber umas Brahmas, comer aquela carne mal passada com a farofa que só minha mãe sabia fazer... A vida é boa.

Estavam todos aqui, os moleques do morro, as meninas... O Pablo tava enorme mano, essas crianças parecem que esticaram ou eu quem diminuí.

— Brenda veio aqui ontem... — minha mãe disse

— Problemas, já? — ajeitei a Isabela em meu colo, enquanto ela jogava no telefone.

— Até que não... Veio ver a Isabela, perguntou por você, parece que ela tá casada... Ficou reclamando que não pode levar a Isa pra nova casa dela.

— E por enquanto não vai. Enquanto eu não vê que ela tomou juízo, e que seja verdade, a Isabela continuará aqui.

— Mas ela é a mãe, Igor.

— E eu o pai. — falei sério — Já disse que pela minha filha sou capaz de tudo.

Minha mãe me olhou e estalou a língua, dei de ombros e continuei jogando com a Isabela.

(...)

Estava sentado na calçada do moto táxi quando vi Davi e dona Aline subindo, continuei sentado e Davi veio falar comigo, me abraçando.

— E aí moleque, saudades! — abracei ele.

— Eu também estava. Meu aniversário foi ontem, sabia? Minha mãe fez maior festão do Flamengo. — ele dizia acelerado e eu ria.

— É? Feliz aniversário atrasado então, tudo de bom!

— Obrigada... — ele riu — Você já viu a Camila? — respirei fundo.

— Não, não a vi.

— Ela tá bonitona, sabia? Ela tá mais gorda também, — ri — E agora ela tem até...

— Davi! — Dona Aline o gritou.

— Deixa eu ir, ainda tenho treino, depois a gente conversa.

— Valeu, parceiro. — ele sorriu e fez sinal com a mão e voltou correndo até sua mãe.

Eu aposto que ele ia falar que ela estava com namorado novo, o que eu não a culpo, ela deveria mesmo seguir a vida dela, olha quanta coisa eu perdi.

Mas se eu disser que não a amo ainda estarei mentindo. Não teve um dia que não pensei nela, na mesma proporção em que eu pensava na Isabela e minha mãe. A Camila já foi minha família um dia, a melhor parte da minha família também.

O que eu tenho que fazer é seguir minha vida, pensar em dar um futuro melhor pra minha filha.

— Toma... — Nano me passou um baseado — Tá pensando na morte da bizerra, cara?

— Pensando na vida filho... Quando tu é preso, sente saudades até do estresse que tu tem. — digo puxando.

— Imagino.. — ele concordou com a cabeça — O importante é que Lili cantou, só não dá mole de rodar de novo.

— Tá maluco, Deus me livre! — fiz o sinal da cruz — Nunca mais volto para aquele lugar.

— É isso. — Nano falou dando uma tragada.

Olhei pra baixo e logo a vi subindo...

Ela não estava gorda como o Davi falou, estava gostosa e gostosa pra caralho! Seus cabelos não estavam com seus cachos, e sim lisos. Pela sua blusa de alcinha, consegui ver a tatuagem em seu ombro... É, ela se tornou um mulherão mesmo, pois a Camila era tão fraca em relação a agulha. 

Ela também me olhou, me olhou e me encarou que seus olhos pareciam saltar do rosto. Conseguia ver seu peitoral subindo e descendo com sua respiração descompassada.

Logo chegou um homem que a beijou... Ela seguiu a vida dela, e ela não está errada. O cara não parecia ser traficante nem nada, e eu já tinha essa certeza. Camila nunca gostou desse tipo de homem, se encontrar comigo foi uma consequência. Ela sempre preferiu os trabalhadores e não está errada.

— A mina já recriou a família dela, tá feliz. — Nano disse.

— E tá errada? — perguntei — Ela merece ser feliz.

— Tá nada... — ele riu, puxando mais uma vez o baseado.

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