Capítulo 12

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Igor

— Eu não estou nem brincando contigo, Igor — ela disse se afastando

— Faz cu doce não, meu pau é diabético — ela me encarou — Relaxa aí, você não ia me aguentar mesmo.

— Você se acha muito, né?

— Eu não me acho, eu sou.

— Nosssssa — falou debochando — Será que os tiros já acabaram? Eu cuido de uma criançinha, tenho que pegar ela.

— Quem em sã consciência vai sair no meio dos tiros? Fica suave, ela é daqui do morro?

— É.

— Então a mãe dela é trabalhadora, não vai sair no meio do tiroteio.

— Mas a mãe dela não é trabalhadora. Eu olho ela, a mãe dela faz não sei o que..

— Vem cá, qual é o nome dessa menina? — perguntei quase convicto com da resposta.

— Isabela, a mãe dela é a Brenda. — disse — O Léo a conhece, ele quem me levou lá.

— Ah, é?

— Sim.

— Entendi — fui até a janela — Acho que tu já pode ir, os tiros já cessaram.

— Ah, sim.. — ajeitou a mochila nas costas — Então.. é, obrigada

— Minha obrigação é proteger os moradores, foi nada demais. — ela assentiu e saiu.

Fiz meu prato e coloquei no microondas, esquentei e comi, tomei um banho e peguei a chave da moto, indo pra boca.

Cheguei lá, Léo e Nandinho fumavam um balão quando bati nas costas do Léo que se assustou.

— Quer dizer então que você sabia que a Camila que olhava a Isabela.

— Ih, tu não sabia não? — ele riu passando o balão pra Nandinho — Pra mim tu sabia pô, Brenda falou que ia te mostrar a mina e os caralhos. — ele riu — Mas ela te contou pô?

— Fiquei sabendo pela boca da Camila.

— Como ela te falou?

— Ela tava lá em casa hoje?

— Que? O que ela estava fazendo lá? — se assustou

— A maluca estava subindo na hora do tiroteio — ele me encarou — Qual foi Léo, tá me olhando assim por que? A mina só foi na minha casa pô, fiz nem nada com ela, também, não vale meu esforço todo.

— Nada pô, é porque sei como tu é, Camila não é mina pra tu não.

— Ah, é pra você é, né??? Toma nesse cu pra lá.

— Camila pra mim é uma irmã.

— Ata pô, e eu nasci ontem né? Finge que me engana, que eu finjo que tô gostando. — montei na moto — Não vou fazer nada com ela enquanto ela não quiser, sou muleque por acaso?

— Por que logo ela? — ele perguntou — A mina nem faz teu tipo?!

— Quem tem que saber meu tipo sou eu! — respondi, imbicando com a moto.

(...)

— Brenda! — a gritei no portão da casa dela, ela tinha me mandado uma mensagem, pedindo pra passar na casa dela — Oh filha da puta!

— Calma, cara! — apareceu colocando o brinco — Ia te pedir um favor..

— Solta.

— Ia perguntar se tu não dormia com a Isa hoje, vou sair..

— Ih, vai pra onde? — perguntei

— Ih, minha vida te interessa? — filha da puta, custava falar?  — Vai ou não?

— Vou né, porra..

— Então, pega ela lá na Camila, vou te passar o endereço dela, na tua casa tem roupinha dela, então tá tranquilo. Amanhã quando ela voltar da escola, pede pra ela passar na tua casa pra poder buscar ela.

— Não precisa, já sei o endereço dela. 

— Hmmm.. — ela me encarou — Olha lá em, a mina é crente se bobear. — estalei a língua

— Pra que tá se arrumando tanto? Tá fazendo programa, Brenda?

— Vai se foder, Igor. — ela me deu dedo — Tomar nesse..

— É o que? — a encarei — Achei que tinha esquecido que não se manda sujeito homem ir tomar no cu!

— Cuida da tua vida! — ela entrou batendo portão .

Subi na moto e imbiquei pra casa da Camila.

(...)

Assim que virei no beco da casa dela, a avistei sentada no portão com aquela amiga dela que estava no baile e Isa sentada em seu colo, chupando um picolé.

Ela me encarou e vi suas bochechas ficarem vermelhas, só com a minha presença.

Parei a moto mas não desci, a desliguei e sustentei o peso da moto com o meu pé, que estava no parapeiro da rua.

— Pa.. Pai — Isabela abriu os braços ao me vê

— Oi princesa — a peguei pelo braço e cherei seu pescoço — Hum filha, tá  cheirosa. — ela sorriu — Vim buscar ela, hoje ela vai lá pra casa.

— É, a Brenda me avisou. — ela disse, brincando com sua pulseira

— Amanhã quando tu voltar da escola, passa lá em casa e pega ela. — ela assentiu, sem me olhar — Valeu, tchau menina. — Disse pra garota ao seu lado

— Talita pra você! — ela respondeu e dei uma breve encarada enquanto eu colocava a Isa no tanque da moto.

Arrastei pra casa, e já da porta pude sentir o cheiro da comida da coroa.

— Hum princesa, vovó tá fazendo um papa bom! — disse enquanto entrava com ela.

— Papa!!! — Ela disse batendo palmas

Por mais que a Isa tenha um ano e meio, ela não fala direito, por mais que seja bem espertinha.. Diz a minha mãe que vai de criança pra criança, já que ela começou a andar muito cedo, ela demora um pouco pra falar.

— Oi neguinha da vovó — ela secou a mão no pano de prato e veio falar com a Isa — Meu filho, fiquei tão preocupada com você, fiquei sabendo dos tiros hoje.

— Relaxa, não estava no meio não, isso é pros novatos aprenderem a se virar e vê quem é de correr e quem não é!

— Meu Deus Igor, você fala nisso com uma facilidade!

— Ué? Te respondi só. — entreguei a Isa a ela — Isabela vai dormir aqui hoje.

— Tudo bem.. Nossa ela tá tão cheirosa, até que enfim a Brenda tá cuidando dela direito.

— Não, ela fica com uma babá agora, é daqui do morro mesmo.

— Ah, então essa moça da de parabéns, cuida melhor que a mãe! — sorri

— Segura ela aí mãe, vou tomar um banho.

Por várias vezes já pensei em alugar uma casa pra mim, mas eu não sou capaz de deixar a minha mãe sozinha, sabendo que sou a única pessoa de família por aqui da minha mãe, ser filho único nem sempre é vantajoso, né?!

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