Camila ❁ (quatro meses depois)
Meu ódio sobre o Igor nos primeiros meses era acima de qualquer média possível. Toda vez que eu o via eu sentia tanto ódio, minha vontade era de matá-lo, meu coração chegava a acelerar de tanta raiva.
Mas isso passou...
Eu não digo que perdoei o Igor, ainda está bem longe disso, nem que o meu ódio passou totalmente, mas eu aprendi a lidar.
Nesses meses que passaram eu vivi cada fase, a do luto, a negação, o ódio, a analisação e o último estágio, a aceitação.
Eu sempre tive essa filosofia na minha vida e agora ela realmente se aplicou, que tudo que acontece é por um propósito.
E realmente é.
A perca da minha filha me fez amadurecer tanto, eu criei uma responsabilidade que eu nunca achei criaria. Ela me deu uma força, mesmo não estando comigo, aflorou meu instinto de mãe, porque eu sou uma mãe. Mesmo minha filha não estando comigo, eu não deixo de ser mãe, só invertemos o papel.
A fase do luto e do ódio foram as piores pra mim, eu não consegui reagir. O mundo pra mim era escuro, sem brilho. Eu depositei tanto o meu destino em uma vida e quando a perdi, também perdi o sentido da minha.
Eu não conseguia me desapegar de nada, nem mesmo das coisas do Igor. Eu dormia com a blusa dele, chorava encima do berço da minha filha, passava o dia todo assim.
Até que um dia eu já cansada de tudo, tendo os piores pensamentos possíveis, pedi uma luz divina, que eu tivesse um clarão, uma luz no fim do túnel... Eu não queria que isso mudasse a minha vida, mas mudaria.
E um belo um dia eu acordei e não sentia como se minha vida fosse acabar. Sentia uma força, uma motivação... Mas aí deu o espaço para o ódio, e era do Igor, claro.
Eu queimei todas as coisas do Igor que tinha ficado aqui, menos alguns documentos porque sabia que era de importância, mas roupas, objetos pessoas e todas as fotos nossas que achei. Apaguei tudo do meu telefone, desativei meu Facebook, Instagram, só fiquei com whatsapp, eu precisava me livrar daquilo. Foram os dois meses daquele tormento, eu precisava dar a volta por cima.
Eu doei todas as roupinhas, o berço, os móveis, as fraldas, quase tudo. Fiquei apenas com a saída de bebê que quem deu foi a Deise. Eu guardaria mas não como uma lembrança triste e sim, de que eu teria um anjo que cuidaria de mim para sempre.
Logo arrumei um emprego, foi em uma loja numa rua antes da ladeira do morro mas como eles abriram uma filial em Ipanema, então me transferiram pra lá.
Eu sabia que ali era o meu recomeço, que eu seria uma outra Camila, só não sabia como ela seria...
(...)
— Vamos comadre! — Deise jogou a almofada em mim — Faz meses que tu não sai dessa bolha de casa, trabalho... Precisa levantar essa poeira, garota!
— Eu não ia falar nada pra não parecer a chata, mas é verdade, Camila. — Talita disse, mexendo nas minhas maquiagens — Tá pior que velha, depois não entende porque está triste, né.
— Velha é a tua mãe, me dá meu batom — puxei da mão dela — Gente, eu não quero sair, faz tempo que não sei o que é isso... E morar no mesmo morro que teu ex maluco não é uma coisa tão legal..
— Você ainda nada? — Talita perguntou
— Nós não teremos mais nada, Talita. A única coisa que teríamos hoje não está mais aqui.
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Lado Errado
Teen FictionCamila é uma jovem de 17 anos que mora no complexo do Lins junto a sua mãe e seu irmão. Sonha em ser uma fotógrafa e dar uma vida melhor a sua família, mas se ver conturbada ao ter a vida cruzada com Igor, de 19 anos que um garoto da vida errada com...