Capítulo 74

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Camila ❁

— Se ressaca moral fosse crime, tava presa já. — disse chegando na casa da Talita e coloquei Thomás no chão — Boa tarde, comadre.

— Achei que nem ia sair de casa hoje — ela deu um cheiro no Thomás — Mona, o que foi aquilo ontem?

— Te falar? Nem eu sei... — me joguei no sofá — O outro me mandou mil mensagens, visualizei nenhuma.

— Lógico, empatou a foda dele. Fernanda foi embora de moto táxi enquanto ele te deixou em casa. Depois quer negar que sente alguma coisa por ele. — suspirei — É bom não falar nada mesmo!

— Cara, é difícil explicar... — procurei por palavras — O Igor foi a melhor parte da minha vida, mesmo depois de tudo que aconteceu. E o Thomás, sem dúvida nenhuma é a melhor parte da minha vida... E sempre vai ser! — Talita riu.

— Então mona, fala isso logo pro boy. Porque a hora que ele arrumar uma por aí, vai ficar xoxa aí pelos cantos.

— É difícil Talita. Eu não tenho confiança no Igor, e nem sei se ele voltou pra boca de novo... Agora sou mãe, e ser mãe significa colocar os interesses do filho em primeiro lugar. Não quero o Thomás nesse meio. — Talita fez uma cara ruim — Que? O que foi? Igor voltou pra boca?

— Se ele voltou eu não sei, mas que ele já fez uns trabalhos pro marreta, já... Foi com o Léo uma vez.

— É isso que eu falo, cara. — fiquei puta — O filha da puta já foi preso por conta dessas merdas, mas parece que não tem jeito, tem merda naquela cabeça.

— Sei como você deve se sentir amiga, quando ele foi preso foi uma barra mesmo. Mas tu sabe que quem é dessa vida não sai fácil. Vejo isso pelo Smith, hoje ele é mais sussegado né, mas não saiu da vida.

— Mas o Igor tem dois filhos cara, que precisam e vão precisar dele. Aí perde anos da vida preso, e ser preso ainda é bom, Deus me livre morre aí cara!

— Aí Camila. — ela fez sinal da cruz — Tá repreendido em nome de Jesus Cristo! Bate na madeira, garota! —

— Mas é sério! — bati e voltei a encarar — Nessa vida que ele leva, nunca vou ter paz se ele não estiver do meu lado! Aquela dor que passei quando ele foi preso, não quero passar nunca mais!

— Tá, mas que o bofe ainda mexe com teu coração, mexe! — taquei a almofada nela

— Dá um tempo! — ela riu — Tô com fome, peguei o Thomás na minha mãe agora... O que tem pra comer aí?

— Filha da puta do Leonardo saiu pra comprar um frango e até agora nada! Deve tá fabricando no cu dele! — gargalhei.

— O amor de vocês é lindo... Mas e aí, quando vou ter um afilhado da sua parte?

— Se depender de mim, nunca.

— Aí Talita, credo...

— Tu acha que é essa vida que quero pro meu filho, amiga? Só terminei o estudo, não fiz nenhum curso nem nada... Já falei pra ele, se ele quer mesmo um filho comigo ele vai sair dessa vida, porque ele tá demais... Por várias vezes já encontrei coisas aqui dentro de casa, imagina se os canas batem aqui? Ele não pensa nisso!

— Super te entendo... Na minha vez foi foda, falava a beça também, até o dia em que apontei uma arma pra ele... Nunca mais.

— Corajosa... — ela riu — Aí, bebê bom é os dos outros, já tenho o Thomás, não preciso de mais nada.

— Thomás é meu, não conta! — ri

— Conta! Ah, — ela mudou de assunto — Peguei o número da Indira, já tô marcando pra ela vir pra cá de novo, pegar um bailão.

— Falei com ela quando acordei, fiquei hiper envergonhada, deixei a mina sozinha lá.

— Ela marcou com a gente, mas não é a mesma coisa... Mas sem condição de tu ficar lá, Camila. Surtou legal por conta do bofe, chuta o balde toda hora e depois fica assim

— Eu chuto o balde e busco o balde quantas vezes eu quiser, cada um com o seu balde, parceiro!

— Aí, acabou de me confirmar que ainda vai voltar a sentar nesse balde! — Talita riu

— Aí, fica quieta.— coloquei a almofada na cara e ela riu.

(...)

Hoje é segunda e volta a rotina toda ao normal, mas eu estava com uma dor na cabeça de outro mundo. Mas eu preciso ir trabalhar até porquê dinheiro não cai do céu e o Thomás gasta muito!

Já tinha descido o morro e ia atravessar pro ponto de ônibus, quando vi o Igor de moto.

— Ou, vai pra onde? — ele perguntou, assustado.

— Trabalhar né, dinheiro não cai do céu. Por que?

— Tu não vê jornal antes de sair de casa não, garota? Vários caveirão na estrada da Grajaú, daqui a pouco vão tudo brotar aqui, ouviu o helicóptero não?

— Pior que não... — passei a mão no rosto — Tem certeza?

— Acha que eu estou acordado uma hora dessa por que? São cinco e meia da manhã, Camila. — ele ligou a moto novamente — Vem, sobe.

Subi na moto e voltei pra casa, quando chegasse ia ligar pra minha gerente, ela também mora em comunidade, sabe como é isso.

(...)

O Igor parou a moto no meu portão e desci, entreguei o capacete a ele e o encarei.

— Você voltou pra boca? — perguntei, direta.

— Que isso, logo de manhã? — ele me encarou — Por que?

— Só responde, sim ou não — ele ficou em silêncio, me olhando — Anda Igor, responde.

— Não diretamente... — isso foi a gota d'água.

— Mano, o que você tem na cabeça? Caralho, tu já foi preso, ficou anos lá dentro e mesmo assim não aprendeu?

— Não é bem assim, Camila.

— É assim, sim! — digo, rude — Você é um menino inteligente, Igor. Conseguiria um emprego bom, mas tu gosta das coisas fáceis na sua mão. Leva em conta o sofrimento que tua mãe teve quando você estava lá. Agora tu tem outro filho, é mais um tempo que tu perde.

— Agora se importa comigo? Não era tu que algum tempo atrás estava mandando eu sumir da sua vida?

— Tu é o pai do meu filho, vagabundo. — ele riu — Nunca que vou querer teu mal!

— Eu tô falando... Aí dentro ainda bate um coração que me ama, vai por mim! — ele disse debochando.

— Vai pro caralho Igor, vai...

— Se você estiver lá, com todo prazer. — dei um tapa nele e ele riu, entrei em casa deixando ele lá, sozinho.

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