Capítulo 108

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Igor ✕

Filho, agora já sei de onde a Camila é tão surtada mano. Dois pais piroquinha, quer que a mina saia como? Tenho dó é do meu filho...

Roni não brinca em serviço não, mesmo eu sendo genro, ele não tem favorito... Aliás, por eu ser genro é que ele tá mais pegando no pé.

Disse que me quer longe da vida, que quer segurança ao neto e a filha, mas não julgo não, pensaria o mesmo se fosse com a minha filha.

Minha decisão tá próxima disso eu sei. Quero sair sem ter peso de que deixei algo pra trás, dar o bom e do melhor para meus filhos e minha mulher.

Camila umas semanas atrás veio com um papo de que quer começar a faculdade; foi depois da conversa com o Roni, tenho certeza. Eu apoiei, sempre vou querer que ela voe, quem sou eu pra cortar as asas dela?

Quando eu a conheci ela estudava, ela queria ser "alguém" como ela diz, e disse que quer que o Thomás sinta orgulho dela, mesmo eu achando que ele tem todo motivo do mundo pra ter orgulho dessa mãezona da porra que ele tem.

Parei uns dez minutos pra apertar aquele verde, só isso mesmo pra desestressar.

— E aí meu cumpadi.. — Smith chegou do meu lado — Dia corrido?

— E como... Corrido e cansativo, é só o natura pra aliviar, filho.

— Papo é reto...— tragou seu cigarro — Mas e as cria, como vai? E o sogrão? — ele riu

— Porra filho, se eu achava que a Camila tontiava... Roni é mil vezes pior.

— Tinha ideia disso quando foi atrás dele no jaca? — neguei

— Tá doido filhão, primeiro que eu não ia esconder isso dela né... Camila nunca tocou no nome do pai, pra mim era morto ou sei lá... Marreta era tio dela, tem noção? Mundo pequeno demais cara.

— Pra caralho!! — ele tragou novamente — Só de pensar que o filha da puta quase comia ela com os olhos, bagulho nojentão, era parente da mina.

— Nem fala; nessas horas só aumenta o meu prazer de ter matado esse filha da puta a sangue frio. — ele me encarou.

— Já passou teu prazo, acha não?

— Ih ô, dá um tempo.

— Dá um tempo não, porra! Virou moleque agora? — o encarei — Sabe que não vou passar a mão na tua cabeça, né?

— Tô ligado nisso pô, tenho uma promessa pra cumprir. — ele concordou

— Eu gosto é disso, essa correria nunca foi pra tu não, mano.

— Você deveria se ouvir também! Esse foi o ano que um bocado desceu de ralo. Se já viver dignamente é difícil, imagina nessa vida.

— Pablo tá um molecão já! — Smith sorriu — Vai dar um trabalho do caralho pra Deise, já avisei isso a ela!

— E não vai? — sorri — moleque vai ser pit pô!

— Não tá por menos com o Thomás não, Camila vai surtar nesse morrão aqui!

— Nem me fale, filho! — passei a mão na cabeça — Se depender dela, Thomás não namora é nunca!

— Tá fodida então! — rimos

(...)

Cheguei em casa com aquele cheiro de comida que só a minha mulher sabe fazer. Quem diria que eu teria tudo isso novamente, obrigada meu Deus, nem sei se sou merecedor de tudo isso!

Abri a porta e Camila estava de costas, mexendo no fogão. Cheguei por trás e beijei seu pescoço, ela logo se arrepiou..

— Igor... — ela suspirou — Pera aí, se eu queimar aqui a culpa é sua! — ela sorriu

Abaixei o fogo e a virei pra mim, beijando seus lábios.

— O que tu quer, cretino? — ela disse, sorrindo — Aprontou na rua? — me encarou.

— Tá maluca? — a beijei de volta — É só pra lembrar que te amo mesmo, amo a nossa família... Amo a vida que tenho com vocês.

Os olhos da Camila brilharam.

— É difícil querer mentir pro coração, sabia? Nunca na minha vida eu achei que estaríamos assim novamente... — passou seu braço pelo meu pescoço — Quero tu pelo resto da minha vida mô, sem brincadeira...

— Amor... — olhou em meus olhos — Eu tenho certeza de que te amo, amo muito mesmo... Mas você sabe, Igor.. eu não quero mais promessas frustradas, sabe? Não quero imaginar mil planos pro futuro e não poder dá o ponta pé inicial, você sabe né? — concordei.

— Eu sei, sei o que eu prometi, sei o que tenho que cumprir... — ela concordou — e você, já viu o bagulho da faculdade?

— Não... — ela suspirou, desligando a boca do fogão — Amor, você levou fé quando falei?

— Não vem não, Camila.. — sentei na bancada — Eu sei quando você fala uma coisa na flor da emoção, e quando você quer mesmo fazer uma coisa. — ela me olhou — Você quer fazer a faculdade.. vai logo mô, quero ficar mais orgulhoso do que já estou de você. Tu vai usar aquele bagulho de chapéu também quando se formar?

Ela me olhava, sorrindo, devia tá me achando o maior idiota possível.

— Caramba cara... Eu amo você...— ela disse, se aproximando — Amo mesmo!

— Bora fazer uma viagem? Só nós dois?

— Tá falando sério?

— Só falta tua resposta pô.

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