Igor ✕ (dois meses depois)
Está cada vez mais difícil lutar para viver. Faz dois meses que tudo aconteceu, dois meses que minha filha virou um anjo, dois meses que perdi a mulher da minha vida para sempre, dois meses que perdi totalmente o meu rumo, dois meses que quase perdi minha vida.
Depois da facada que a Camila me deu, eu não lembro de muita coisa, eu só lembro até a parte de vê-la indo embora e logo depois disso eu apaguei.
O problema foi bem mais grave que eu pensei, mais um pouquinho e podia pegar no meu fígado. O que por fora era um machucado pequeno, por dentro era uma coisa muito maior.
Eu não podia ir pra nenhum hospital público, então o Léo me levou pra um hospital particular, em Ipanema. O risco foi grande, o tempo de demora, o risco de parar numa blitz. Eu fiquei uma semana e meia internado e mais cinco dias em observação. Isso que a Camila queria, que eu sofresse pelo menos um terço do que ela está sofrendo e eu nem imagino o quanto é isso. Eu não a culpo e entendo, só ela mesmo sabe o mal que tanto fiz.
Em falar nela, ela nem olha na minha cara por querer. Todos os dias vejo ela subir de um trampo que arrumou, seus olhos vivem inchados que parecem que ela chorou o dia/noite toda.
Mas ela chora...
Minha mãe me disse que ela ainda não se livrou de nada do bebê, não doou os móveis, as roupinhas, nada. Eu juro que não queria causar essa dor a ela. Eu juro.
Mas agora, do que minha palavra basta?
É super difícil conviver com duas personalidades guerreando dentro de você. Eu, em sã consciência, nunca faria isso com a Camila, NUNCA.
Tínhamos nossos pegas pra capar? Tínhamos. Mas todo mundo sabia que uma família com a Camila era tudo que eu sonhava, ela era a mulher da minha vida.
Mas eu mesmo a perdi.
Ser dependente químico não é fácil, é muito mais fácil os demais apontar dedo e julgar, mas não vem um te estender a mão, disposto a te ajudar.
Eu sei que eu sou o maior filha da puta dessa terra, que o que eu fiz a Camila e a mim mesmo não tem perdão, e eu terei que conviver com isso, conviver com as consequências dos meus atos.
Mas todo dia eu travo uma luta interna para não me render a esse vício novamente, mas não dá, foge do meu controle e depois de usar, eu não tenho mais controle sobre o Igor que habita em mim... Me perdoa, mãe. Por não ser o filho que a senhora sempre sonhou...
(...)
Era uma noite de chuva estava sentado enfrente o portão da casa da minha mãe, meu rosto estava sangrando em todas as partes, eu tinha entrado numa briga e bem... Não me saí muito bem.
Tinha acabado de puxar dois pinos e estava com um balão na mão, eu já estava bêbado, já estava entregue na mão do palhaço.
O vento era forte e com a chuva ele tomava mais força.
Minha mãe estava indo fechar a janela do meu antigo quarto que agora era da Isa, assim que me viu, ela parou, me encarou e balbuciou meu nome, vindo correndo até a mim.
— Meu filho... — ela chegou até a mim, parou imóvel quando viu meu rosto — O que aconteceu, Igor?
— Me machuquei... — respondi, sem olha - lá.
— Como assim você se machucou, Igor? Seu supercílio está aberto, o seu nariz está inchado, o que você está fazendo na chuva? — ela pegou minha mão, me puxando — Vem meu filho, vamos.
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Lado Errado
Teen FictionCamila é uma jovem de 17 anos que mora no complexo do Lins junto a sua mãe e seu irmão. Sonha em ser uma fotógrafa e dar uma vida melhor a sua família, mas se ver conturbada ao ter a vida cruzada com Igor, de 19 anos que um garoto da vida errada com...