Capítulo 73

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Capítulo 73

Quarta-feira// 09:09pm

– Tristan Tyler

A última coisa que ouvi ontem antes de desmaiar na cama devido a uma tontura, foi a voz irritada do meu pai ao descobrir que eu tinha sido suspenso. E, incrivelmente, não me lembro de ter ficado triste; eu lembro de ter ficado puto.

Muito, muito puto.

Principalmente porque cada palavra que ele disse foi quase igual aos comentários que eu lia todos os dias nas redes sociais.

Ele disse que a única preocupação que eu tinha era estudar e até nisso eu conseguia falhar. Também me chamou de mimado e dramático.

Tive que me segurar para não chorar para não dar razão às palavras escrotas e cruéis dele. Minha mãe tentou fazer com que ele parasse de falar essas coisas, porque a culpa não era minha e que eu ainda estava abalado por causa do incêndio na mansão, mas nem isso adiantou.

Mas quer saber? Eu estou com muita raiva do meu pai, mas não consigo evitar os meus pensamentos me dizendo que ele estava certo.

Outra pessoa que também estava certa nessa história era o Jack.

Por mais que ele seja um filho da puta, não consigo tirar a razão dele. Meu pai nunca esteve presente em quase nenhum momento da minha vida e quando estava era para me julgar ou me humilhar. Como ontem.

Não aguento mais isso. Eu só queria fugir e me livrar de tudo isso. De toda essa pressão, medo e dor de cabeça.

Tudo o que eu estou vivendo parece que está sendo escrito pelos outros. Eu não posso usar as roupas que quero por causa das tatuagens, eu não podia comer nada porque tinha que manter o "padrão" do maldito personagem, não posso falar o que eu penso porque tudo o que falo está errado ou é inapropriado.

Eu era sempre o vilão que gostava de se fazer de vítima. Eu nunca tinha o direito de sentir minhas dores porque se não era massacrado pelos outros.

Jack estava certo. Eu não era nada. Eu não era ninguém. Eu não passava de um fantoche que estava vivendo a vida para tentar agradar os outros.

Tudo o que que queria era uma vida normal, livre das amarras da pressão e do constante medo do julgamento alheio.

Eu queria ser como Jack, Bianca e o garoto da farmácia, o Matteo. Eles eram  pessoas que pareciam viver sem se importar com as opiniões dos outros. Eles se divertiam. Eles viviam.

Enquanto eu desejava sinceramente poder me expressar livremente, sem medo de ser rejeitado ou criticado.

Só quero viver, ser verdadeiro comigo mesmo e com os outros.
Eu quero ter uma existência em que pudesse ser reconhecido como alguém, não apenas um fantoche que tentava agradar a todos ao meu redor.

E acima de tudo, ter meus amigos de volta e encontrar pessoas que me entendessem.
Quero achar o tão sonhado lugar onde posso viver sem restrições impostas pelos outros e ser livre de verdade.

Continuo olhando para o teto e me perguntando se valia a pena sair na cama naquele dia.

Nem meus pais e nem Alice estavam em casa. Ninguém dos funcionários iria me incomodar.

Eu poderia dar um pulo na piscina... ou na academia...

Eu precisava fazer alguma coisa que me tirasse daquele tédio e daquela sensação de fracasso.

Começo a sentir uma sensação de enjoo crescente, que se intensifica rapidamente. Minha boca começa a salivar ansiosa, e uma sensação de desconforto toma conta de meu estômago.

Pouco de VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora