Capítulo 123

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Capítulo 123

Quarta-feira
23h16.

– Tristan Tyler

Sinto-me vazio, como se tivessem arrancado toda a vontade de existir de mim. Não consigo imaginar um depois, e isso me deixa perdido no agora, absorto em um mundo que parece não ter propósito, um mundo que não parece ser meu.

Todo esse tempo, vivi para os outros.
Aqui não é meu lugar.

Despedacei a rosa que estava em minhas mãos, os espinhos rasgando minha pele frágil, mas nem isso eu sentia. Nenhuma dor.

Roubaram tudo de mim. Todos eles têm culpa.

Enquanto eles permanecem ilesos, dormindo em suas camas sem preocupações, eu me vejo encarando as consequências de um problema que não criei.

Aqui estou, tentando juntar meus cacos sozinho, enquanto cada fragmento corta mais fundo. Aqui estou, morrendo, sem esperança de um dia me reconstruir.

Afinal, durante todos esses anos, foi Brad quem me deu forma. Agora, ele se foi e, por mais doloroso que seja admitir, ele estava certo sobre tudo o que disse. Ele me deu um propósito de vida. Sem ele, eu não existo. Sou apenas isso agora: uma pessoa completamente oca.

Ouço um sussurro suave e olho para o lado, vendo Alice parada na porta, hesitante, como se estivesse com medo de se aproximar. Ela observa cada movimento meu com um olhar de preocupação.

Deixo escapar um suspiro, ignorando-a, e volto a admirar a piscina, tentando a todo custo evitar olhar para minha irmã.

Ela é tão perfeita. Tão inteira. Tão completa. Ela é a bênção na vida de Eliza Tyler e Peter Robinson.

— Posso ficar aqui com você? — Ela pergunta, sua voz quase se perdendo. Fico em silêncio, mais uma vez, desejando que ela desapareça.

Por favor, apenas volte.

— Você não precisa falar nada, eu não vou falar nada. Só me deixa ficar. — Ela implora, e a dor em sua voz é perceptível.

Pouso a mão no rosto, esfregando o olho, sentindo uma aflição crescente tomar conta do meu peito.

— Alice, volta para o seu quarto. — Peço, a voz embargada pela tensão.

Tristan, por favor! — Ela se aproxima, e eu cravo minhas unhas na carne do meu pescoço. — Por favor! — Implora mais uma vez, sua voz falhando. — Eu não suporto mais viver nessa distância! - Faz uma pequena pausa. - As pessoas me perguntam de você sem parar... — Sussurra. — E é doloroso não saber o que responder sobre meu próprio irmão...

— É doloroso agora porque não pode mais culpar a minha "rebeldia". — Julguei, a amargura transbordando nas palavras.

— Você nunca vai me perdoar, não é? — Ela indaga, mas eu fico em silêncio. — Tudo bem, pode me odiar. Eu não tiro a sua razão e nem o seu direito...

— Acho que o perdão só é válido quando a pessoa também se perdoa. E eu nunca vou me perdoar, Alice. Nunca vou me perdoar por ter me submetido a tanta desgraça quando na verdade... — Minha voz falha, e eu tento a todo custo não desabar em lágrimas. — Eu nunca mereci nada disso, mas ainda assim, eu fiz... eu deixei. Por você, pela mamãe... — Começo a olhar para frente, sentindo as mãos de Brad em mim, me incomodando com as almofadas do sofá.

— Eu entendo que você fez tudo para me proteger... — Ela sussurra após um longo período em silêncio, e eu solto um riso amargo.

— Se você entende, por que me condenava tanto? — Cuspo, finalmente a encarando. Seus olhos verdes brilham no meio da escuridão, cheios de lágrimas não derramadas.

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