Capítulo 113

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Capítulo 113

Sábado

21h46

– Bianca Müller

Tristan estava sentado na grama, seu braço esticado enquanto traçava os contornos das estrelas no céu noturno, uma suave melodia escapando de seus lábios enquanto cantarolava baixinho.

A cena era encantadora. Ele era encantador.

Me aconcheguei no peito do loiro e repousei minha cabeça em seu ombro. Estávamos na mesma posição de quando ele penteou meus cabelos, e eu tenho que admitir que gosto de estar ali. Afinal, Tristan era uma pessoa... confortável.

Geralmente, as únicas pessoas com quem eu gostava de me agarrar assim eram minha mãe e Mikaela, mas a presença de Tristan era uma coisa tão bonita no meio de toda aquela bagunça, e foi por isso que decidi ficar.

— Você sabe no que estou pensando...? - Tristan perguntou, enquanto eu começava a deslizar meu dedo pela sua mandíbula bem desenhada.

Deus tem seus favoritos...

— Eu vi patins de gelo no seu quarto. - Ele mencionou, antes de me encarar com um sorriso. - Não sabia que você patinava.

— É, eu gostava. - Desviei o olhar.

— Você ainda patina? Ou parou por causa do balé? - Arrumou sua postura, começando a brincar com o meu cabelo.

— Eu parei. - Confessei, envergonhada.

— Por qual motivo?

— Porque quebrei o braço tentando fazer uma manobra e fiquei traumatizada. - Brinquei e o loiro me observou, horrorizado.

— É sério?

— Não. - balancei a cabeça. - Quer dizer, sim, eu quebrei o braço uma vez tentando fazer uma manobra, mas não foi por isso que eu parei. Na verdade, mesmo depois de quebrar o braço, eu ainda não desisti de fazer a manobra. - expliquei, sorrindo.

— Então, como você saiu da patinação para o balé? - Indagou outra vez, e eu soltei um suspiro profundo.

— Adivinha. - Fizemos uma longa troca de olhares, como se estivéssemos conversando sem palavras.

Tristan apertou os olhos antes de arriscar um chute certeiro.

— Eu ia dizer um ex namorado... - Ele rompe o silêncio, e eu não deixo de torcer o rosto. - Mas minha intuição está me dizendo que tem a ver com a Mikaela. - empinou o nariz e sacudiu o dedo.

— Queria ter uma intuição tão boa quanto a sua. - elogiei, e Tristan soltou um risinho.

— Eu recomendo. Já descobri muita coisa graças a essa minha intuição. - Se gabou. - Mas me conta essa história. - pediu. - O que a Mikaela tem a ver com isso?

— Antes do rosa do balé, o meu mundo inteiro era azul da patinação no gelo. - Coloquei minha mão na coxa de Tristan. - E do lado da minha casa, morava um garoto... - dei uma pausa. — E eu era apaixonada naquele menino e fazia de tudo pra chamar a atenção dele. Ele gostava de jogar hóquei, por isso que comecei a patinar. De início, não curti muito, mas depois eu fui me apegando quando via as garotas mais experientes tentando fazer aquelas manobras olímpicas. - contei e escutei Tristan resmungar alguma coisa. - Então, fui me dedicando mais e mais só pra mostrar para elas que eu também era boa ali. - dei de ombros, soprando um riso. - Eu não consegui impressionar o garoto, mas pelo menos fiquei boa em algo.

— E a Mikaela?

— A Mikaela amava o balé, mas nessa época, ela estava um pouco afastada de mim. Parecia estar com raiva. Era justo, já que eu passava a maior parte do meu tempo tentando agradar um garoto ao invés dela. Foi daí, que eu larguei a patinação por um tempo e comecei a fazer balé para dar companhia pra ela. Eu gostava de dançar, e comecei a focar nesse sonho de bailarina. Fiquei obcecada pelas sapatilhas, as apresentações que assistia na Internet, por tudo. Só que depois, a Mikaela largou a dança porque escorregou e bateu a cabeça no espelho. Ela ficou  "traumatizada" e chorou por um mês inteiro, mas eu segui. - Fechei os olhos, escutando o grito desesperador e rasgado de Mikaela daquela noite.

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