Capítulo 5

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Capítulo 5

- Tristan Tyler // 07:56h

Eu tentava ignorar a voz do professor explicando a primeira matéria do ano para uma garota, que se eu não me engano acho que era novata. Ele falava tão alto, quase gritando.

Soltei a caneta em cima do caderno, parando de copiar a tarefa escrita no quadro, percebendo que não ia ter jeito.

A voz dele era irritante e iria me atrapalhar de qualquer jeito. Ele falava e falava. No meu ponto de vista, aquilo eram palavras jogadas ao vento. Passei a mão pelo rosto, me segurando para não mandar ele calar a boca.

Suspiro e tento disfarçar quando o olhar do professor de inglês cai sobre mim.

Faço a minha típica cara de paisagem atenta. Balanço a cabeça e finjo que estou entendendo toda a matéria. Ele desvia o olhar, parecendo satisfeito ao ver que alguém tinha entendido o que ele falava.

Mas alguém entendendo ou não o que ele diz, o salário sempre cai na conta dele, não é?

Olho para o lado e vejo Alice na fileira do canto da sala. Sua mão balançava a caneta enquanto ela olhava atenta para o professor.

- Então, alguém tem alguma dúvida? Se tiverem, falem logo. - Ele questiona, olhando para a turma.

Ele passou a matéria quase 5 minutos atrás, não esperou ninguém ao menos terminar de copiar pra poder se concentrar. Como alguém vai entender?
E claro, se a pessoa parar de copiar pra prestar a atenção e ela acabar se atrasando, eles falam até ficar sem voz.
E eu não tô preparado pra aguentar isso o ano todo.

Assim que ele finalmente cala a maldita boca, levanto a minha mão, chamando a atenção do homem mais velho.

- Posso ir ao banheiro? - Pergunto e ele faz um sim com a cabeça.

Assim que abro a porta e saio da sala, tenho a impressão de que o ar muda. Tudo parece ficar mais leve e por isso, ando o mais devagar que eu posso no caminho do banheiro. Não estou com pressa para voltar para a sala de aula. É o primeiro dia de muitos ainda.

No corredor, consigo ouvir as vozes de inúmeros alunos dentro das salas de aulas. Conversas, risadas e barulhos comuns de escolas.

Vejo a porta do banheiro masculino mais a frente, mas não acelero meus passos. Quando chego, a primeira coisa que eu faço é olhar meu reflexo no grande espelho e eu odeio a imagem que eu vejo.

Ergui meus braços e os avanço em frente ao espelho, enquadrando o meu rosto. Os fios loiros arrumados; uniforme impecável; o relógio brilhante e caro no meu pulso.

Eu definitivamente odiava o que via. Era a mesma sensação ruim e estranha que eu tinha nos eventos. Assim como a mesma pergunta que se passava na minha cabeça várias e várias vezes:

Será que aquilo realmente era eu, ou apenas algo esculpido para os outros?

Me afastei e andei até uma das cabines vazias. Fechei a porta em um baque alto e me sentei na tampa do vaso, olhando para o chão.

Será que eles tinham razão?

"Riquinho mimado"
"Infantil"
"Sem graça"
"Superficial"

Não! Não! Não! Não!

O silêncio da cabine me deixava atordoado, pois provocava um caminho aberto para as centenas de coisas gritando na minha cabeça.

- Não, pai! Não fui eu! - ouço uma segunda voz dentro do banheiro. Ah, era o Christian. - Acha mesmo que eu iria tirar algum dinheiro da conta da empresa sem a sua permissão? Claro que não, né!

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