Capítulo 70

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A aula passou devagar. Devagar demais.

No recreio, Nia pediu desculpas a Nan por deixá-la e puxou Gilbert para a casa dele.

Na metade do caminho, ele parou e puxou a garota para si, antes de apoiar as costas dela delicadamente em uma árvore.

- Oi meu amor - sussurrou, seu corpo colado no dela, uma mão em seu quadril e outra na parte detrás do pescoço. As bochechas de Tania ficaram vermelhas.

- Oi - ela respondeu, rindo de como estava nervosa - vem sempre aqui? - ele riu um pouquinho também.

- Só quando quero muito te beijar - falou, lambendo os lábios ao olhar para a boca da garota, que engoliu em seco, se lembrando de como seus lábios estavam secos e rachados, e de como as meninas tinham medo de beijar errado; será que deveria ter medo também? - você parece estar com a cabeça em outro lugar - se afastou um pouco - está tudo bem?

- Tudo - se apressou em responder. Gilbert se afastou mais um pouco - sério Bert, tudo ótimo - subiu nas pontas dos pés para ficar cara a cara com ele - tudo perfeito - murmurou.

- Certeza? - se afastou completamente - Parece mesmo ter algo de errado - insistiu. Tania suspirou. Decidiu ser direta.

- Eu beijo bem? - ele franziu a testa.

- Que tipo de pergunta é essa? Eu gosto muito de te beijar, se é isso que quer saber - segurou a mão dela para continuar andando - por quê? - Nia deu de ombros, mas respondeu.

- As meninas estavam conversando sobre como tem medo de beijar mal e fazer algo errado, e eu percebi que nunca pensei nisso e que talvez estivesse fazendo tudo errado e você só não quisesse me dizer - ela alternava o olhar entre o pé direito e o esquerdo - além disso, lábios deveriam ser convidativos, e os meus estão rachados e brancos. E você passou um tempão longe e deveria estar com expectativas altas para quando me visse, mas eu estou com olheiras e pálida e rouca e- o Blythe entrou na frente dela e tocou o dedo indicador em sua boca para fazê-la parar de falar.

- Está realmente com medo de que eu te ache feia, é isso que estou ouvindo? - um sorriso brincava no canto da boca dele.

- Não ria de mim! - Gilbert caiu na gargalhada, apoiando a testa na dela. Ele teve que respirar fundo algumas vezes para ficar sério de novo.

- Tania Volkova Stacy, olhe pra mim - pediu. Ela, com um bico, ergueu os olhos pra ele, que ainda estava com um sorriso brincalhão - você é a pessoa mais maravilhosa de todo o universo, e se ousar duvidar disso outra vez, vou amarrá-la em uma cadeira e passar dias listando todos os milhares de motivos pelos quais eu amo você. Entendeu? - Tania abriu um sorriso bobo.

- Cale a boca - empurrou-o para o lado e continuou andando, abraçando o próprio corpo. Depois de alguns metros caminhando juntos em silêncio, ela viu uma árvore suficientemente larga. Empurrou Gilbert contra o tronco, se encaixou entre as pernas dele, segurou seu rosto com as duas mãos e o beijou. Sem perder um único segundo, Blythe colocou uma mão na base da coluna dela e a puxou mais para perto - eu te amo - sussurrou entre o beijo. Bert subiu a outra mão para a nuca dela e agarrou a raíz de seus cabelos, segurando-a para beijá-la com mais intensidade. A Stacy deixou uma das mãos descer do rosto dele para o peitoral, sentindo os músculos marcados que o trabalho no barco lhe dera.

Eles tiveram que se afastar para recuperar o folego, mas as mãos continuaram aonde estavam. Gilbert observava Tania como se ela fosse um raio de sol em uma eterna noite, e tirou a mão da nuca de Nia para encaixar atrás das orelhas algumas mechas de cabelo que estavam tampando o rosto dela.

Ainda ofegante, o garoto a beijou de leve, apenas roçando os lábios, antes de descer os beijos suaves até a mandíbula e a parte do pescoço que não estava coberta pela blusa.

- Isso é impróprio? - ela perguntou, refletindo.

- Hm? - se afastou para olhar para o rosto dela.

- Nos beijarmos mesmo que não estejamos cortejando - explicou.

- De onde você tirou que não estamos cortejando, senhorita Tania Stacy?

- Então estamos?

- Estamos? - ele devolveu a pergunta. Tania o beijou de novo. E de novo, e de novo e de novo.

- Sim - respondeu por fim, se perdendo novamente nos olhos castanhos - isso significa que devemos nos casar? - arregalou os olhos. Por algum motivo, Nia se sentia como uma criança assustada; ela não fazia ideia de como as coisas funcionavam.

- Significa que queremos, um dia - explicou pacientemente, amando como sempre aquele lado vulnerável e preocupado dela, assim como amava todos os outros - e que estamos interessados em nos relacionar apenas um com o outro - aproximou o rosto do dela - minha Tania - a menina riu.

- Meu Gilbert - devolveu, colando novamente seus lábios nos do Blythe.

Passaram mais alguns minutos abraçadinhos, entre risadas e beijos, até Gilbert perceber que a namorada estava batendo os dentes de frio e decidir que poderiam continuar aquilo em casa.

Ao entrar, encontraram Bash sentado numa cadeira de balanço em frente à lareira, envolto em uma manta.

- Chegaram cedo - ele falou, os dentes rangendo.

- A aula estava chata - a Stacy respondeu, se perguntando quem era aquele e o que ele estava fazendo ali.

- Eu te avisei sobre o inverno canadense - puxou Tania para si e beijou a têmpora dela.

- Não. Não assim, Blythe. Não assim. Esse sol não é de verdade; não emite calor, não esquenta, não faz nada; só brilha feito uma lanterna no céu - a morena sorriu. Ela entendia - e o ar. O ar quer me matar! - a garota riu alto - ..Esse é o amor da sua vida? - perguntou. Bert assentiu, ainda apertando a cintura dela - Caramba Blythe, agora entendo porque está tão apaixonado - estendeu uma mão trêmula para Nia - me chamo Sebastian, Tania Stacy, e estou extremamente encantado em conhecê-la. Gostaria de estar conhecendo-a em condições melhores, respirando um ar que quer ser respirado, mas ainda estou feliz por conhecê-la.

- Você tem sorte de ter me encontrado, Sebastian, pois eu conheço todos os cobertores mais quentes dessa casa - piscou para ele e correu escada acima para pegar os edredons grossos, pesados e peludos que ficavam guardados no armário do corredor.

- Ela é quase tão friorenta quanto você - Bert explicou, olhando para a Stacy com um sorriso - nem parece que nasceu aqui.

- Como bebês sobrevivem a este gelo, Blythe? Isso não é de Deus, não é não - sacudiu a cabeça em negação. Gilbert riu, e Tania o acompanhou enquanto enrolava um cobertor nas pernas de Bash, um nos ombros dele e um nos próprios ombros.

- Logo logo vai esquentar - ela garantiu - aceita chocolate quente? - os olhos de Gilbert começaram a brilhar um pouco mais.

- Eu aceito - se apressou em dizer.

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora