Capítulo 74

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- Você é boa - Gilbert disse assim que ela terminou de falar. Tania respirou fundo e olhou nos olhos dele, em busca da prova de que estava mentindo. Mas aquele era um olhar honesto. Eram olhos honestos de uma pessoa honesta, que a amava e achava que ela era boa - eu também não sei o que fazer, meu amor, mas sei que eu não vou deixar você se sentir assim de novo. Nunca mais - e a abraçou - você é tão forte, querida - disse, porque ela era. Porque ele a admirava demais - mas não precisa ser, está bem? Não comigo, sabe disso - falou, lembrando-se de quando ela lhe dissera aquelas mesmas palavras a tantos meses atrás - eu amo você, ouviu? Rindo ou chorando, eu amo você - finalmente separou o abraço para olhar nos olhos dela de novo. O verde sempre ficava mais vivo quando ela chorava, pois ficava rodeado de vermelho; suas íris pareciam brilhar.

- Você não para de falar isso desde que chegou - Nia observou, fungando.

- Estou compensando todas as vezes que não falei ao longo do ano. Eu te amo - beijou o nariz dela - eu te amo - a testa - eu te amo - uma bochecha - eu te amo - a outra - eu te amo - o queixo - eu te amo - a boca.

Tania desceu da cadeira, se ajoelhou em frente a Gilbert para ficar da altura dele, e o beijou. Foi salgado e molhado, porque os dois estavam chorando, mas foi bom. As estrelas estavam de volta para dançar nos lábios dela.

Sebastian olhava pela janela. Aquele momento não era dele para observar.

A Stacy precisou parar o beijo porque sua respiração ainda estava entrecortada. Ela invejava Anne naquele quesito: quando parava de chorar, Nan parava para valer; qualquer resquício de choro sumia de seu rosto imediatamente. Já sua irmã, ficava com os olhos inchados e vermelhos por horas.

Antes que a namorada pudesse reagir, Bert a pegou no colo e carregou até o sofá, se sentando na ponta para apoiar a cabeça dela sobre as próprias pernas e lhe acariciar os cabelos.

Enquanto o casal se olhava silenciosamente, Bash levantou da cadeira onde estava sentado para encher novamente o copo onde Nia havia bebido e levá-lo para ela.

Quando notou o amigo se aproximando, Blythe ajudou Tania a se endireitar para beber a água.

Com as mãos surpreendentemente firmes, ela pegou o copo e o esvaziou em duas goladas.

- Obrigada Sebastian - agradeceu com a voz falha, antes de apoiar as coxas lateralmente nas de Bert e deitar a cabeça no ombro dele, que passou um braço ao seu redor e colocou o copo no braço do sofá com o outro, antes de segurar as duas mãos dela com a sua. Estavam congelando.

- Pode pegar um cobertor, por favor, Bash? - o homem assentiu e embrulhou o próprio cobertor na Stacy, cuja cabeça doía de chorar. Gilbert ajudou-a a se deitar novamente com a cabeça no colo dele e voltou a fazer cafuné nela - Descansa, meu amor - pediu. Ela tentou negar com a cabeça, mas ele insistiu - pode dormir, querida. Ainda vou estar aqui quando você acordar - os lábios de Nia tremeram, mas ela nada disse.

Não demorou muito para que caísse no sono, segurando a mão livre de Bert com as suas duas, sobre a clavícula.

Ele não parou o cafuné, nem mesmo quando ela começou a roncar baixinho.

Bash estava sentado no chão, observando rosto vermelho da jovem.

- Quando a vi chorando, não imaginei que fosse por um motivo tão complicado. Pensei que você tivesse dito alguma besteira.

Blythe sorriu tristemente.

- Eu queria que esse tivesse sido o motivo.

Pelas bolsas escuras que rodeavam os olhos de Tania, dava para perceber que ela não dormia profundamente o suficiente para roncar a semanas.

- O que disse que o nome dela significa mesmo?

- Rainha das fadas.

- Apropriado. Você conseguiu uma garota bonita, gentil e inteligente, Blythe. Não deixe que ela sofra.

- Eu achei a garota perfeita pra mim, Bash. Que me ama, além de tudo. E vou fazer o que estiver ao meu alcance para protegê-la, pode ter certeza disso.

...

Quando Tania acordou, duas horas depois, Gilbert ainda estava fazendo carinho no cabelo dela.

- Oi Bert - disse, rouca, e ergueu a mão para tocar o rosto dele.

- Oi Fadinha - desceu a mão do cabelo para o rosto dela, acariciando suas sobrancelhas, nariz e boca. Nia tentou mordê-lo, mas ele tirou o dedo bem a tempo, e ela riu - dormiu bem?

- Sim - piscou devagar, sentindo as pálpebras ainda pesadas - que horas são? - o menino olhou o relógio.

- 01:32 da tarde.

- Eu deveria estar em Greengables - falou com um suspiro.

- Almoça aqui. Bash está fazendo carne e algo que ele chama de 'farofa', que conheceu no Brasil. Comprou um quilo de farinha importada de mandioca, o que quer que isso seja, para fazer a tal farofa. O preço indica que é deliciosa - disse, rindo de leve. Ela riu um pouco também. O sorriso dele a fazia querer rir.

Preguiçosamente, a Stacy ficou de pé e se espreguiçou. Girou o tronco de um lado para o outro para estalar as costas, que fizeram um barulho alto o suficiente para o Blythe franzir a testa em preocupação.

Depois ergueu um joelho até o peito e se inclinou, ficando em uma pose parecida a um cachorro fazendo xixi, para estalar o quadril.

- Isso foi um pum? - perguntou Gilbert, segurando a risada.

- Não! - exclamou Tania. Ele caiu na gargalhada - Foi um estalo, eu juro - ela começou a rir também, se apoiando no namorado - f-foi um estalo - repetiu entre risadas, sentando entre as pernas dele quando as gargalhadas a fizeram perder o equilíbrio.

- Está bem - cedeu, ainda rindo. Vê-lo sorrindo para si fez uma onda de calor se espalhar pelo corpo dela de dentro para fora, como chocolate quente fazia, só que mais. As risadas se transformaram em um sorriso brilhante, que ela estava retribuindo sem nem perceber. Fazia tempo que não sorria daquela maneira. Nia aproximou seu rosto do dele e Bert soltou o rabo de cavalo dela para embrenhar os dedos em seu cabelo; os dois ainda sorriam quando se beijaram. Não foi intenso; era difícil beijar de verdade quando sorrisos insistiam em voltar toda vez que conseguiam se livrar deles.

Eu te amo eu te amo eu te amo eu te amo

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora