Capítulo 63

372 54 11
                                    

- O que há com você hoje?

- Tem muitas pessoas sofrendo hoje - Alya disse. Tania não entendeu - a senhora Barry decidiu que a infância das filhas dela acabou por que está sofrendo com o medo de ser pobre e um marido ruim, Diana e Minnie May estão sofrendo com as expectativas inalcançáveis da mãe, você está sofrendo com o seu pesadelo e Marilla está sofrendo com a culpa de ter trazido os pensionistas a Avonlea. Eu não consigo ver tanta dor e ficar calada, mãe.

Alya não parava de miar, e Tania, que não entendia gatês, estava confusa.

- Eu não falo sua língua, fofa - a gata chiou e rosnou - nem adianta pagar de brava, fique quieta e me siga, ou vou te colocar na bolsa - Alya parou de miar e ronronou docilmente. A bolsa não!

Suspirando e tentando entender o motivo de a gata estar tão agitada, Tania tornou a andar até a fazenda dos Mackenzie.

Ao chegar, o animalzinho preto e peludo miou novamente e arranhou os tênis da Stacy.

- Já falei que não consigo te entender - brigou, antes de bater na porta, que foi aberta pela mãe de Cole - bom dia - sorriu para a senhora mal-humorada.

- Dia - fechou a boca e a manteve assim. Tania se esforçou para não deixar o sorriso falso ficar falso demais.

- Cole está?

- Sim - continuou parada no batente. As bochechas da jovem se avermelharam.

- A senhora pode chamá-lo?

- Posso - a olhou de cima a baixo mais uma vez, antes de ir preguiçosamente até o quarto do filho - Cole! - gritou, batendo fortemente na porta - Você tem visita! - continuou batendo até que ele abrisse, e por pouco não bateu o punho na cara dele quando o menino saiu do quarto - Aquela órfã dos Cuthberts - respondeu à pergunta que nem fora feita.

- Oi Nia - ele passou direto pela mãe e foi até a porta - como está?

- Bem, e você? - olhou de esguelha para a senhora Mackenzie, que foi até a lavanderia e sumiu de vista. O amigo não respondeu - Quer pintar? - tirou o avental da bolsa com um sorriso.

- Claro - sorriu de volta e a guiou até o não-tão-pequeno estúdio que eles dividiam. As pinturas de Tania ocupavam duas paredes, se empilhando. Ela precisava de um novo lugar, não parecia certo ocupar o espaço de Cole. Entretanto, pensaria naquilo depois; precisava trazer ao mundo a imagem que lhe perpassara a mente quando estava no meio-termo entre dormindo e acordando. Afinal, artistas e escritores não eram nada além de pessoas que forçavam o que vivia em suas mentes a pagar aluguel.

Tania e Cole haviam feito, a alguns anos, um acordo com uma loja de utensílios artísticos que ficava logo na saída da cidade; um "plano semestral", a vendedora chamara. Uma vez a cada seis meses o Mackenzie ia até lá e pagava uma quantia pré-determinada de dinheiro (metade dele, metade da Stacy) e, em troca, uma vez por mês chegava na fazenda dele uma leva de telas e tintas de diversas cores, tipos e tamanhos. A leva daquele mês havia sido entregue na noite anterior.

Sem dizer nada, Tania colocou uma tela de 60 x 60 cm em um cavalete, juntou algumas tintas e pincéis, e sentou-se no banquinho de madeira de bétula, que era o seu.

Enquanto Cole repetia seus passos, também em silêncio, e Alya caminhava pelo estúdio, evitando os potes de tinta, ela encarava a tela.

Molhou o pincel na tinta verde que usaria de base, aproximou-o da tela e continuou encarando.

Por onde começar?

O Mackenzie já estava pintando a vários minutos quando olhou para a amiga e percebeu que ela continuava parada.

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora