Capítulo 79

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Tania e Gilbert passaram todo o caminho até a casa dele conversando; sobre o quê, nenhum dos dois sabia exatamente. Apenas palavras saindo emboladas de bocas sorridentes, e sendo interrompidas de tempos em tempos por beijos ardentes e crises de riso.

Nenhum dos dois estaria cem por cento completo de novo algum dia, mas era fácil rir quando estavam juntos.

Quando entraram, deram de cara com Bash colocando lasanha e pães de alho na mesa.

- Sebastian, eu preciso que me ensine a cozinhar - a Stacy pediu, de olhos arregalados, ao sentir o cheiro divino - isso aqui é a comida do Olimpo.

- Olimpo?

- Tania não é a maior fã de Deus - Gilbert explicou depois de fechar a porta, ajudando a namorada a tirar o casaco.

- Ele é um inútil - se defendeu, puxando o braço da manga do agasalho - pelo menos os deuses olimpianos não tentam fingir que se importam. E tem histórias interessantes. E personalidade - completou, se sentando à mesa.

- A personalidade de Deus é ser bondoso.

- Se é bondoso ele não é todo-poderoso - ergueu o queixo, e Bash riu da audácia.

- Pois ele é, sim, onisciente e onipresente, todo-poderoso.

- Então não é bondoso - disse simplesmente para um Sebastian intrigado.

- E por que não, senhorita Tania?

Gilbert se sentou ao lado de Nia, olhando de um para o outro como em um jogo de tênis.

- Me dê uma bronca se eu estiver passando dos limites, mas um Deus bondoso e todo-poderoso não teria motivo para permitir a existência da escravidão, teria? - o homem, que estava inclinado para frente, deixou suas costas caírem na cadeira, perplexo.

- Ela é boa - disse para Bert, que inclinou a cabeça em concordância - quero ver você discutir com um padre, Tania Stacy.

- Ah, mas eu já discuti. Tinha, o que, doze anos? - se virou para Gilbert.

- Acho que por aí. Eu e papai te levamos àquela igreja de que ele gostava em Charlottetown, e você se levantou da cadeira de indignação quando o sacerdote disse que padres são os agentes de Deus e a voz dele na Terra, sagrados.

- Porque era o maior absurdo que eu já tinha ouvido em uma igreja - se defendeu - enfim - voltou-se para Bash - passamos o culto inteiro debatendo, e me atrevo a dizer que meu conhecimento bíblico era maior do que o dele. Só paramos de brigar quando John me carregou para fora.

- E você passou toda a viagem até Avonlea nos dizendo milhares de maneiras diferentes de acabar com o padre - Bert acrescentou.

- Verbalmente.

- Hmmm não é assim que eu me lembro - negou com a cabeça, rindo quando ela lhe deu um tapa no ombro.

...

Depois e se empanturrar, eles se jogaram no tapete da sala para continuar conversando.

Quando Tania puxou algo na altura do quadril para baixo e algo perto das axilas para cima pela milionésima vez no dia, Bert decidiu perguntar.

- Está mexendo nesse vestido o dia todo, querida, está apertado? Estou certo de que posso te emprestar alguma coisa.

- Não é o vestido - resmungou, jogando as mãos para cima dramaticamente, com um suspiro.

- Então o que é? - questionou Bash - Também notei que passou o jantar inteiro agoniada, como se tivesse algo lhe apertando.

Ela hesitou; não era assunto para se falar com homens. Mas era Gilbert, afinal; e Bash também a deixava confortável. Nia bufou.

- Marilla disse que está na hora de eu começar a usar espartilho. Hoje foi o primeiro dia e já quero jogá-lo no fogo.

- Espartilho? - Sebastian desconhecia a palavra.

- É essa coisa esquisita e horrível que somos obrigadas a usar a partir de certa idade.

- Para quê serve?

- Afinar a cintura - começou a contar nos dedos - sustentar os seios, torturar - Blythe riu de levinho - assar as axilas, aumentar o quadril, pinicar e o que mais você quiser. Honestamente, acho que quem criou espartilhos não gostava de mulheres - Bert riu.

- Vem aqui, amor - se levantou e estendeu a mão para ela, que o acompanhou escadas acima até o quarto dele - vamos tirar essa porcaria - abriu o vestido da namorada apenas o suficiente para desamarrar o espartilho, e Tania suspirou de alívio quando o aperto em seu tronco afrouxou, deixando sua postura ficar tão ruim quanto possível enquanto ela respirava fundo.

- Ah - gemeu baixinho, estalando as costas - é por isso que eu te amo, Gilbert - inclinou o pescoço para trás e deitou a cabeça em seu peito, a risada dele fazendo-a vibrar.

- Vou pegar uma blusa para você - já ia abrir o armário quando a morena puxou a barra da camiseta que ele estava usando - hm?

- Essa está com o seu cheirinho - murmurou, puxando-a para cima.

- Também está com 'cheirinho' de madeira e tinta - disse com uma risada. Nia ficava tão manhosa quando estava com sono.

- Ainda não achei o problema - deu de ombros, e o Blythe puxou a blusa pela cabeça (infelizmente, por causa do frio, ele usava outra por baixo), entregando-a para a namorada - obrigada - tirou os braços das mangas do vestido e vestiu a camiseta, mas encontrou outro problema quando estava prestes a escorregar o espartilho e o vestido pelas pernas - tem alguma calça que me sirva?

- Acho que sim - procurou no armário alguma calça de antes do estirão, já que as atuais ficariam compridas demais em Tania, e encontrou uma no fundo da gaveta - aqui - entregou a calça macia para ela, que foi para o banheiro se trocar e saiu de lá leve e confortável.

- Te dou 1000 dólares pelo seu guarda-roupa - a calça estava um pouco e a camiseta estava muito larga nela, e ele teve vontade de apertá-la como um ursinho de pelúcia - essa é a roupa mais agradável que já usei em toda a minha vida, como homens tem qualquer reclamação sobre qualquer coisa se podem vestir isso todos os dias?

- A maioria não tem uma Tania para fazer tudo ficar perfeito com um sorriso - deu de ombros, puxando-a pela cintura. Com um braço mantendo o corpo dela colado no seu, Gilbert acariciou a bochecha da Stacy - posso pentear seu cabelo?

- Tem escova aqui?

- Meu cabelo é cacheado, linda. Tem não só escova, como creme importado.

- Uau, que chique - riu, sentando na cama enquanto Bert buscava as coisas no banheiro.

Ele se sentou de pernas cruzadas atrás dela e passou as mãos molhadas pelos fios longos, então espalhou no cabelo o creme e e começou a penteá-lo, mecha por mecha, debaixo para cima.

Eles ficaram alguns minutos calados, um ocasional "ai" por parte de Tania; em defesa do Blythe, estava realmente muito embraçado.

- Adoro seu cabelo - beijou o ombro dela - uma vez pedi para Diana me ensinar a trançar apenas para ter uma desculpa para mexer nele.

- Então foi ela que te ensinou? - sorriu com a descoberta - Sempre me perguntei o porquê de você saber fazer tranças.

- Agora sabe - deixou a escova de lado e fez duas tranças de raíz, uma em cada lado da cabeça dela, para que seu cabelo não amanhecesse bagunçado.

- Obrigada - se virou para ele e segurou seu rosto - meu Gilbert - sorriu de levinho.

- Minha Fadinha - devolveu, esfregando seu nariz no dela - quer dormir?

- Sim - Bert apagou a lâmpada e se deitou. Nia sentou em cima dele, com uma perna de cada lado do seu quadril, apoiou a cabeça no peito de Bert, e o som do coração dele batendo a fez cair no sono quase imediatamente.

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora