Capítulo 10

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No dia seguinte, com todos os dedos enfaixados e olheiras profundas embaixo dos olhos, Tania pôde dizer, com orgulho, que terminou o vestido. E ele ficou ótimo. Ser boa (tecnicamente) em costura era coisa de sangue.

A saia era de um tecido xadrez verde claro e tinha grandes mangas bufantes brancas:

A jovem se vestiu, usou a maquiagem que guardava na gaveta em caso de emergência para cobrir as olheiras, avisou Marilla que os encontraria no piquenique da igreja, e saiu

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A jovem se vestiu, usou a maquiagem que guardava na gaveta em caso de emergência para cobrir as olheiras, avisou Marilla que os encontraria no piquenique da igreja, e saiu.

Havia decidido ir antes dos outros para passar na casa de Gilbert (Cole já havia lhe avisado que não iria).

Ao chegar, esbarrou com o jovem Blythe, que saía apressado.

- Bom dia - cumprimentou.

- Péssimo dia - ele devolveu, sem parar de correr.

- O que foi?

- Meu pai está doente, vou a Charlottetown chamar um médico - o médico da cidade estava de férias, então o mais próximo morava em Charlottetown. A menina amaldiçoou mentalmente o fato de morarem no campo.

- Ele está bem? Digo, fora de perigo?

- Não tenho certeza, está com febre e tossindo muito - Tania teve de apressar o passo para acompanhá-lo.

- Há algo que eu possa fazer? Talvez ficar e tomar conta dele?

- Acho melhor não, talvez seja contagioso, mas obrigado mesmo assim - deixou um beijo rápido na bochecha dela e disparou até o celeiro para colocar a cela no cavalo.

A Stacy acabou por ir embora, já que não podia ajudar e não queria preocupar os Cuthberts, mas passou o resto do dia preocupada.

Encontrou-se com Marilla, Mathew e Anne quando estavam chegando ao piquenique. Lá, receberam olhares de estranheza e julgamento, nada pelo que Tania já não tivesse passado quando ela era nova em Avonlea.

Ao longe, Diana acenou para Anne, e correria para abraçar a amiga, mas sra. Barry a impediu, de maneira que Anne parou de andar, em leve choque e tristeza, fazendo os Cuthberts e Tania pararem também, e serem logo recebidos pelos Lynde, que caminhavam até eles, sorrindo.

- Olá!

- Rachel, Thomas.

- Cá estamos nós, todos nós. Prazer revê-lo, Mathew. Sejam bem vindas, meninas.

- Obrigada, senhora Lynde - Anne respondeu, enquanto Tania já estava com a cabeça nas nuvens e nem se deu ao trabalho de prestar atenção na conversa - como vai, senhor Lynde?

- Feliz por não encontrá-la numa vala - brincou.

- Sim, querido, apreciamos a sua delicadeza - Rachel advertiu.

- O intuito é agradar - deu de ombros.

- Marilla, espero que esteja melhor agora.

- Ela estava doente? - seu marido perguntou.

- Morrendo de preocupação.

- Está tudo bem, obrigada.

- Com certeza, agora que estão todos juntos, uma família feliz - sra. Lynde respondeu a amiga.

E os irmãos Cuthbert seguiram os Lynde, deixando as jovens sozinhas.

Voltando ao mundo real, Tania percebeu que todos ao redor estavam sussurrando, e tanto seu nome quanto o de Anne estavam envolvidos, mas não se importou; nunca havia se importado antes e não se importaria naquele momento; isso até perceber que falavam bem dela (então tinha conseguido melhorar sua reputação, não só com os Barry's, mas com toda a Avonlea. Comentavam sobre como ela estava bonita, como se encaixava bem apesar de ser órfã, algumas garotas diziam as mães que queriam vestidos como aquele, os adultos mencionando que menina ótima ela era e tentando convencer as filhas a fazerem amizade com a morena), ficou tão chocada que não chegou a prestar atenção no que falavam sobre Anne, e não era boa coisa.

Então, quando duas criancinhas começaram a correr ao redor da ruiva e cantar uma música chiclete e irritante sobre ela ser uma "menina do lixo", a mesma saiu correndo.

A Stacy ia correr até ela, mas foi segurada por Marilla.

- Eu vou - e se apressou a segui-la.

Não sabendo para onde ir, Tania fez a coisa mais inusitada que poderia pensar:

Sentou-se delicadamente sobre uma toalha de piquenique azul, ao lado de Diana Barry.

- Olá.

- O que quer?

- Descobrir se aceitou ou não minha oferta de paz - suspirou diante do silêncio da outra - creio que a segunda opção - levantou uma sobrancelha. A menina ficou calada por alguns segundos.

- Por que arruinou meu aniversário de 10 anos? - perguntou de repente.

- Já lhe disse, foi sem querer. Eu e Gilbert estávamos brincando e a brincadeira foi longe demais - deu de ombros.

- ...Você jura?

- Juro pelo cadáver da minha mãe - prometeu solenemente, a mão direita sobre o peito. Diana riu de leve, tapando a boca logo em seguida.

- Desculpe! Deve ser desrespeitoso rir disso - Tania deu risada.

- O objetivo era te fazer rir.. eu só não achei que fosse funcionar - as duas soltaram risadas discretas.

- Você não fica triste por ter perdido seus pais?

- É claro que fico, mas se tem uma coisa que se aprende ao virar órfã, é a lidar com a tristeza e as coisas ruins que a vida joga em cima de você - a Barry ficou constrangida - desculpe.

- Sem problemas! - se apressou - Fui eu que perguntei - mordeu o lábio.

- Então agora é minha vez de perguntar - sorriu e mudou de assunto.

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O dia se passou maravilhosamente, mas, ao ir para cama, Tania não conseguiu dormir, pois estava muito preocupada com os Blythes. Acabou por desistir e ir fazer dever de casa, no qual também não conseguiu focar. No final das contas, decidiu ir até a cozinha e fazer brownies, porque chocolate era o sentido da vida e a solução de todos os problemas (isso na cabeça dela).

Ela caiu no sono deitada na mesa da cozinha, e acordou com uma Marilla preocupada e irritada encarando-a.

- Bom dia - disse com um sorriso preguiçoso e maroto - quer brownies? - ofereceu inocentemente.

- Prefiro uma explicação - esbravejou.

- Insônia - não era como se fosse novidade, dificuldades para dormir eram algo comum em sua vida de traumatizada. Riu internamente da própria desgraça. A mais velha revirou os olhos.

- Da próxima vez, fique com insônia no seu quarto; e se tivesse caído no sono enquanto os brownies ainda estavam no forno? - ao invés de responder, Tania saiu correndo escada acima, ao perceber que agora era de manhã e ela podia visitar os Blythes.

Se trocou rapidamente, mal dando bom dia para Anne, desceu as escadas, avisou Marilla que ia sair e correu porta afora, murmurando a música que estava aprendendo no piano e movendo os dedos como se estivesse tocando no caminho.

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora