Capítulo 50

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Mais rápido do que Tania conseguiu processar, Percy bateu uma perna de cadeira na cabeça do pai, que, bêbado, desmaiou.

Os dois jovens correram até a mulher, que ofegava, ainda apoiada na parede.

- Mamãe, você está bem? Ele te machucou? - lágrimas grossas escorriam de seus olhos.

- Estou bem, querido, estou bem - ela fungou, abraçando o filho.

- Onde está Ruby? - Tania não conseguiu segurar a pergunta.

- Mandei que se trancasse no quarto - a Stacy assentiu. As narinas da senhora Gilles se dilataram - me prometa que não vai dizer nada sobre isso para ela ou qualquer outro - seus olhos estavam cheios de medo, e a garota não conseguiu fazer nada além de assentir, trêmula.

- Mãe, você precisa contar às pessoas, precisa se livrar dele - implorava Percy.

- Conversamos sobre isso depois, meu filho - passou por ele e foi até a lavanderia, esfregando o pescoço com a mão, respirando superficialmente. Ela voltou com uma vassoura, que usou para começar a limpar cacos de vidro que estavam espalhados pelo chão.

- Eu limpo isso, senhora Gilles, a senhora precisa cuidar desses cortes - indicou os caquinhos de vidro na testa dela, que sangrava - que tal você ver se Ruby está bem, Perseu? Se nós ouvimos a pancada, ela deve ter ouvido também - muito preocupado, ele subiu correndo as escadas.

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- Ruby? - entrou às pressas no quarto da irmã, que chorava encolhida em um canto, com as mãos sobre as orelhas.

- Percy, o que está acontecendo? - ela perguntou ao vê-lo - P-papai estava gritando e mamãe me mandou ficar aqui, disse q-que eu não deveria sair. Percy, e-eu ouvi gritos. Gritos da mamãe, mas ela parecia estar c-com medo, não com raiva - a cabeça de Perseu estava girando. Ele voltara para cuidar de Ruby, para poupá-la daquele horror, e havia falhado.

Muito devagar, andou até ela e se sentou ao seu lado, e eles ficaram abraçados por vários minutos, Ruby chorando baixinho e Perseu acariciando os cabelos dela.

- Foi só uma briga, Biby, já acabou - ele disse quando o choro diminuiu - Tania está lá embaixo, quer que eu peça para ela subir? - Ruby assentiu. Tania talvez lhe dissesse a verdade.

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- Pronto - disse Tania, depois de ter jogado fora todo o vidro e feito um curativo na testa da senhora Gilles - posso fazer algo pela senhora? Talvez preparar um chá?

- Você já fez o suficiente - respondeu, um pouco ríspida. Não conseguindo se segurar, Tania se ajoelhou na frente da cadeira onde a mulher estava sentada, para falar com ela cara a cara.

- Escute Amy, posso te chamar assim? - ela deu de ombros - Amy, eu amo seus filhos, amo de verdade, eles são muito especiais para mim. Então vou lhe fazer uma pergunta óbvia: você os ama?

- Com todo o meu coração - respondeu prontamente.

- Então, sendo essa a verdade, eu peço: vá embora dessa casa; se não o faria pela senhora, faça por eles, e faça agora, pois Clint não vai demorar a acordar.

- Eu não tenho para onde ir - chorou ela - e mesmo que tivesse, Clint poderia ir atrás de mim, poderia machucar as crianças.

- Seu irmão mora na cidade, ele não poderia lhe dar abrigo e protegê-la?

- Jeremy tem me chamado para morar com ele desde a primeira vez que Clint se descontrolou, mas no ano passado parou de oferecer e disse que, se eu não queria lutar por mim e pela minha família, ele não o faria. Meu irmão não fala comigo desde então, e não vai me aceitar na casa dele, não mais - lágrimas escorriam incontrolavelmente pelas suas bochechas.

- Seu irmão ama você, Amy, e tudo o que a senhora me disse só prova que ele vai recebê-la de braços abertos - ela sacudiu a cabeça - se não acredita, vá até a casa dele. Diga a Jeremy que decidiu sair dessa situação. Ao menos tente, por favor - os olhos de Tania se encheram de água enquanto falava, mas ela se recusava a chorar. Hesitante, a loira assentiu. Tania soltou o ar que estava segurando e se levantou - eu vou ver como Ruby e Percy estão. A senhora consegue caminhar até lá sozinha? - Amy assentiu, se levantou, e foi correndo até a casa do irmão.

Se lembrando de repente de Clint desmaiado no chão a poucos metros de si, Tania deu um chute forte na testa dele, só para ter certeza de que continuaria a dormir por mais algumas horas.

Ela então se dirigiu ao quarto de Ruby, e esbarrou com Perseu nas escadas.

- Eu estava indo buscar você, Ruby quer te ver - ele disse ao vê-la - como está minha mãe?

- Consegui convencê-la a ir até a casa do seu tio Jeremy. Ela me disse que ele já ofereceu moradia a ela, você e Ruby antes, então recomendo que vá fazer as malas. Vocês vão embora desse inferno - de olhos arregalados, sem nem parar para agradecer ou fazer perguntas, ele já foi correndo pegar as próprias coisas e as da mãe.

A morena então entrou no quarto da amiga, que estava sentada na própria cama, muito quieta.

- Oi Biby - mostrou sua presença, se sentando ao lado de Ruby, que nem se mexeu.

- Acho que eu entendi - disse a loira, baixinho - papai e mamãe sempre brigam, e sempre tem barulhos altos e gritos, mas eu achava que eram apenas discussões, que as pancadas eram coisa da minha cabeça, que mamãe mandava eu me trancar no quarto porque não era da minha conta, que os braços dela estão cheios de roxos por ela ser estabanada - falando ainda mais baixo, ela concluiu - mas não era isso, era? É o papai. Ele machuca ela - Tania fechou os olhos. Ruby não deveria saber disso. Ela deveria ser protegida.

- Eu sinto muito, Ruby.

- Eu não quero isso, Nia. Se ter um marido é assim, eu prefiro ser uma solteirona.

- Nem todos os homens são assim, Ruby - Tania tentou lhe consolar, mas não fazia ideia do que dizer.

- Mas meu pai é. Eu falei coisas horríveis sobre o senhor Philips hoje, disse pra mamãe que ele é nojento, um monstro. Mas se ele é um monstro, eu sou filha de um. Sou filha do pior dos monstros. E eu não quero ser filha de um monstro, Nia.

- Ruby - respirou fundo. Como ela poderia melhorar essa situação? - não pensa sobre isso agora, está bem? Sua mãe foi para a casa do seu tio, e assim que arrumarem suas coisas, você e Percy vão também. Vocês vão estar seguros, sim?

- Mas e meu pai? Onde ele está? Ele vai também? - Tania não sabia se Ruby estava com medo de Clint ir ou de ele não ir. Nem a própria Ruby sabia.

- Não, ele não vai. Não sei como você se sente em relação a isso, Biby, mas sua mãe não pode mais se sujeitar a Clint, não é justo com ela; e nem com você - a loira assentiu e, calada, colocou suas roupas e pertences em uma mala com a ajuda da amiga.

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora