Capítulo 46

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Tania foi até o quarto de Nate, com o objetivo de roubar um cigarro de nicotina para ajudá-la a sobreviver ao primeiro dia de aula estressante que estava para ter, mas parou no batente ao ver Anne inclinada sobre um microscópio, com Nathan ao seu lado.

- A culpa não é sua - disse ele para uma Anne frustrada por não conseguir ver o ouro - é minha, na verdade. Desculpe. Você não tem olhos de especialista - já ia tirando a amostra de terra do microscópio quando ruivinha agarrou sua mão.

- Por favor, não desista de mim - a garota se inclinou novamente, observou por alguns segundos e disse: - ah sim! Estou vendo - levantou-se - você está certo, o ouro é deslumbrante - então, com um sorriso falso, ela saiu para ajudar Marilla a arrumar a mesa para o café da manhã, dando bom dia à irmã no caminho.

- Bom dia - murmurou de volta - e bom dia para você, Nate Dexter - exclamou.

- O que você quer?

- Posso ver o ouro? - perguntou em tom sarcástico e levemente venenoso.

- O que tenho que fazer para você me deixar em paz, garota?

- Ir embora de Avonlea e nunca mais voltar - sorriu inocentemente - mas como sei que não vai fazer isso, me contentarei com um cigarro.

- Você não deveria fumar.

- Eu também não deveria passar pelo sofrimento de olhar para a sua cara feia todos os dias, mas aqui estou - deu de ombros.

- Como as pessoas te suportam? - lhe entregou um cigarro de maconha e o acendeu para ela

- Pelo mesmo motivo que acreditam em você: não sabem de nada - piscou um olho e saiu, segurando a tosse que lhe subia pela garganta.

...

Enquanto, no andar de baixo, os Cuthbert negavam a proposta de extração de solo feita por Nathan, no andar de cima, Tania trabalhava até encher os dedos de bolhas costurando os figurinos que ela, superestimando o próprio tempo e habilidade, havia se oferecido para fazer para a próxima apresentação no teatro.

Terminando o café da manhã, Anne subiu até seu quarto para chamar a irmã para irem à escola.

- Tania, vamos nos atrasar se não formos logo. E você perdeu o café.

- Desculpe, Nan, estou trabalhando.

- Marilla lhe disse que não era uma boa ideia se encarregar dos figurinos.

- Vou ganhar muito dinheiro por eles, Anne.

- Bem, terá de terminá-los depois, pois precisamos ir.

- Antes de irmos, quer experimentar seu vestido de veludo?

- Você o terminou? - os olhos azuis dela brilharam.

- Muitos meses depois do esperado, mas sim, terminei, está no seu armário - com um sorriso de orelha a orelha, a Shirley pegou o vestido e o colocou em frente ao corpo, girando na frente do espelho em um êxtase de felicidade.

- Por Deus, Nia! É o vestido mais lindo que vi em toda a minha vida! Ainda mais magnífico do que eu conseguiria imaginar.

- Experimente - sorriu para ela, os olhos semicerrados pelo cansaço e rodeados de olheiras causando um resultado um pouco grotesco.

Dando pulinhos de alegria, Anne trocou o vestido de chita azul caneta que usava pelo novo de veludo castanho-avermelhado.

Tania apertou o corpete para ela e deu um belo laço.

Ao se olhar no espelho, os olhos de Anne começaram a cintilar com lágrimas recém formadas.

- Não não, querida, não avermelhe seu belo nariz. Você está muito bonita para chorar.

- É por isso que estou chorando, Nia. Nunca imaginei que eu pudesse ficar realmente bela, mas esse vestido me faz chegar bem perto disso.

- Você é magnífica, Anne, e me alegra que o vestido que fiz lhe ajude a ver isso. Agora é melhor você se trocar antes que Marilla brigue conosco p-

- O que está demorando tanto? - Tania e sua boca grande - Oh céus, Anne, o que está vestindo?

- O vestido que Nia criou! - respondeu com alegria - Não é a coisa mais linda que você já viu?

- Devo admitir que você fez um ótimo trabalho, Tania. Mas não é o tipo de vestido que se usa para ir à escola, Anne.

- Sei disso, Marilla, só estava experimentando. Este vestido deve ser usado para um baile, ou ao menos uma festa. Ah, não seria fantástico ir a um baile?

...

Na escola, tendo chegado mais cedo, Tania se sentou em uma pedra ao lado de Cole, que havia espichado durante os meses de colheita e estava quase irreconhecível.

- Quem é você e onde o está o meu amigo baixinho e louro? - brincou. Ele sorriu, correndo os dedos pelas mechas que haviam escurecido para um castanho claro e um pouco alaranjado.

- Ele viajou demais pela própria imaginação, está preso no tempo - sorriu - e o que aconteceu com a minha amiga velhinha que dorme cedo? - perguntou, preocupado com as bolsas escuras que lhe rodeavam os olhos.

- Ela foi engolida por figurinos de ballet. Mande ajuda! - riu. Cole sorriu de levinho, focado na bela árvore que desenhava - que está desenhando?

- Acho que precisa de óculos, fadinha, se não consegue enxergar que é uma árvore.

- Se Gilbert estivesse aqui ele brigaria com você por me chamar de fadinha.

- Já brigou uma vez, disse que o apelido é dele e só ele pode usar.

- Então respeite, oras. Agora responda minha pergunta; todos os seus desenhos tem um significado especial, diga qual é o deste.

- Representa a hesitação em ir embora de um lugar que lhe faz mal. A árvore está apodrecendo, está morrendo, mas vê o quão compridas e fortes são as raízes? Não tem como tirá-la dali, está presa demais, apegada demais, mesmo que claramente precise sair - Tania sorriu. Ela amava isso em Cole, como ele expressava de forma tão simples os sentimentos que outras pessoas demorariam anos para aprender a explicar.

- E essa árvore representa alguém em especial? - deitou a cabeça no ombro dele.

- Não - passou o braço direito pelos ombros dela, continuando o desenho com a mão esquerda, sendo ele canhoto - não, só algo em que pensei no caminho pra cá.

Neste momento uma bola de baseball caiu aos pés deles.

- Ei Cole - chamou Billy Andrews, que havia atirado - joga a bola de volta, amigo - por que Billy insistia em chamar de "amigo" pessoas que claramente não gostavam dele, hein? - ei, mocinha! - Cole finalmente olhou para ele, estranhando - É, você - estendeu a mão envolta na luva marrom.

Sem expressão, o Mackenzie arremessou a bola branca para o Andrews, que a pegou, um pouco chocado.

- Belo arremesso, para um maricas - Tania então perdeu a paciência. Pegou uma pedra do chão e, com toda a sua força, que não era pouca, jogou-a na virilha do menino.

- O que achou desse arremesso, Billy? - suas narinas estavam infladas de raiva. Talvez apenas um cigarro de maconha não tivesse sido o suficiente.

Andrews não respondeu pois estava, bem, se contorcendo de dor.

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora