Capítulo 89

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- Bem vindos, meus amores - tia Josephine cumprimentou, guiando-os até a sala onde aconteceria a festa - esta será a cena do crime - abriu as gigantescas portas que davam em um salão amplo, com enormes janelas e um teto alto, que estava completamente preenchido por flores das mais variadas cores e formatos.

- Já sonhei com festas antes, e ainda que eu tenha uma imaginação bastante capaz, jamais evoquei algo assim - disse Anne, extasiada.

- Vamos, explorem! - a mulher ordenou.

Gilbert e Diana correram até o belo piano de cauda branco e lustroso; Anne e Ruby passaram a caminhar pela sala, desequilibradas enquanto encaravam o teto e tentavam saber os nomes de todas as flores; Tania arrastou Cole ao redor do espaço, apontando todos os quadros, esculturas e vasos de cerâmica.

- Oh, senhorita Barry, é tão maravilhoso que esteja fazendo esta festa - exclamou Ruby - eu particularmente sou devota ao inverno, mas como amiga de Tania sou obrigada a entender que pode ser uma época tenebrosa. É magnífico o que esse evento deve fazer pelo ânimo das pessoas.

- Ah, eu não posso levar o crédito, foi tudo ideia da Gertrude. Esta era a noite dela. Não tive forças para preparar a festa no ano passado. Sem ela - suspirou, emocionada - bem, o tempo passa, não é mesmo?

Depois de deixá-los explorar o espaço por mais alguns minutos, tia Jo ordenou que jantassem e fossem logo dormir, pois "amanhã será um grande dia".

...

- Onde é o quarto das meninas?

- Faremos uma festa do pijama!

- Alguém viu minha touca de cetim?

- Nia, você precisa dançar no telhado esta noite, simplesmente precisa!

Mais tarde, com os cabelos devidamente enrolados, toucas encontradas e pijamas vestidos, eles se amontoaram na janela para assistir Tania dançar.

Com as sapatilhas que sempre deixava guardadas no baú de um dos quartos de hóspedes, a Stacy pisou com cuidado no telhado e subiu nas pontas dos pés, que estavam calejados e bem preparados, já que ela dançava sempre que podia, mesmo sem as apresentações no teatro.

Deu alguns passos suaves, para encontrar seu equilíbrio, e logo começou a dançar, deixando a energia fluir por seu corpo, sentindo seus membros se moverem sem que ela os controlasse, sem que precisasse pensar. E, dentro de alguns segundos, mal se lembrava de que estava sendo observada; sua mente era preenchida por flores e risadas, enquanto ela rodopiava e saltava pelo gigantesco telhado da mansão da senhorita Josephine.

...

Nia entrou novamente pela janela ao som de aplausos, e não pôde evitar sorrir largamente enquanto se banhava nos elogios dos amigos.

Depois de alguns minutos de fuzuê, ela tirou as sapatilhas, guardou-as cuidadosamente no baú e calçou suas meias grossas de lã.

Então, aquecidos, sonolentos e deitados em suas camas, os jovens fizeram o que se poderia esperar deles: tudo, menos dormir.

- Eu estou com fome - sussurrou Diana para a escuridão.

- Mas nós acabamos de jantar - argumentou Ruby.

- Não estou com fome de jantar, estou com fome de doce! - Anne concordou vigorosamente.

- Eu sei onde fica a cozinha - cochichou Tania, e as quatro se levantaram.

Silenciosas como gatos (como gatos bêbados, só se for), elas atravessaram o corredor até o quarto dos garotos e entraram aos tropeços.

- Não sabem bater? - brigou Gilbert, vestindo a camiseta às pressas. O vislumbre que tiveram de seu abdome úmido foi o suficiente para deixar os cinco corados.

- Não esperávamos que fosse tomar outro banho - sua namorada rebateu - você toma uns sete por dia, pelos deuses!

- Você não diria que eu tenho um "cheiro límpido como orvalho" se eu não tomasse banho! - Diana e Ruby caíram na gargalhada.

- Eu escrevi isso no meio da madrugada logo depois de me empanturrar de doces, Blythe, nada daquela carta pode ser levado a sério - exclamou, envergonhada.

- Então não acha que eu cheiro bem? - ergueu as sobrancelhas.

- Ah, ela acha - garantiu Nan entre risadas - ela definitivamente acha - sua irmã lhe deu um empurrão com o ombro, mas ela continuou a rir.

- Estamos indo para a cozinha comer sobremesa, vocês dois querem vir? - foi logo ao assunto.

- Sim - falou Cole, estendendo o 'im'.

- Então vamos - bradou Diana, abrindo a porta e empurrando os amigos.

Eles desceram os dois lances de escadas se empurrando e resmungando, e todos os empregados que moravam ali acordaram com a barulheira.

A pequena Trystia, que se levantara de um pulo ao ouvir a voz da Stacy, já foi logo acordando a cozinheira; quando os seis chegaram a seu destino, a gorducha e adorável senhora Polly já estava separando os ingredientes para fazer seu famoso bolo de leite com morangos.

- Boa noite - ela disse quando os viu passar pela porta; Ruby deixou escapar um gritinho, e todos deram pulos.

- Que susto, Dona Polly! - brigou Tania, já puxando a mulher para um abraço rápido - Nós a acordamos? Peço mil desculpas.

- Ora, não se preocupe, querida; a senhorita Barry alertou a todos os funcionários que ficassem atentos a vocês, jovenzinhos. Do que precisam?

- Estamos morrendo de fome, senhora Polly - explicou Nan.

- Mas fome de doce, não de comida - esclareceu Biby.

- Ora pois não se aflijam, em alguns minutos colocarei no forno um bolo de leite - eles sorriram - até lá, sintam-se livres para fazer o que quiserem - gesticulou vagamente para a porta.

- A senhora gostaria de ajuda com o bolo, Dona Polly? - perguntou Bert, sempre muito educado.

- Oh, não se preocupe comigo - dispensou-o com um abanar de mão.

- Tia Polly não divide a cozinha com ninguém além de sua família - os seis pularam de susto novamente; Trystia, quieta e mínima, estivera sentada despercebida na ponta na bancada.

- Trystia - exclamou Nia - como está? Publicou sua coletânea? Céus, eu preciso de uma cópia! Preciso!

- Não publiquei nada, rainha das fadas - admitiu constrangida.

- Mas está prestes a publicar, não é? Tia Josephine me disse que é cheia de talento!

- Não tenho futuro na literatura, senhorita Tania. Agradeço pelo apoio, mas temo que minha poesia continuará a ser apenas minha.

- Não diga isso - pediu Anne, profundamente envolvida na situação da qual acabara de ficar apar - livros são o que me move, senhorita Trystia, e não posso em sã consciência permitir que uma escritora prive o mundo de suas obras. Por favor, por favor, seja corajosa e publique o que escreveu! - a pobre garota abriu a boca, mas foi logo cortada por Cole.

- Você não pode deixar o medo impedi-la de fazer algo extraordinário - as irmãs Cuthbert sorriram para o amigo; o haviam ensinado bem.

- E-eu- a Stacy deu um passo para perto dela e segurou suas mãos ásperas.

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora