Capítulo 15

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De madrugada, quando Tania estava escrevendo e Anne havia acabado de cair no sono em cima de seus papéis, houve um incêndio na casa dos Gilles.

Ao ouvir o sino de emergência, olhar pela janela e ver fogo ao longe, a Stacy acordou a amiga, que foi correndo chamar os irmãos Cuthbert.

Mathew se apressou em montar Meia-Noite e cavalgar até lá, enquanto Marilla e as meninas corriam para pegar os baldes, os cobertores e preparar a charrete.

...

Ao chegar lá, encontraram uma baderna. Pessoas (em maioria homens) corriam de um lado para o outro, pedindo e entregando baldes de água, enquanto os mais corajosos jogavam água janelas a dentro na casa em chamas.

Ao ver Anne, Diana ignorou completamente a coisa horrível que estava acontecendo ao sorrir abertamente e correr para abraçar a amiga.

- Que saudade de você! - mal terminou a frase antes do vidro de uma das janelas explodir, causando ainda mais pânico.

Houve uma enorme movimentação quando todos correram para pegar as escadas e jogar água no andar de cima também; adivinha quem foram os primeiros a subir as escadas? Gilbert e sua vontade linda e mortal de ajudar os outros; Tania não sabia se ficava orgulhosa ou preocupada.

- Todos saíram da casa? - ela perguntou a Diana, ficando mais nervosa a cada segundo.

- Sim - a Stacy suspirou de alívio - olha a família Gilles ali - apontou para um grupo de louras a poucos metros delas. Sua paz não durou muito, pois logo percebeu que o fogo não estava nem perto de diminuir.

- Por que as janelas estão abertas? - Anne perguntou, tendo notado o problema ao mesmo tempo que a amiga.

- Fogo precisa de oxigênio para queimar, assim nunca vão conseguir apagar! - e as duas saíram correndo para a casa, Tania pegando cobertores úmidos no caminho para vedarem as portas.

Puderam ouvir Diana gritando seus nomes, mas nenhuma delas se importou enquanto entravam no edifício em chamas.

Subiram as escadas, Tania fechava as portas e Anne punha os cobertores; em um dos quartos, a morena viu Gilbert na janela, pouco antes de bater a porta na cara dele.

Diana não parava de gritar seus nomes, sendo acompanhada por Marilla, enquanto o Blythe tentava se convencer de que as jovens sabiam o que estavam fazendo. E elas sabiam mesmo.

- O fogo está diminuindo!

Tossindo muito e se apoiando uma na outra e nas paredes, as duas conseguiram, com dificuldade, fechar e vedar todas as portas e janelas, e sair da casa.

Foram recebidas por uma Marilla histérica e uma Diana chorosa, que as teriam abraçado se elas não tivessem caído no chão, com falta de ar.

- Vocês estão bem?

- Por que entraram lá?

- Fogo precisa de oxigênio - Tania respondeu, sentindo seus pulmões arderem, ainda cheios de fumaça.

- Se você fechar as portas e janelas ele apaga - Anne explicou, engasgada.

- Oh, santo Deus!

- Anne e Tania reduziram o fogo! - Jerry exclamou.

- Como sabiam disso?

- Papai e mamãe gostavam que eu soubesse dessas coisas - deu de ombros, respirando com dificuldade.

- O manual de incêndio do orfanato; não tinha muita coisa pra ler - tossiu novamente, e Marilla embrulhou as duas em cobertores úmidos.

- Foram elas! Elas conseguiram! - Baynard continuou, fazendo todos olharem para as garotas sujas de fuligem, chocados e admirados.

...

Ao amanhecer, o fogo já havia sido apagado e o padre dava graças a Deus por ele ter tido misericórdia e todos estarem bem. ("pff 'Deus seja louvado' eu seja louvada!" a Stacy pensou consigo mesma)

Tania e Gilbert estavam abraçados; ele não a havia soltado desde que o fogo apagou.

Ficou decidido que, até que a reconstrução da casa fosse terminada, dali a uma semana, os Gilles ficariam alojados com os Cuthbert's, os Barry's e os Lynde's.

- Nós devemos agradecer a todos vocês - a mãe de Ruby disse - principalmente às queridas Anne e Tania, por arriscarem as vidas por nós e agirem tão rápido - as jovens sorriram - e senhoras - se dirigia a Rachel e Marilla - obrigada por abrigarem as crianças; ainda mais porque não haverá aula, vocês terão trabalho - e chamou a filha.

- Não é trabalho nenhum, será um prazer hospedá-la - Marilla sorriu.

- Agora as meninas e a Ruby poderão se conhecer melhor - naquele momento, a loirinha fez cara de quem estava prestes a cair no choro.

- O quê? Não! Mãe!

- Ruby!

- Eu não quero ficar lá! - insistiu com a voz embargada.

- Ora ora, cale-se, menina!

- Por que eu não posso ficar com a Diana? - lágrimas começaram a escorrer por suas bochechas.

- Já chega! - sr. Gilles brigou - Está decidido.

- Eu nunca mais vou ter amigos! - Ruby gritou - por favor, não me obriguem!

- Não quero ouvir mais nada! - sua mãe deu um basta - Depois do que aconteceu você deveria ser grata por ter aonde dormir!

- Exato - sra. Lynde concordou.

- Eu peço desculpas - disse e saiu dali, deixando a filha chorosa aos cuidados dos Cuthberts.

- Não importa o que as outras meninas pensam, Ruby - Diana a confortou, e Tania apertou irritadamente a cintura de Gilbert; ela só queria ir para casa e dormir! - só importa o que você pensa. E eu acho que elas são incríveis e corajosas - a Stacy apertou de leve a mão da mais nova amiga, sorrindo com gratidão, enquanto Anne a abraçou - visitarei vocês em breve, está bem? - e foi se juntar à própria família.

- Está tudo bem - ruivinha disse para Ruby, que ainda chorava - ninguém vai achar que você é nossa amiga - Tania revirou os olhos tão fortemente que ficou tonta, e o Blythe a olhou interrogativamente: qual seria o problema se alguém achasse que a loira era amiga delas?

- Melhor irmos andando - Mathew disse.

- Posso ir para a casa dos Blythes? - a morena perguntou, logo se tocando que nem havia sido convidada - Digo, se o Gilbert quiser - o garoto assentiu vigorosamente.

- Eu não acho que Marilla vá achar isso uma boa ideia - falou relutante e os dois jovens suspiraram frustrados.

- Te vejo outro dia?

- Claro - beijou-lhe a a bochecha.

...

Depois de tomar banho, Tania fez um chocolate quente para ela e as meninas, que, após beberem, receberam a ordem de ir para a cama mesmo em plena manhã, e Anne contestou, dizendo que poderia ajudar com as tarefas, ao contrário de Tania, que estava morrendo de sono, e Ruby, que só queria que aquele pesadelo acabasse.

- Venha, Ruby - ruivinha chamou - temos um lindo quarto na empena e a cerejeira é sempre gentil - a loira fez cara de quem tinha visto um fantasma e a morena deu risada.

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora