Capítulo 53

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- Por favor me levem com vocês! - pediu Anne pela milésima vez, quando os adultos estavam vestindo os casacos. Ela estava apavorada pela a ideia de ficar sozinha, principalmente com o corvo cleptomaníaco à solta e as fantasmas do riacho e tantos outros monstros que ela criara. Por que Tania havia escolhido justo aquela noite para dormir na casa de Ruby?

- Você já provou que é responsável o bastante para ficar por si só - disse Marilla.

- Não tem medo do escuro, tem? - provocou Nate.

- Não - as pequenas lágrimas que se formavam em seus grandes olhos diziam o contrário.

- Você ficou bem quando fomos à reunião - "porque eu também estava lá" pensou Anne, mas não disse nada. Mathew e Marilla achavam que apenas Tania saíra de casa naquela noite.

- Você deve ter escrito um final e tanto para a sua história de terror - senhor Dunlop comentou.

- As árvores esqueleto capturam a garota e a levam para a Rainha fantasma - disse rapidamente.

- Fantasmas? Bobagem! Fique aqui e nada de ruim acontecerá. Isso irá curá-la de imaginar perigos nesta casa.

Então todos saíram e fecharam a porta, deixando uma Anne aterrorizada para trás.

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Segurando a pequena bolsa que carregava seu pijama, vestido para o dia seguinte e escova de dentes em uma mão, Tania bateu na porta da casa de Jeremy com a outra.

- Nia! - Ruby cumprimentou com alegria. Depois de uma semana ali, ela havia se adaptado o suficiente para voltar a sorrir verdadeiramente de vez em quando. Clint ainda não dera as caras.

- Biby! - abraçou a amiga pelo pescoço.

- Entre, entre - disse Jeremy, pegando a bolsa da mão dela - vou levar isso para o quarto de Ruby.

- Obrigada, senhor Rose - Rose era o sobrenome da família deles.

- Boa noite, querida - a senhora Amy finalmente mostrou sua presença.

- Boa noite, senhorita Rose! - legalmente ela ainda era senhora Gilles, mas Tania não se importava - Como tem passado?

- Melhor do que em muito tempo, menina preciosa - beijou a bochecha dela.

- Perseu, venha dar 'oi' para a Tania! - Ruby gritou pelo irmão, que desceu as escadas como se estivesse indo para o próprio enterro.

- Boa noite, Percy - a morena disse cordial, com um sorriso hesitante.

- Boa noite - falou friamente, as mãos às costas. Ele engoliu em seco, abriu a boca, fechou-a e foi até a cozinha.

- Ignore a esquisitice de Percy, ele é assim mesmo - disse Ruby - vamos para o meu quarto?

- Vamos - sorriu, seguindo a amiga até o corredor que levava ao quarto dela, olhando de esguelha para as escadas, que terminavam nos aposentos de Perseu.
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- Bash - chamou Gilbert, sem conseguir dormir - quer conversar? - o homem não se mexeu - Eu sei que não está dormindo, seus olhos estão abertos - continuou sendo ignorado - Sebastian!

- Sebastian? - outro homem perguntou - Soa como se devesse ser o dono do navio. E eu achando que você era durão; bom saber.

- Parabéns Blythe, arruinou minha reputação. Eu poderia te bater por isso.

- Tem uma garota em Avonlea - fingiu não ter ouvido a ameaça - Tania - o nome lhe arrancou um sorriso involuntário - significa rainha das fadas - se lembrou da primeira vez que conversaram - uma eu vez disse que era graciosa, e ela me chamou de mula.

- Não tiro a razão dela.

- Ela é bailarina. E escritora. E pintora.

- Queria que ela tivesse te batido.

- A irmã dela me bateu uma vez. Fico pensando em quando as verei novamente.

- Planeja ficar quanto tempo nesse navio?

- Não sei. Quero ir para onde meu espírito me impulsionar; era o que meu pai costumava dizer.

- Acho que vou catar carvão para sempre. Como os pistões desse motor; indo, indo e indo a lugar nenhum. Estou preso aqui.

- Eu me sentia preso em Avonlea - refletiu Gilbert - se eu voltar pra casa, nunca mais serei capaz de sair - 'a não ser que Tania saia junto' pensou.

- Moleque, você chama isso de problema? - o homem que zombara de Sebastian perguntou - Muitos de nós não tem casa - se virou e caiu no sono.

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- Não- Biby- fique parada- Ruby! - a loira riu. Havia pedido que Tania a desenhasse, o que a morena concedeu de bom grado, mas é difícil desenhar uma modelo que não para de mudar de pose.

- Não consigo decidir em que posição ficar!

- Que tal em uma só? - Tania reclamou entre risadas.

- Está bem, está bem! - devolveu, também risonha. Então se deitou na poltrona, com as pernas apoiadas no encosto e as pontas do cabelo encostando no chão - O que acha?

- Acho que vai ficar legal, se você parar quieta!

- Vou ficar parada, prometo - e ficou mesmo, a única coisa que se mexia era seu rosto, fazendo caretas que divertiam a amiga.

Depois de cinco minutos, Ruby sacudiu os pés em impaciência.

- Vou ter que ficar assim até meu rosto se encher de rugas? Estou sentindo o sangue descer para a minha cabeça.

- Foi você quem escolheu essa posição, querida. Apenas espere eu terminar o sketch, então faço o resto de memória.

- Mas eu não consigo mais ficar parada, nem por um segundo! - reclamou, sacudindo mais as pernas e batendo o calcanhar na poltrona - ai! Seu pedaço de madeira idiota! - brigou com o objeto inanimado, fazendo Tania rir até chorar.

- Do que vocês duas tanto riem? Está de madrugada, pelo amor de Deus! - Percy reclamou, entrando no quarto de pijama e com a cara amassada.

- Bom saber que você não parece um Deus grego o tempo inteiro - comentou Tania, ainda vermelha de tantas risadas.

- Olhe aqui, Deus grego ou não, eu preciso dormir, então por favor parem.

- Deixe de ser estraga prazeres Percy, fique conosco - disse Ruby, escorregando até o chão, fazendo Tania bufar de frustração.

- Biby!

- Desculpe! - nem se mexeu; continuou deitada no chão, com os pés apoiados no assento - Não consegue desenhar de memória?

- Os detalhes sim, mas preciso do modelo para fazer a base!

- Então não mais serei desenhada, cansei de ficar de cabeça para baixo - levantou-se, arrumou a camisola e puxou o irmão pelo braço, jogando-o na cama - ataque de travesseiros! - gritou, agarrando dois travesseiros e batendo na cara dele, enquanto Tania ria tanto que mal conseguia respirar.

- Ruby! - reclamou Perseu, pegando um travesseiro no chão e batendo na cabeça dela, bagunçando seu cabelo perfeitamente enrolado.

- Percy! - devolveu entre risos, ainda batendo os travesseiros nele.

- Céus, você é incansável - pegou ela pelo quadril e apoiou-a no próprio ombro, como um saco de batatas.

- Percy, não! - brigou, falhando em segurar a gargalhada - Me ponha no chão!

- Ah não, agora você está de castigo - disse, começando a girar.

- PEEERSEEEEEEU - berrou Ruby, sendo rodopiada. Tonto, o garoto caiu em cima de Tania, e os três viraram uma pilha de risadas e cabelos e alegria.

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora