Capítulo 57

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Tania e Minnie May acordaram antes de Anne e Diana, e decidiram fazer uma brincadeira com as duas.

Após pegar a pequenina no colo, a Stacy desceu até a cozinha e entregou a Minnie o pote de chantilly, antes de ir até o escritório e se apossar de uma pena felpuda.

De volta no quarto, muito silenciosa, ela colocou no chão a Barry mais nova, que encheu de chantilly as mãos da irmã e de Anne.

A uma distância segura, Tania usou a pena para fazer cócegas nos narizes das dorminhocas.

- Pare, Minnie May - reclamou Diana, de olhos fechados. A mais alta esfregou pena novamente, e a Barry bateu a mão no rosto, cobrindo-o de creme branco - ei!

Com o seu grito, Anne, que estava se contorcendo um pouco na cama, começou a acordar de verdade.

- O que foi? - perguntou com a voz embolada, levando a mão ao rosto para esfregar os olhos - Mas o que..? - lambeu um pouco do que restava na própria palma - Nia! - brigou, sorrindo. Tania riu, e a Shirley acabou por acompanhá-la, tirando um pouco de chantilly da testa para comer entre risadas.

- Não tem graça! Meu rosto vai ficar todo grudento - choramingou Diana.

- Era isso ou pasta de dentes - Minnie May deu de ombros alegremente.

- Exato - a Stacy e a Barry fizeram um 'toca-aqui'.

...

Depois de tomar banho, se arrumar e tomar o café da manhã, as meninas e a senhora Barry foram até a cidade. Tania levava 300 dólares no bolso do vestido.

- Cavalo, cavalo, cavalo - repetia Minnie May cada vez que um cavalo passava.

- Há muitos cavalos em Charlottetown - concordou Eliza.

- É uma cidade esplendidamente movimentada - comentou Anne.

- Sim, tudo muito estimulante - Diana exclamou.

Como saíra do quarto logo após se oferecer para responder perguntas na noite anterior, Tania suspeitava que aquelas duas planejavam escapar de fininho para ir até o jornal da cidade.

As cinco entraram em uma loja de tecidos.

- Sério? - reclamou Eliza depois de algumas voltas no ambiente - Não tem nada mais interessante do que isso?

- O que a senhora tem em mente? - perguntou uma funcionária, tentando esconder a irritação.

- Como eu disse, algo interessante! Para esclarecer, algo que não me faça chorar de tédio - o primeiro andar, onde estavam amostra tecidos grossos para cortinas, era realmente lastimável.

Tania não perdeu tempo com ele.

Ao invés disso, estava no andar de cima, procurando os tecidos, pérolas e bordados de que precisava para tornar real o vestido que desenhara recentemente. Ela queria fazer algo azul que lembrasse uma armadura, como uma rainha guerreira.

- Isso aqui parece um gato - disse a Barry caçula, enrolada em um tecido felpudo.

- Minnie May! - a mulher brigou, desenrolando a filha.

- Já vi mamãe com esse humor antes - Diana sussurrou para Anne - quando está brava com o papai ela fica obcecada pela decoração.

- Quanto acha que essa obsessão vai durar?

- O suficiente - sorriu maliciosa.

Elas saíram discretamente.

Tania não notou, estava muito focada tirando as próprias medidas. Ela não sabia quando usaria aquele vestido, mas queria muito fazê-lo.

Ao terminar de tirar as medidas, cortar os tecidos e juntar todas as pedras de que precisaria, Tania desceu para pagar.

Quando a vendedora lhe entregou a sacola, a Stacy viu Anne e Diana passando na janela, como se estivessem subindo a rua.

Quando elas haviam sequer saído da loja?

Cuidando para que a senhora Barry não a visse, ela saiu e seguiu as meninas.

- Acha que ele nunca se recuperou do quê? Do ouro? - Anne ponderava, depois de sair do jornal, que não tinha um arquivo.

- Ele quem? - as duas se viraram para Tania, de olhos arregalados - Na verdade, não me importo. É melhor vocês voltarem para aquela loja agora mesmo!

- Oh não, por favor Nia, estamos tão perto!

- Tão perto de quê?

- Do jornalista que cobriu a febre do ouro, Malcom Frost. Não há fonte de informações melhor do que ele - a Stacy suspirou.

- E onde ele está?

- Ali - Diana apontou para um bar no fim do quarteirão.

Patinho fofo.

Não poderia ser tão ruim, poderia?

Resignada, ela foi até o bar.

- Fiquem perto de mim, e não falem com ninguém; homens bêbados em bares geralmente são nojentos e desrespeitosos, então mantenham distância. Não bebam nada e tentem não arrastar as saias no chão.

- Como sabe tanto sobre bares?

- Franceses levam crianças a esses lugares cedo - deu de ombros, lembrando da vez em que fora com os tios a um bar e causara uma enorme briga por pisar no pé de um homem que tentara puxá-la para si.

Ela tinha seis anos.

Balançando a cabeça para se livrar do pensamento, Tania abriu a porta e entrou com as meninas.

Logo quando entraram, um homem esquisito de olhos esbugalhados e vermelhos encarou Diana, que se espremeu contra as costas da mais alta.

O bar estava atulhado de pessoas bêbadas em pleno horário de almoço. Tentando conter o olhar de nojo para um homem seminu ali perto, a Stacy chamou um garçom.

- Com licença?

- Sim, senhorita?

- Sabe me dizer onde está Malcom Frost? - o homem indicou uma mesa ao fundo, ocupada por um senhor solitário.

Sem hesitar, Anne correu até lá. Revirando os olhos, Tania a acompanhou. Hesitante, Diana as seguiu.

- Olá, senhor. Desculpe pela interrupção - ele nem ergueu o olhar - hm.. o senhor é Malcom Frost?

Desta vez ele levantou a cabeça, mas olhou para trás das garotas, para o barman.

- Quero mais um shot - pediu, antes de tornar a encarar a mesa.

- Foi o senhor quem cobriu a história sobre o ouro para o Island Announcer há dez anos? - questionou Diana corajosamente.

- Oito anos - corrigiu - eu não falo mais sobre o meu trabalho, passem bem.

- Posso perguntar por quê?

- Veja, esta pergunta exige que eu fale, o que eu disse a menos de um segundo que não faria.

- Então eu vou falar - decidiu Anne, se sentando no banco em frente ao dele - todos da nossa cidade.

- Avonlea - esclareceu a Barry, puxando uma cadeira para si.

Tania continuou de pé, e pegou uma taça de champanhe da bandeja de um garçom que passava.

- ..Está com a febre do ouro - completou a Shirley - parece que todos de CapeWolfe tiveram a febre, mas não havia ouro.

- Errado - ele disse, e a Stacy parou no meio de um gole.

- O que está errado? - perguntou em tom de desafio.

- Espero que a falta de ouro - murmurou Diana.

- Um ano da minha vida que nunca terei de volta - desceu o shot que havia sido colocado na mesa - garçom!

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora