Capítulo 105

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Gilbert desceu a boca pelo queixo da Stacy, salpicando beijos por seu pescoço, sugando levemente a curva do tendão. Ela mordeu a língua para não deixar escapar algum som constrangedor, sentindo o sangue subir para as bochechas e o baixo ventre formigar, aquela sensação irritante que a acometia sempre que as mãos dele tocavam suas coxas sobre a meia-calça, ou a boca dele o seu pescoço; aquele desejo doido de nada em que conseguisse pensar, apenas mais.

Tania compraria Bridgerton na sua próxima ida a Charlottetown; precisava entender como funcionava, entender mesmo, todos os detalhes que foram omitidos quando ainda era uma criança, para saber o que fazer.

Será que sequer poderia fazer qualquer coisa? Ela e Bert não eram casados, e ele sempre fora muito correto e respeitoso; ela teria mesmo que viver sem agir a respeito daquela vontade por, no mínimo, cinco anos? Céus, não. Ela morreria.

- Nia, tudo bem? - perguntou Anne, percebendo que os pensamentos da irmã estavam em outro lugar.

Blythe parou os beijos e levantou o olhar para Tania, que sufocou um grunhido.

- Tudo - traçou o pomo-de-adão do garoto suavemente, sentindo-o engolir em seco com seu olhar - só pensando - envolveu a garganta dele com a mão, e apertou de leve. Bert deixou escapar algo que soava como um choramingar, e ela o soltou.

- Em quê? - riu fracamente; gostaria de fazê-la pensar em seja-lá-o-que-fosse com mais frequência.

- Na minha próxima leitura - mordeu o lábio inferior do namorado, embrenhando os dedos em seus cabelos e puxando. Ele deixou a cabeça cair para trás com um suspiro, e Nia devolveu os beijos no pescoço.

Gilbert segurou a cintura dela. Com força.

Começando a se perder no que estava fazendo, ela apoiou um joelho no banco, ao lado do quadril dele, mas quando estava prestes a se encaixar em seu colo, Nan perguntou, curiosa:

- Vocês dois podem fazer isso? Eu achava que, quando se está cortejando alguém, o máximo que pode fazer é beijar-lhe os lábios; não que eu os esteja advertindo, como Diana. Apenas estranhei.

- Não é ideal, acredito, muito menos em público, mas nunca nos importamos muito com essas coisas - Tania deu de ombros. Entretanto, se afastou.

- Meu pai disse que não tem problema, desde que as duas pessoas envolvidas estejam a vontade - respondeu Bert, puxando a Stacy para perto de si levemente - mas que devo tomar cuidado; ele e mamãe se casaram cedo porque ela estava grávida de mim - ele estava aprendendo a falar do pai sem sentir vontade de chorar. Blythe apoiou o queixo na barriga da namorada, que acariciou os cachos arrepiados - qual vai ser a sua próxima leitura?

- Bridgerton - ele franziu a testa - sim, eu sei. Não quero ouvir uma palavra de julgamento

- Não, não é isso - se levantou e desenterrou um livro da pilha no canto da cozinha - tivemos a mesma ideia - jogou para ela, que agarrou o primeiro volume d'Os Bridgertons no ar - comprei na Terça-feira, quando você estava ensaiando - o teatro de Charlottetown finalmente estava de volta à ativa, e voltaria com tudo. Tania estava em tantas coreografias que precisava passar seis tardes por semana na cidade, e Gilbert, é claro, sempre ia junto.

Talvez ela não precisasse esperar cinco anos, afinal.

- Você, o cavalheiro e certinho Gilbert Blythe, comprou esse livro que tantos consideram execrável? - provocou, folheando a obra.

- Execrável? Por quê? - perguntou Bash.

- Leia - pegou o exemplar das mãos da garota - e descubra - entregou ao amigo, que franziu a testa.

- O livro é impróprio? Como o sonho de Diana? - questionou Anne. Bert ergueu as sobrancelhas.

- Bem mais impróprio do que o sonho de Diana, pelo que dizem - olhou de esguelha para o namorado, sorrindo.

- Eu.. não precisava saber disso.

- Desculpe - disse a ruiva, as bochechas da cor de seus cabelos; não deveria falar daquele tipo de coisa com um menino.

- ..Gente, alguém sabe o nome daquilo que policiais carregam? - pediu Nia, achando melhor mudar de assunto - Só consigo me lembrar em francês - problemas de ser poliglota; quando se sabe falar mais de um idioma, não sabe falar nenhum. Ela perdera as contas de quantas vezes precisara procurar palavras no dicionário inglês-francês, ou no inglês-russo.

- Arma? - estranhou Gilbert.

- Não, não.. é um tipo de bastão retrátil - bateu os dedos na mesa, impaciente.

- Diga o nome em francês, talvez seja parecido - Nan sugeriu.

- Bâton.

- Não ajudou muito.

- Pois é. É... é feito de madeira ou ferro, aumenta de tamanho quando eles vão usar.. comment s'apelle cette merde? ...Cassetete! - gritou, anotando no caderno antes que se esquecesse.

- Eu nunca, jamais, teria adivinhado - concluiu sua irmã.

Sebastian ainda analisava Bridgerton.

- Parece um livro como qualquer outro.

- É um livro com qualquer outro. É estigmatizado por ter momentos explícitos - explicou o Blythe. Bash alternou os olhos entre o casal.

- Explícito? - atazanou.

- Shiu!

- Eu não disse nada.

...

Infelizmente, Gilbert não acatou a sugestão de Tania de faltarem aula para ficar estudando em casa, então os três guardaram fatias de bolo e garrafas de café com leite nas cestas, e se dirigiram até a escola.

- Vocês acham que a Alice é louca?

- Creio que não; é implícito nos livros que suas aventuras no País das Maravilhas não passam de sonhos, e todo mundo tem sonhos esquisitos.

- Mas ela acredita que as aventuras são reais - contra argumentou Bert.

- A pobrezinha não passa de uma criança, é de se esperar. Além disso, se Alice é louca, nós três somos o Coelho Branco, o Chapeleiro Maluco e a Lebre de Março.

- E quem disse que não somos? - eles gargalharam.

..

Algo antigo, algo novo, algo emprestado, algo azul, e uma moeda de prata em seu calçado.

O véu que fora usado por muitas gerações de sua família, brincos presenteados por Tillie, os saltos favoritos de Jane, um broche de lápis-lazúli dado por Ruby, e a moeda de seis centavos que um primo de Diana enviara da Inglaterra.

- Agora tenho tudo de que preciso para o casamento perfeito - animou-se Prissy.

- A moeda soa dolorosa.

- Soa como um feitiço para a felicidade! - elas riram.

A alegria foi interrompida quando Billy de repente deu um empurrão gratuito em Cole. Anne se assustou, e Tania apertou os punhos.

Gilbert se levantou e emparelhou com Andrews, que deu uma risada debochada.

- Uuu vai defender esse maricas? Ele é seu namorado, Blythe? Eu tomaria cuidado se fosse você, Tania Stacy - Bert sorriu com escárnio. Passou a língua pelos dentes.

- Sinto dizer, Billy Andrews, mas se age assim para esconder que o 'maricas' é você, está falhando - Billy o empurrou.

- Cale a sua boca - seu nariz estava a poucos centímetros do outro.

- Deixe Cole em paz - rebateu. Andrews, em um deslize, baixou os olhos para a boca dele por um segundo. A turma toda percebeu. Blythe notou o loiro pegando impulso para socá-lo - eu não faria isso se fosse você.

Andrews inspirou ruidosamente, o olhou com ódio por um momento, e foi para seu lugar, tendo notado Philips entrando na sala.

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora