Capítulo 87

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Com os olhares de metade da turma sobre si, porque ela e Gilbert ainda eram a maior fofoca da escola (mesmo com o casamento improvável da senhorita Peter), Tania se levantou, se colocou de pé atrás dele e começou a massagear seus ombros.

Quando sentiu-o respirar fundo e relaxar um pouco, ela passou os braços ao redor dele em um abraço por trás, deixou um beijo suave na curva de seu pescoço e disse um rápido "eu te amo" antes de voltar para a própria carteira, ao lado de Ruby.

...

- Mas não é essa a razão da vida, procurar emoções? - reclamou Anne, mais tarde, no Clube de Estórias.

- Acredito piamente que a razão da vida seja chocolate.

- Nia, isso é sério - brigou, antes de voltar ao assunto - quero dizer, o que acontece? Um sorriso te leva à morte?

- Nós nunca fomos convidados antes - Diana acrescentou, frustrada - mas agora não poderemos ir porque meu pai pegou um resfriado.

- Ah! - continuou Nan, ultrajada - É um absurdo que as mulheres não possam viajar sem a companhia de um homem.

- É para a nossa segurança, querida - suspirou Tania.

- E do que um homem poderia me proteger em uma festa? Não é como se um urso fosse entrar de penetra - zombou.

- Não de ursos, Anne.

- Então de quê? - exasperou-se.

- De homens maldosos - explicou - não imagino que vá haver algum em uma festa da tia Josephine, é claro, mas Marilla zela demais por nós para nos deixar à mercê da sorte.

- Como assim 'homens maldosos'? - perguntou Diana, temerosa.

- Homens como aqueles que encontramos no bar. Lembra-se de que ficou com medo?

- Bem, os olhos dele eram assustadores - defendeu-se.

- Escute, mesmo que houvesse um homem maldoso, que tipo de coisa ele poderia me fazer? Não me deixo abater por olhares. E independentemente do que fizesse, por que outro homem poderia me defender, mas eu não poderia proteger a mim mesma?

- É uma questão de respeito e força física, Nan. Os homens respeitam muito mais outros homens, além de serem naturalmente mais fortes do que nós, por causa de um hormônio chamado testosterona.

- Mas por que eu precisaria de alguém forte? - insistiu - Já lhe disse, nenhum urso vai entrar na porcaria da festa!

- Anne! Olhe a boca - Di advertiu - mas eu também não estou entendendo, Nia - admitiu.

- Eu é que não vou explicar. Apenas saibam que há um motivo bastante válido - encerrou o assunto.

- Bem - a Barry voltou ao que estava dizendo anteriormente - vocês sabiam que tia Josephine contratou uma pianista renomada para se apresentar?

- O quê? - exclamou Anne.

- É, mundialmente conhec- parou de falar ao ver Cole, que estivera desenhando silenciosamente no canto da casinha de madeira, se levantar subitamente e jogar seu caderno de desenhos na pequena fogueira que haviam acendido.

- Cole! - exasperou-se Tania, pegando um galho grosso para tentar tirar o caderno do fogo sem se queimar, com a ajuda de Anne, que guinchava:

- O que você fez?

- Deixe - ele ordenou, a voz trêmula de raiva e dor - eu disse para deixar! - insistiu, os olhos cheios de lágrimas. As irmãs Cuthbert finalmente conseguiram tirar os papéis da fogueira.

- Cole.. por que fez isso? - questionou Diana, o lábio inferior tremendo.

- Já deveria ter melhorado - respondeu, se referindo a seu pulso, que jamais fora o mesmo após cair da escada.

- E vai melhorar - jurou Nan - só precisa de temp-

- Eu já tirei o gesso a semanas! Não é a mesma coisa - falou pausadamente, tentando fazê-la entender - eu não consigo mais desenhar!

- Está bem, tudo bem - Nia disse baixinho, ao ver que o amigo parecia tentado a sair correndo dali - senta, por favor - ele começou a juntar as próprias coisas - Cole, senta! - respirando pesadamente, ele obedeceu, assim como as meninas - Ótimo. Agora falem, um de cada vez - a Shirley levantou a mão - Anne.

- Cole, você não pode desistir da sua arte.

- Eu não quero falar sobre isso! Só.. - não completou a frase.

Eles decidiram ir para casa.

- Esse dia deveria estar mais frio para combinar com o nosso humor - choramingou Nan enquanto arrumavam as coisas para sair.

- É por isso que a tia Jo faz a festa - a Barry explicou - um soirée alegre de verão para espantar a depressão do inverno - fecharam a porta da casinha e seguiram a passos lentos.

- Poderia ser mais perfeito? É tudo o que precisamos.

- Fale por você, meu humor anda incrível. Acho que vocês três deveriam arranjar namorados - brincou... espere aí - namorado! Eu tenho um namorado!

- Só percebeu agora? - sua irmã ironizou.

- Não, não, querida, escute: Gilbert é um homem, e Cole também! - adicionou ao se dar conta do fato.

- Oh céus - animou-se Diana - poderíamos convencer nossos pais a permitir que eles nos acompanhem à festa!

- Marilla teria que ceder - bradou Anne - como ela poderia dizer que uma festa não é lugar para crianças se vocês dois e Gilbert forem?

- E os dois são bem altos - acrescentou Diana.

- Ah, Cole, não é exatamente do que você precisa? - perguntou Nia - Tantos artistas comparecem às festas da tia Jo! São incrivelmente cheias de vida; e nunca se sabe, talvez algum convidado conheça técnicas para estabilizar o punho; e mesmo que não seja o caso, imagine todas as maravilhas sobre as quais poderemos conversar com eles.

- Ir a uma festa? - caçoou o Mackenzie - Conversar com estranhos?

- Você vai gostar, eu prometo - a Stacy insistiu - sabe que eu também não gosto muito dessas coisas; mas as festas da senhorita Josephine são realmente fantásticas, tem música boa, e arte por toda parte, e pessoas tão perfeitamente interessantes!

- ..Meus pais jamais me permitiriam perder um Sábado na fazenda.

- Se pensarmos em um plano - disse Anne lentamente - você vem? - ele olhou ao redor e suspirou profundamente.

- Vou - as três soltaram gritinhos de animação.

Mais tarde, enquanto elas traçavam uma estratégia, Diana perguntou:

- Nia, como sabe tanto sobre as festas da tia Jo?

- Tia Gertrude era minha tia-avó; papai e mamãe nos levavam às festas delas todos os anos, e consigo me lembrar de tudo com clareza. Eram as minhas noites favoritas no ano inteiro - rememorou com adoração.

- Como se lembra? Tenho pouquíssimas memórias do início da minha infância - Di estranhou.

- Quando se recorda pouco de alguém, ou de uma época no geral, você se agarra com muita força às lembranças que tem, acredito. As festas sempre me pareceram bastante vívidas - deu de ombros.

- Não consigo me recordar de nada antes do orfanato - entristeceu-se Nan.

- Você era muito pequenina, querida - solidarizou-se a irmã - mas anime-se, faremos memórias incríveis na festa!

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora