Capítulo 9

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No dia seguinte, não aguentando mais, a Cuthbert mandou Jerry preparar a charrete.

- Vamos, rápido! - exclamou, estressando Belle, a égua.

- Desculpe, senhorita Cuthbert, eu ainda não tinha terminado - disse, tentando acalmar a pobre equina.

- Por favor, se apresse! Continue trabalhando no celeiro - ordenou, antes de se virar para a garota - coloque lenha na cozinha. Preciso ir!

Quando estava saindo, Rachel Lynde apareceu, gritando por ela.

- Marilla! Marilla!

- Eu preciso ir - rebateu.

- Espere! Espere! - se acalmou - Espere. Thomas saiu assim que amanheceu; eu vim avisá-la.

- Aonde ele foi?

- Ora, procurá-los. O único motivo para Mathew sair às pressa poderia ser para buscar a Anne. Como não voltaram, ficamos preocupados.

- Por favor, saia, Rachel.

- Sabia que já estariam desesperadas.

- Eu preciso ir!

- Não, querida, preste atenção - sra. Lynde conseguiu manter a calma - o Thomas vai até a estação de trem e vai checar a ferrovia no caminho.

- E se ele estiver morto numa vala?

- Marilla!

- E se os dois estiverem?

- Já chega.

- E se alguma coisa terrível aconteceu por minha culpa?

- Pare com isso, Marilla! - o tom de Rachel não abria espaço para que a outra negasse - menino - ela chamou Jerry, que se apressou até lá - Thomas está quilômetros à sua frente. A única coisa que temos a fazer agora é esperar - a amiga suspirou - leve o cavalo.

- Sim senhora - o jovem francês respondeu, começando a cumprir a tarefa.

...

As três logo entraram na casa e Tania rapidamente preparou um chá, saindo em seguida para ficar na companhia de Jerry.

...

De noite, para tentar se distrair da preocupação, as duas se puseram a limpar e realizar todas as tarefas de casa com afinco, além de fazer pães como duas maníacas. Elas levaram alguns desses pães para o Baynard de manhã. Marilla lhe estendeu o prato.

- Pra mim? - as duas assentiram, tendo dificuldade em colocar palavras pra fora - Merci - agradeceu, estranhando muito a ação.

- Tem mais, se quiser.

- Obrigado - repetiu. Após a saída das mulheres, ele deve ter ficado uns cinco minutos processando a esquisitice da conversa.

...

Ao entardecer, Marilla não aguentou mais e começou a chorar, enquanto Tania andava de um lado pro outro em frente a porta, prestes a acompanhar a mais velha, quando ouviram Meia-noite relinchar e se apressaram para fora, vendo Mathew e Anne chegarem; a Stacy foi correndo abraçar os dois, mas a Cuthbert lhes deu uma bronca.

- Você demorou muito para trazê-la!

- Desculpe por deixá-la preocupada, Marilla - ele pediu, vendo os olhos marejados da irmã.

- Olá, senhorita Cuthbert.

- Olá, Anne. É bom ter você de volta. Por favor, leve suas coisas para o quarto.

Quando chegou à porta, a ruiva olhou para trás, esperando um pedido de desculpas que não veio.

Enquanto Anne se reinstalava em casa, Mathew lhes contou sobre o que aconteceu; como ele chegou atrasado na estação de trem, foi a Charlottetown (omitiu a parte onde bateu a cabeça), pegou a balsa para Nova Escócia mas não achou a menina no orfanato, como descobriu pelo leiteiro que ela estava na estação de trem, como a encontrou lá tentando conseguir dinheiro para uma passagem de trem pra Hallifax recitando poemas e contando histórias, como eles brigaram mas se resolveram quando Mathew a chamou de filha e como eles finalmente voltaram para casa.

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De noite, deitada na cama, não importava o quanto se virasse e revirasse, Tania não conseguia dormir. Tentou sem coberta, com coberta, sem travesseiro, com travesseiro, tentou até abraçar Alya como se ela fosse um bichinho de pelúcia (o que deixou a gata profundamente irritada, por sinal), mas nada a ajudava a cair no sono.

Desistindo, ela foi silenciosamente até seu armário, pegou o kit de costura e os tecidos guardados no fundo, e tentou fazer um vestido.

Tania queria muito, desesperadamente, aprender a costurar. Não é como se seu objetivo fosse ser uma dama ou encontrar um marido; quando ela era pequena, sua mãe sempre costurava vestidos e os dava de presente para as pessoas das quais gostava, em especial para ela, e tudo que Tania mais queria era conseguir tirar de quem amava sorrisos tão grandes quanto a querida mãe fazia; além disso, anos atrás, seus pais haviam aberto uma loja de roupas em Charlottetown, que estava fechada desde sua morte, e a jovem Stacy queria muito honrar a memória deles reabrindo o estabelecimento.

Ela passou a noite toda costurando, e acabou por cair no sono poucos segundos antes de o galo cantar, mas estava tão cansada que continuou a dormir.

Ao ir acordar as garotas e encontrar a mais alta deitada em cima do vestido não terminado, Marilla optou por deixá-la faltar aula e dormir.

...

Horas depois, Tania acordou. Ao olhar o relógio e descobrir que eram 2 da tarde, ela foi correndo até lá embaixo.

- Por que não me acordou? - perguntou, acusatoriamente, para Marilla.

- Você precisava dormir. Tenho certeza de que seu professor vai entender, além disso, Diana passou aqui a alguns minutos para deixar anotações e dever, então você não perdeu nada - a Stacy encontrava-se grata pela compreensão da mais velha, ainda mais porque, se tivesse ido para a escola, provavelmente teria passado a manhã toda dormindo de mal jeito na carteira, e estaria agora com dor na coluna.

- Tem razão, obrigada. Onde está Anne?

- Foi dar uma volta com Diana.

- Posso ir também?

- Pode, mas lembre-se de fazer o dever de casa assim que voltar, está bem? - Tania assentiu, pegou rapidamente um cacho de uvas na fruteira em cima da mesa, e saiu.

Encontrou a dupla de melhores amigas conversando perto da cerca.

- Impossível!

- A senhora Cuthbert ficou tão mal que Rachel Lynde achou que ficaria doente - a jovem Barry insistiu.

- Im-pos-sí-vel - a ruiva finalmente a viu - Tania, por favor, diga para Diana que Marilla, obviamente, não ficou preocupada comigo - pediu.

- Se dissesse isso estaria mentindo - Anne a olhou, cética - juro! Ela estava surtando, fez pães o suficientes para um mês, limpou tanto a casa que o chão ficou escorregadio, e até chorou! - a Stacy escondeu a parte de que também havia surtado de preocupação.

- Duvido.

- Estou falando sério - insistiu.

- Então por que ela não demonstra? É difícil acreditar que Marilla sofreu quando ela parece não gostar de mim.

- Mas você está em casa - Diana mudou de assunto, sorrindo, e abraçou Anne, deixando Tania constrangida, então ela saiu e voltou para seu quarto, focando em terminar o vestido que tinha começado na noite anterior.

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora