Capítulo 66

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- Os da Prissy também - comentou Jane - mamãe os enche de manteiga de cacau.

- Vocês acham que a Prissy e o senhor Philips já se beijaram? - perguntou Ruby com animação.

- Ainda não - respondeu Jane, e elas riram. Tania sorriu de levinho, constrangida; achava o fato de o senhor Philips flertar com Priscilla nojento - mas imagino que será em breve. A Prissy está estudando para os exames de admissão na Queens, e as vezes o sr. Philips vai lá em casa dar aulas de reforço - elas deram risadinhas.

- Mas a Prissy é só dois anos mais velha do que nós - estranhou Tillie.

- Eu pretendo ter meu primeiro namorado oficial quando tiver 15 anos - falou Ruby. Sendo uma romântica incorrigível, ela esperava ter vários namorados - espero que Gilbert tenha voltado até lá - Nia desviou o olhar. Anne bateu os olhos nela por um segundo antes de lembrar que as outras poderiam perceber.

- Você só pensa em namorados, Ruby - Nan comentou com uma risada constrangida.

- E o que há de mal nisso? - rebateu.

- Eu nunca vi um beijo de verdade antes - Tillie refletiu - os meus pais não fazem isso - "que casamento triste", a Stacy pensou.

- Uma vez eu ouvi a senhora Lynde e o marido de beijando - Jane disse - o som parecia com uma vaca tentando desatolar de um pântano - as garotas riram. Tania não avisou que aquilo era bem mais do que um beijo.

- Quando alguém vier me beijar, eu tenho medo de fazer algo bobo - admitiu Di - ou esquecer de fazer alguma coisa que deveria. Digo, quais são as regras? Por que não existe uma etiqueta do beijo?

- Porque não precisa de uma - Nia explicou - você sabe o que fazer quando a hora chega - deu de ombros. Era verdade. O primeiro beijo com Gilbert foi apenas um encostar de lábios, mas, nos que o seguiram, Tania apenas fez o que seu corpo teve vontade, a pareceu dar certo; será que Bert também havia gostado?

- E como você sabe disso, senhorita Tania Stacy? - Ruby deu um empurrãozinho no ombro dela. Porcaria - Meu irmão finalmente tomou uma atitude? - as meninas deram risada. Ela sorriu falsamente. Abriu a boca e a fechou, sem saber como responder.

- O Perseu é lindo - disse Jane com um risinho.

- Ele e Tania passaram a colheita inteira juntos no ano que ele foi embora, não é? - comentou Tillie, animada.

- Percy tem estado apaixonado por ela desde então.

- Ele ficou noivo, Ruby. Obviamente estava apaixonado pela noiva dele - falou simplesmente.

- Bem, então agora está apaixonado por você - insistiu. Tania sorriu amarelo.

- O que acham de inventarmos um jogo para aprender a cortejar? - sugeriu Anne, mudando de assunto; obrigada, Nan! - Com bravos cavaleiros e princesas encantadas - acrescentou - e bruxos e bandidos! - elas se agitaram - Vai ser um ótimo treino. - completou - Diana, você pode ser o jovem rapaz galante - Diana apoiou-se em um joelho, curvando-se para a melhor amiga, que bateu uma pena nos ombros dela como se fosse uma espada - príncipe Wisteria, deixarás voar a pluma da fortuna, e escolherás a sortuda donzela? - a Stacy segurou a risada. O príncipe era o sortudo.

- Eu o farei - respondeu Di solenemente. Ela levantou-se, ergueu a pena no meio do círculo, e soltou-a.

As plumas fizeram cócegas no nariz de Tillie, que sorriu, pôs-se de pé e foi até a Barry.

- O que devo fazer, Diana?

- Tillie - brigou Nan com um sorriso - não deve falar com o príncipe Wisteria como se ele fosse Diana. Isso acaba com a fantasia - completou com uma piscadela. Tillie assentiu e virou-se de costas para o príncipe.

- Estou à espera do jovem e formoso príncipe que vim reivindicar - falou em tom nobre.

Diana, perdão, Wisteria limpou a garganta e lhe tocou o ombro, fazendo-a se virar.

- Ora, quem será essa honesta e nobre donzela? - perguntou, tentando engrossar a voz. Todas riram. Ela então apoiou uma mão na cintura de Tillie e uma no pescoço, deitou-a no ar e lhe concedeu um beijo molhado na bochecha.

As garotas gargalharam e bateram palmas.

- Por quê a moça deve esperar pelo rapaz? - a Shirley perguntou.

- O quê?

- Ficou maluca?

- Anne, você está bem? - Tania cobriu a boca para conter a risada que aquela fala de Ruby proporcionou.

- Se quisesse beijar um garoto, eu não poderia simplesmente beijá-lo?

- Não!

- Obviamente não!

- Claro que sim! - disse Tania, fazendo-as se calarem e arregalarem os olhos para ela - Acham mesmo que os garotos estúpidos dessa cidade farão algo se vocês não fizerem primeiro? Estamos falando de Charlie Sloane e Moody Spurgeon, pelo amor de Deus! - elas caíram na gargalhada.

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- Que vista - comentou Bash no intervalo. O barco estava se aproximando da América - gostei do novo plano, Doutor. Canadá. Estou animado pra ir - ao longo dos meses no barco e fora dele, Gilbert e Sebastian ficaram mais próximos; foram de desconhecidos a irmãos. Então, quando decidiu voltar, Bert sugeriu que o amigo fosse com ele.

- Você está abusado - comentou o Blythe, ao ver um homem encarar Bash com nojo - vindo a esse nível do deque - brincou - vai estar encrencado se o chefe descobrir que veio até aqui em cima.

- Eu aguento - deu de ombros, rindo do humor negro do menino - quero ver aonde vou, pra variar. Sentir o vento no rosto. Avonlea à minha frente - sorriu - dez anos nesse navio carregando carvão. Eu mereço isso - seus olhos brilharam - até porque, o que vão fazer? Me demitir? Me jogar no mar? - os dois riram - No pior dos casos limparei as latrinas.

- Se minhas opções fossem isso ou as latrinas, eu correria o risco pelo Atlântico - comentou, memorizando a vista do mar azul.

- Opções. Gosto dessa palavra. As coisas vão mudar, começando agora.

- É - sorriu. Bert estava especialmente ansioso para uma mudança: a de Tania para a casa dele.

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Chegando na escola, todas as meninas (exceto Josie) juntas, foram colocar os potes de leite no riacho para que não esquentassem com o sol.

- Já perceberam como riachos são alegres? - comentou Anne. Nia escutou por alguns segundos.

- Estão sempre rindo - percebeu. As garotas sorriram.

Quando se abaixaram para encaixar os potes entre pedras do riacho, Billy Andrews e dois amigos passaram correndo por elas e ergueram suas saias.

- Balofa! Esqueleto! - Billy gritou quando levantou as saias de Tillie e Anne respectivamente.

- Mantenha suas mãos longe de mim! - Nan gritou. Sua irmã estava ocupada procurando uma pedra suficientemente aerodinâmica.

- Não se importe com eles, Anne. São só meninos sendo meninos. Adoram atormentar nossas vidas - Diana tentou consolá-la. Andrews e os amigos continuavam rindo delas.

- Ah eu me importo sim, me importo muito - se virou para os meninos - uma saia não é um convite! - Tania aproveitou o momento para jogar as três pedras que encontrara.

Uma atingiu Billy bem na barriga, e as outras duas bateram na coxa e pescoço dos amigos dele.

- Tania - exclamou Diana, chocada com a atitude da amiga. Ruby, Jane e Tillie a encaravam de olhos arregalados.

- Sua cadela - berrou Billy, começando a se aproximar dela.

- Mais um passo e meu próximo alvo é seu nariz - ameaçou, antes de entrar a passos duros na escola.

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora