Capítulo 47

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Durante a aula, enquanto o sr. Philips lia Cameolt sendo intensamente encarado por Prissy Andrews (porque sim, toda a família Andrews precisava de ajuda psiquiátrica), Cole desenhava sua visão do castelo do poema.

- Eu acho esse poema inteiro uma vergonha - Josie interrompeu a leitura - ele deveria ser execrado.

- Josie? - os bigodes do professor tremiam.

- Guinevere é casada com o rei, não com Lancelot - aproveitando a interrupção, Anne cometeu o erro de fazer um pedido:

- Oh, senhor Philips, pode pular para a parte onde o amor puro e sincero de Elaine vira uma tragédia?

- Não - respondeu ele secamente - e não me interrompam novamente - e voltou à leitura monótona que fazia os ouvidos de Tania doerem.

Então uma comoção aconteceu no lado direito da sala, onde sentavam-se os meninos. O pote de tinta de Cole caiu em seu desenho, arruinando-o.

- Cole? O que aconteceu aí? - perguntou Philips em tom de ameaça.

Cole virou-se para Billy, lhe lançando um olhar cheio de rancor, antes de responder ao professor:

- Me desculpe, sr. Philips, eu vou limpar - ia se abaixar para catar alguns papéis que haviam caído no chão, quando o professor tornou a falar.

- Você está desenhando, enquanto me dedico incansavelmente à sua educação? Para a lousa! - o Mackenzie tentou novamente se abaixar para resgatar os papéis do chão, mas foi impedido - Agora! - gritou Philips.

Tania e Anne discretamente se levantaram de suas carteiras e puseram-se a recolher os desenhos que tinham caído.

Anne parou por um segundo para admirar as poucas partes do castelo de Camelot que não estavam cobertas de tinta, antes de se sentar ao lado da irmã.

Não vou desenhar durante a aula, o senhor Philips havia escrito no quadro.

- Gosta de desenhar? - andou devagar até Cole - Desenhe isto - colocou o giz na mão do aluno com agressividade - Faça ficar legível - posicionou-se novamente em seu lugar, entre a lousa e a classe, enquanto o Mackenzie escrevia atrás dele - de volta à leitura.

Depois de alguns segundos, o homem se virou para Cole, que batera com o giz no quadro após escrever a frase que lhe foi pedida com tantos floreios quando um calígrafo.

- Menos enfeite - disse com escárnio - vai precisar de espaço para mais cinquenta - e apagou o que o aluno havia escrito.

- Qual é o seu problema? - Tania se levantou.

- Perdão?

- Por que você sempre implica com Cole? Ele estava quieto, prestando atenção na sua desculpa esfarrapada para uma leitura, enquanto vários outros alunos estavam conversando e fazendo gracinhas. Por que puniu ele? - ergueu o queixo. A sala havia caído em completo silêncio. O rosto do professor estava vermelho como cerejas.

- Tania Stacy - disse com a voz trêmula de raiva - se acha tão injusto que seu amigo seja punido, por que não o substitui você mesma?

- E por que o senhor não enfia esse giz no olho do seu-

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- Eu sinto saudade de muitas coisas neste lugar - Bash comentou com Gilbert enquanto eles andavam pela enorme estrada cheia de barraquinhas de venda - para a minha sorte, elas estão todas aqui.

- Quanto custa? - Blythe perguntou a um vendedor, apontando para um pote cheio de um caldo que tinha cheiro de paraíso.

- Quanto você tem? - o homem rebateu. O menino colocou a mão no bolso, mas Sebastian o interrompeu.

- Ele não tem nada, nem um centavo - passou o braço pelos ombros do garoto - eu te disse que aqui é apenas um atalho.

- Então por que temos que andar em meio a essas tentações deliciosas? - reclamou.

- Seja paciente, menino do campo. Aqui, coma essa manga - estendeu para ele uma fruta colorida - é deliciosa, se prepare para a experiência - Gilbert deu uma grande mordida, provando a manga com casca e tudo - é bom, não é? Cuspa a casca, não engula.

- Se não vai me matar eu não vou desperdiçar - deu de ombros, engolindo. Bash riu dele.

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- EU NÃO ACEITO QUE FALE ASSIM COMIGO! - Tania se esforçou para não se encolher com o grito do professor.

- ENTÃO PARE DE SER UM IMBECIL INJUSTO! - rebateu. Philips respirou fundo.

- Venha aqui - chamou, sua voz mal passava de um sussurro. Ela não se mexeu - eu disse.. - agarrou o braço dela e a puxou, enquanto a garota tentava arrancar as mãos dele de si - venha aqui! - bateu o antebraço da morena na mesa, abriu a gaveta e pegou uma vara de marmelo.

- Seu monstro violento e nojento - Tania exclamou, tentando se desvencilhar das mãos dele.

Os alunos encaravam a cena de olhos arregalados, mas ninguém se atreveu a dizer qualquer coisa, apesar de Cole e Anne parecerem mais do que preparados para matar o professor a chicotadas.

- É isso que você ganha por ser uma pirralha desrespeitosa - e desceu a vara na mão dela.

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- Trocou isso pela sala das caldeiras? - Gilbert perguntou a Bash, ao ver a enorme casa onde a mãe do homem era serviçal.

- Para trocar você precisa ter escolha - virou-se para trás e rapidamente puxou o garoto para trás de um arbusto, bem a tempo de eles não serem vistos pelos moradores, que chegavam a cavalo.

Não tendo sido vistos, ele continuaram o caminho até o lugar onde a senhora Lacroix estava.

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Tania fez um esforço descomunal, e conseguiu ficar calada e encará-lo sem demonstrar emoção ou derramar uma única lágrima.

- Espero que isto sirva de lição para todos vocês - bateu a vara na mão dela mais uma vez - para que não - de novo - desrespeitem - última vez - os seus superiores - com as narinas infladas, ele guardou novamente a vara na gaveta - pode se sentar - murmurou para Tania, que foi devagar até a própria carteira - continuemos com a aula.

A Stacy se sentou ao lado de Anne, que disse aos sussurros:

- Ah Tania, eu sinto tanto. O senhor Philips é um ogro e arrogante, é ele quem merecia apanhar de var-

- Anne - a morena pediu baixinho - por favor - a Shirley acatou o pedido silencioso e parou, apoiando o queixo na mão e passando a encarar professor com ódio absoluto.

Respirando fundo para tentar acalmar a tremedeira, Tania olhou para a própria mão.

A palma estava em carne viva, escorrendo pequenas gotas de sangue que só faziam arder mais.

Céus, como ela odiava o orfanato.

Aquele pensamento veio de repente, mas causou uma reação em cadeia de memórias horríveis.

Segurando as lágrimas e tentando pensar em qualquer outra coisa, ela arrancou um pedaço de tecido da camada inferior branca da saia do vestido e o enrolou na mão, dando um nó no fim.

- Tania - Ruby estava ajoelhada ao lado da carteira dela, junto de Diana.

- Sentem antes que ele machuque vocês também - ela disse imediatamente.

- Você está bem? - a Barry cochichou, pegando a mão pálida da amiga.

- Não, Diana, não estou, e ficarei ainda pior se Philips perceber que vocês estão fora dos lugares.

- Eu sinto muito, Nia.

- Eu sei, Biby. Agora volta pro seu lugar, por favor - as meninas assentiram e voltaram sorrateiras para a própria mesa.

O resto da aula foi obscurecido pelas incontáveis lembranças do orfanato que assombravam a mente de Tania.

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora