Anne e Tania cantavam em voz baixa e sem emoção, e enquanto a morena estava tentando se distrair da preocupação com a própria imaginação, ruivinha criava os mais horríveis cenários, sendo consumida pelo desespero e saindo correndo da escola para que não surtasse ali mesmo.
Antes que sua irmã a seguisse, Diana se apressou atrás da melhor amiga.
...
Alguns minutos depois, com o fim do ensaio, Tania foi para casa, tropeçando no caminho diversas vezes por estar com os pensamentos distantes.
Cole, que não participaria do coral, estava indo até a escola naquele momento, pois havia sido combinado que acompanharia a amiga até Greengables. Ela, é claro, tinha esquecido, e ficou confusa por um segundo ao esbarrar com ele no bosque.
Lembrando-se que deveria estar esperando pelo Mackenzie na escola, ela tratou de se desculpar.
- Perdoe-me por não ter esperado, estava com a cabeça nas nuvens e me esqueci completamente - explicou, espanando a neve dos ombros do loiro.
- Tudo bem - sorriu e pegou os materiais da Stacy, carregando-os para ela como o bom cavalheiro que sua mãe havia lhe ensinado a ser - no que estava pensando?
- Josie Pye estava fazendo fofocas, e não acho que seja mentira - apressou o passo.
- Que tipo de fofocas?
- Disse que os Cuthbert's estão pobres. Se estivéssemos eles teriam me contado, não? - questionou duvidosa.
- É claro que teriam - o garoto garantiu, quase tendo que correr para acompanhá-la.
- Mas o tio de Josie trabalha no banco, e aparentemente disse para ela que Mathew hipotecou a fazenda. Marilla ama Greengables de todo o coração, não deixaria que ele a hipotecasse a não ser que fosse a última opção. Não faz sentido! - parou de uma vez, exasperada - Nenhum sentido - insistiu, franzindo a testa para uma árvore próxima, como se a pobrezinha fosse a culpada daquilo.
- Por que você não pergunta a eles antes de tirar conclusões precipitadas? - Cole sugeriu com sabedoria.
- É, você está certo - suspirou, abrindo a porteira - obrigada por me acompanhar - beijou a bochecha dele, pegou de volta seus materiais e correu até a casa branca e coberta de plantas.
Lá, ela encontrou Anne espiando pela janela uma briga acalorada entre Mathew e Marilla.
- Ficaremos bem, Marilla.
- Então agora, na sua idade, você quer trabalhar ainda mais? - a irmã gritou.
- É um pouquinho mais, só isso - exasperou-se o homem.
- Eu não quero que você faça mais, eu quero que faça menos! - o Cuthbert apertou o coração e, antes que a mulher entendesse o que estava acontecendo, desfaleceu no chão - Mathew? Mathew! - ela chorou.
Anne se apressou para dentro, enquanto Tania foi correndo montar-se em Meia-noite para buscar o médico.
...
Quando o amado Mathew já estava fora de perigo e repousava calmamente em sua cama, o médico lhes explicou a situação.
- Ele teve um ataque cardíaco - Tania soltou uma exclamação, cobrindo a boca com as mãos - a chamada trombose coronária. Ele teve sorte de não ter sido fatal, mas deve ter cuidado, ainda corre sério perigo - ela não podia perde-lo, não ele também!
- Perigo? - a jovem não entendia como Marilla conseguia manter a voz firme.
- Levará muito tempo para se recuperar. Serão meses de descanso, sem estresse ou trabalho físico - as três se entreolharam. Mas e a colheita?
- Obrigada - a mais velha agradeceu, sua cabeça já buscando soluções.
...
De noite, já muitas horas depois de terem se deitado, as meninas conversavam baixinho.
- Já que claramente não conseguimos fugir de assuntos deprimentes - Tania disse depois de elas terem, pela quarta vez, dado um jeito de voltar a falar sobre como estavam preocupadas com Mathew - o que acha de descermos e tentarmos ajudar Marilla? Tenho certeza de que ela está arrancando os cabelos de estresse.
As duas jovens desceram as escadas devagarinho, tomando cuidado para não acordar o querido Mathew, e puseram as pequenas velas que carregavam sobre a mesa, onde Marilla analisava documentos com muita concentração, até vê-las.
- Vocês deveriam estar dormindo - advertiu, ainda correndo os olhos pelos papéis que segurava.
- Você também - Anne rebateu, antes de sentar-se do lado direito da mulher e deitar a cabeça no ombro dela.
- Queria ser boa com números - disse com pesar, apoiando suavemente sua cabeça sobre a da Shirley.
- Gostaria de ajudar, mas temo que eu seja igualmente ruim - ruivinha suspirou.
Tania pensou por um segundo. Ela entendia física e mecânica, matemática não era tão difícil.
- Posso dar uma olhada? - estendeu a mão para Marilla, que lhe entregou os papéis enquanto ela se sentava do seu lado esquerdo. Lendo o documento, Tania foi fazendo setinhas indicando o que era cada quantia, enquanto explicava - Este é o dinheiro que o banco emprestou - apontou o número com a pena.
- Isso eu entendi - a mulher reclamou, não era assim tão leiga.
- E esta é a taxa de juros - olhou mais uma vez para o papel - caramba, é bem alta.
- Cinco por cento não parece muito - Anne comentou.
- Cinco por cento de 5000 dólares é bastante, Anne - a morena explicou - 250 dólares, para ser precisa.
- Como consegue calcular porcentagem tão rápido? - questionou Marilla - Sempre tive dificuldades.
- Aprendi regra de três antes de aprender que o país onde vivo se chama Canadá - deu de ombros, rindo de leve enquanto tornava a analisar o documento - ..o prazo pra pagar é muito curto - mordeu o lábio, nervosa - vejamos - pegou um caderno e giz e pôs-se a calcular - acho que o Mathew esperava pagar com o que ganharmos das novas safras e a das batatas, mas com ele acamado não tenho ideia de como vamos conseguir esse dinheiro - reprimiu uma exclamação de dor; havia rasgado a pele do lábio inferior com os dentes.
- Eu vou conversar no banco, preciso entender isso melhor - a mais velha concluiu.
- Tania é boa com números, eu sou boa com pessoas - disse Anne decidida - vou com você - respirou fundo - mesmo que não vá ficar comigo - Marilla demorou um segundo para processar.
- Não ficar com você? - a respiração da ruiva tremeu - Você é uma Cuthbert! Para o bem ou para o mal, assim como Tania; vocês não podem mais escapar - as meninas sorriram - e não precisa ir comigo - a Shirley limpou as lágrimas que teimaram em cair.
- Eu preciso sim - sorriu - sei que quando uma pessoa está tensa ela não entende o que ouve; é como se quem fala estivesse a milhas de distância ou embaixo d'água.
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The Fairy Queen - Awae
FanfictionTania ~ nome de origem russa que significa rainha das fadas. "Suponho que adoro minhas cicatrizes, porque elas permaneceram comigo por mais tempo do que a maioria das pessoas" - Nikita Gill Oc x Gilbert Blythe Fanfic baseada na série Anne with an e