Capítulo 13

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- Tudo bem, moça? - o Blythe perguntou para Anne, mas seus olhos castanhos não saíam de Tania.

- Preciso ir para a aula - a ruiva respondeu, pegando suas coisas que haviam caído no chão e indo apressadamente para escola.

- De nada! - o menino gritou, estranhando - Precisa de algo mais? Há algum dragão que precise ser morto?

- Segura o ego, cavalheiro - Tania disse, passando a andar ao lado dele, dando-lhe tapinhas no ombro.

- Quem é a ruiva?

- Por que quer saber? Interessado? Ela é bem bonita - provocou.

- Não. Sabe que eu só tenho olhos pra você - brincou, fazendo um biquinho, e a jovem empurrou seu rosto para longe dela, constrangida, porém rindo.

- Chama-se Anne Shirley-Cuthbert - respondeu a pergunta.

- Cuthbert?

- Te contei que os Cuthberts iam adotar um menino? - ele assentiu - Acabou acontecendo um erro e o orfanato mandou a Anne, e resolveram que ela poderia ficar - deu de ombros.

- Legal.

- Como foi a viajem?

- Boa. Ótima - corrigiu - meu pai adorou.

- Que bom - silêncio - corrida até a escola?

- Sempre! - exclamou, apressando-se em frente, rindo da exclamação indignada que Tania soltou ao perceber que ele estava a frente dela.

Na escola, Gilbert chegou logo ao lado de Anne, abrindo a porta para ela ("permita-me"), que se assustou, mas entrou ("obrigada"), um segundo antes de Tania, que deu um pescotapa no Blythe ("ai!").

- Me desculpe se fui indelicada - a ruiva disse, estendendo a mão para o moreno - meu nome é Anne.

- O meu é - foi interrompido por Moody Spurgeon.

- Gilbert! - cumprimentou, e todos os meninos se juntaram ao redor dele e o puxaram para longe, fazendo perguntas sobre a viajem e sobre seu pai.

Anne então foi lá para fora colocar seu leite no córrego, sendo seguida por Tania, que odiava com todas as forças quando os meninos começavam a conversar com Gilbert e ignoravam completamente a existência dela, o que não era raro; o que era raro, era o Blythe ir com eles.

Não demorou muito antes de Josie, Tillie e Diana irem até a Cuthbert, junto de uma Ruby chorosa. "Lá vem problema" Tania pensou, sentada ali perto.

- Não sei o que deu na sua cabeça de andar com Gilbert Blythe! - Josie esbravejou.

- E-eu - Anne nem pode terminar de gaguejar antes de Diana cortá-la.

- Não pode falar com ele!

- Não pode nem olhar pra ele! - Tillie exagerou.

- Bom, veja você mesma - a loira indicou a chorosa - a Ruby gosta dele a dois anos, ela o viu antes!

- Como se a Anne fosse obrigada a saber disso - a Stacy murmurou.

- O que disse? - Josie perguntou, tentando soar ameaçadora.

- Eu disse - elevou a voz - que a Anne não tinha como saber disso, e vocês estão sendo infantis.

- Qual é o seu problema?

- No momento, você - falou com um sorriso frio - Anne, querida, quando perceber que você merece coisa muito melhor do que elas, me procure - deu um beijo na bochecha da amiga e voltou pra dentro.

...

Já sentada em seu lugar, ao lado da parede, na mesma mesa que a ruiva, Tania pôde ouvir, assim como no dia anterior, vários cochichos, e decidiu prestar atenção para descobrir do que tanto falavam. O que ouviu a deixou chocada; não pelo fato em si, ela já tinha suas suspeitas, mas o fato de os alunos terem percebido.

- Que história é essa da Prissy Andrews ter tido relações íntimas com o sr. Philips? - perguntou para Anne.

- Eu e Diana os vimos se tocando ontem, na sala de suprimentos - a boca da Stacy formou um perfeito 'o'. Antes que ela pudesse perguntar qualquer coisa, o professor entrou na sala, e todos ficaram instantaneamente calados.

Ele andou de um lado ao outro da sala, antes de dizer:

- Abram seus livros na página 32. Leremos em voz alta o poema "O pescador" de Barry Cornwall - o sorriso de Anne poderia ter iluminado uma noite de lua nova.

- Finalmente uma coisa que eu sei fazer - exclamou animada para Tania, que sorriu em resposta.

- Fico feliz por você - ao notar que ela falava, sr. Philips pediu que fosse primeiro.

Indiferente, a jovem levantou de sua cadeira e pôs-se a declamá-lo, a voz suave, como sempre, cheia de entonação, mas nada muito exagerado. Algo que a incomodava muito na leitura em voz alta era que os outros alunos liam os poemas de maneira tão monótona que nem se podia chamar aquilo de declamar, então ela sempre punha pelo menos um pouco de emoção na voz quando era sua vez.

- Uma vida venturosa e triste como a dele não há. Segue o pescador solitário no mar. Sobre as águas revoltas tão longe de seu lar. Por um salário de fome ele precisa se lançar- foi cortada pelo professor.

- O salário é realmente uma miséria; pode parar. Garota nova - mirou os olhos em Anne - em pé, continue - Tania pôde perceber que ele queria humilhá-la, mas, na opinião dela, o tiro saiu pela culatra.

Ruivinha deu um show, declamou o poema com tamanha dedicação que Tania não duvidava nada que amantes da poesia pagariam para ouvir. Percebeu que Gilbert também ficou admirado, mas o resto da turma soltava risadinhas de zombaria.

- Sente-se! Deus tenha piedade - falou, enquanto os alunos davam risadas. Anne também ria, achando que estavam rindo com ela. Pouco depois de se sentar, percebeu que riam dela, o que a deixou pra baixo.

- Isso foi bizarro - Josie comentou, a Stacy estava por um triz de meter a mão na cara dela.

- Josie Pye - professor Philips chamou; porque, claramente, só ele tem direito de humilhar os próprios alunos - leia o poema de Thomas Campbell para nós.

...

No recreio, Anne se sentou sozinha, mas não demorou muito para que Tania fosse até ela, e, buscando a companhia da amiga, Gilbert também.

Para fazer amizade com a ruiva, tentou usar da mesma estratégia que usou para fazer amizade com a morena.

- Oi! Eu achei que você poderia gostar - estendeu para a Shirley uma maçã tão vermelha quanto os cabelos dela - é do nosso pomar e bem doce - Anne nem olhou para ele; ao entender que o motivo era o fato de Josie e outras estarem espionando pela janela, Tania deu um tapa na própria testa.

- Vá embora - ruivinha tentou dizer de maneira que as meninas não vissem sua boca se mexer.

- O que disse? - Gilbert e sua péssima audição.

- Você tem que se afastar, agora! - ao perceber que o Blythe ainda não tinha recebido a mensagem, Stacy poupou a amiga daquela conversa.

- Por que vocês não conversam depois? - enroscou o braço no do amigo e puxou-o para outro lugar.

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora