(Como uma boa adolescente que não saiu do quinto ano, eu ri quando escrevi o título. Sei que você riu também.)
E então, antes que Tania pudesse sequer processar o que estava acontecendo, o cabelo de Anne estava cortado rente à raíz.
Depois de ferver água para dar um banho quente numa Anne histérica, sua irmã a ajudou a se lavar e se preparar para dormir.
Na cama, coberta até o topo da cabeça, Nan ainda chorava.
Sabendo que ela passaria a noite toda aos prantos, a Stacy pegou seus cobertores e foi dormir no sofá.
Amava a irmã, muito mesmo, mas passar a noite acordada ouvindo o choro dela não ajudaria em nada.
Marilla a acordou duas horas depois.
- Querida, acho que Anne caiu no sono. Vá dormir no seu quarto, está silencioso agora - sussurrou.
Sonolenta, ela se levantou, subiu e capotou assim que chegou à própria cama.
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Na manhã seguinte, Tania acordou ao som da advertência de Marilla.
- Anne Shirley Cuthbert, o comprimento do seu cabelo é irrelevante para a sua educação. Não há razão para ficar em casa.
Exausta, a Stacy saiu lentamente de debaixo das cobertas e foi escovar os dentes.
Anne continuou desaparecida em meio aos lençóis.
- Por favor Marilla, não posso suportar a humilhação - implorou - é terrível demais!
- Não será tão ruim quanto você imagina - prometeu.
- Eles já me acham esquisita, o que vão pensar agora?
- Você vai à escola e ponto final - saiu do quarto um segundo antes de Tania entrar, com a escova de dentes pendurada na boca.
- Vamos Nan, você vai sobreviver, juro que vai - colocou na cama dela um belo vestido azul turquesa, casaco e gorro brancos de lã que a senhora Lynde havia tricotado, além de uma meia-calça quentinha e botas brancas de cano médio.
Para si, tirou do armário uma blusa branca de mangas compridas e gola alta, colete de lã marrom, saia longa e grossa de estampa xadrez castanho e verde, um casaco verde musgo, também presenteado por Rachel, e sua fiel meia-calça branca forrada, junto de tênis de couro.
Depois de muito esforço, Tania conseguiu deixar a si mesma e a irmã arrumadas. Caprichou mais na roupa de Anne do que o normal, se esforçando um pouco mais, por reflexo, na própria.
Nan não comeu nada no café da manhã, ao passo que Nia se encheu folhados de morango. Ela comia muito quando ficava nervosa, e estava preocupadíssima com a Shirley.
Elas caminharam silenciosamente até a escola.
Lá, Anne contou tudo a Diana, se esforçando para segurar o choro.
- Não pode estar tão ruim - Di disse para a melhor amiga, que resistia a tirar o gorro.
- Eu sou uma monstruosidade - disse sem rodeios - é melhor que esqueçam de mim para sempre.
- Não a esqueceria nem se você fosse uma minhoca, Nan - Tania disse, arrancando dela um riso leve.
- Vamos Anne, tire o gorro - hesitante, ela o removeu. A Barry conteve uma expressão profundamente surpresa. Com um sorrisinho, tirou o laço azul que usava no próprio cabelo e o amarrou ao redor da cabeça da Shirley - é só cabelo - Di consolou - vai crescer - beijou a bochecha da amiga e entrou na sala de aula.
Tania a seguiu, e atrás dela veio Anne.
A Stacy estranhou uma rodinha agitada no fundo da sala, e só entendeu o motivo da animação quando todos se viraram para olhar para a ruiva, abrindo a roda e revelando quem estava no fundo dela.
Gilbert Blythe estava lá.
Na escola.
Em Avonlea.
Na frente de Tania. Bem ali.
- Bert! - ela queria gritar, mas saiu apenas um sussurro.
- Fadinha! - apressou-se até ela, tocando suavemente o seu rosto pálido de frio.
- Você voltou - sua voz era um fio - disse na sua última carta que não ia voltar agora - bateu de levinho no ombro dele.
- As cartas demoram a chegar - deu de ombros, ainda acariciando a pele gelada da Stacy e a encarando como se ela fosse uma miragem - senti saudades - sorriu.
- Eu também - passou os braços devagarzinho ao redor dos ombros dele e enfiou o rosto na curva de seu pescoço, respirando fundo. Ela sentira falta até do cheiro de Gilbert.
Ele desceu os braços até a cintura de Tania, puxando-a para si. Como se ainda houvesse algum centímetro entre os dois.
O Blythe beijou o topo da cabeça dela e passou uma mão em seus cabelos, antes de segurar seu rosto novamente e afastá-la alguns centímetros. Para observar.Ele não precisava mais sonhar com os olhos dela. Não precisava mais imaginar sua voz lendo as palavras que ela escrevera. Não precisava mais estalar os dedos no ritmo do batimento cardíaco dela, que era só um pouco mais rápido que o de Bert, mas sincronizava com o dele quando eles se abraçavam; estava sentindo-o sincronizar naquele exato momento.
- Que está fazendo?
- Admirando - respondeu simplesmente, antes de se aproximar para sussurrar no ouvido dela - eu te amo tanto - tocou os lábios na pele abaixo da orelha, a ação sendo escondida de todos pelo cabel-
De todos.
Estavam todos assistindo.
Ela tinha se esquecido.
- Estão todos encarando - murmurou para o garoto, que não parecia querer soltá-la tão cedo.
- Se isso te incomoda é melhor irmos embora, porque não estou planejando me afastar de você - ele rebateu, ainda segurando firmemente a cintura e o rosto de Tania.
Ela pensou um pouco. Teria que lidar com Ruby uma hora ou outra. Não dava a mínima para os outros alunos.
- Não incomoda - o tom quase inaudível de sua voz dava a impressão contrária, mas Gilbert a puxou para o próprio colo quando se sentou em sua carteira.
Sentada de lado sobre as pernas do Blythe, ainda sendo firmemente observada por toda a turma, Nia finalmente olhou de verdade no olhos dele.
E poderia jurar que se perdeu neles.
Nem a voz do professor Philips ordenando que todos abrissem o livro na página vinte a fez encontrar o caminho de volta.
Com o olhar ainda entrelaçado no dela, Bert aproximou o rosto de Tania do próprio, mas se lembrou que estavam em uma sala cheia e se desviou da boca dela no último segundo, encostando os lábios macios em seu nariz, depois na testa.
- Tem certeza de que não quer ir pra minha casa? Deixa a aula pra lá, eu sou o melhor aluno, consigo me virar - a Stacy riu do jeito convencido dele.
- Anne nunca me perdoaria por abandoná-la em um dia trágico como hoje.
- Trágico? - perguntou com um sorrisinho.
- Nan se importa bastante com a aparência - eles conversavam baixinho, mas ela temia que fossem ouvidos. Digo, a conversa não era pessoal, mas parecia ser. Nia o queria só para ela.
- Se os pombinhos puderem parar de agir impropriamente em sala de aula, eu agradeço - o professor disse entredentes.
Tania fez menção de se levantar.
- Fica - Gilbert sussurrou e a segurou por alguns segundos para olhar para ela mais um pouco; para encontrar o caminho de volta.
E então a soltou, permitindo que se levantasse e sentasse na própria carteira, de cabeça baixa.
- Parece que temos um menino novo na classe hoje - sr. Philips disse com sarcasmo, indicando Anne com a cabeça. Várias pessoas riram - tem certeza de que está sentado no lugar certo, rapazinho? - a Stacy serrou os punhos.
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The Fairy Queen - Awae
FanfictionTania ~ nome de origem russa que significa rainha das fadas. "Suponho que adoro minhas cicatrizes, porque elas permaneceram comigo por mais tempo do que a maioria das pessoas" - Nikita Gill Oc x Gilbert Blythe Fanfic baseada na série Anne with an e