Capítulo 19

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- Onde você estava a tarde toda? - Marilla exigiu antes mesmo de Tania fechar a porta.

- Na casa dos Blythes, Anne não te avisou?

- Não, a única coisa que aquela criança fez desde que chegou foi gritar comigo por motivo nenhum e bater a porta do quarto de vocês, torça para que não tenha quebrado - disse com raiva, batendo o pé no chão com força.

- Ok - a jovem levantou as mãos em rendição. A Cuthbert suspirou.

- Sabe o que a deixou tão irritada?

- O mesmo filho atraente de uma meretriz que me deixou irritada - exasperou-se.

- 1: o fato de você não usar a palavra 'puta' não faz deixar de ser um xingamento e uma extrema falta de educação - advertiu, fazendo a morena revirar os olhos - 2: atraente? - a mulher se esforçou para segurar a risada.

- O quê? Eu não disse que o Gilbert é atraente!

- Gilbert? - o sorriso de Marilla aumentou.

- ARGH! - subiu as escada correndo e bateu a porta - Eu odeio Gilbert Blythe!

- Bem vinda ao clube - Anne disse. Tania deu um grito, enfiando a cara num travesseiro para abafá-lo - o que ele fez para te deixar com raiva?

- Nada! - disse na defensiva.

- Então por que está com raiva?

- Porque ele existe! - se jogou na cama e esperneou que nem um bebê birrento. Ruivinha deu risada.

Depois de alguns minutos de silêncio, Anne disse algo muito profundo e triste que não tinha nada haver com a conversa, mas deixou Tania pensativa.

- Eu queria não ser tão sonhadora, acho que arruinei essa vida pra mim mesma.

- Acho que vale apena arruinar uma vida, se isso significa viver tantas outras incríveis - e simples assim, nenhuma das duas estava mais pensando em Gilbert.

- Talvez.

- Sabe Anne, você é esquisita.

- Desculpa.

- Foi um elogio - as duas sorriram uma para a outra.

- Você é louca - a ruiva concluiu. Também era um elogio.

- Só se recebe uma pequena centelha de loucura, não se deve perdê-la.

...

No meio da noite, quando já estavam todos dormindo, Anne acordou.

Com cólica.

Uma cólica insuportável, como se alguém estivesse lhe socando repetidamente na barriga. Se não fosse o meio da noite, ela provavelmente teria gritado de raiva. Por que ela tinha que passar por aquilo? Deus deveria odiá-la, só podia ser isso!

- Tania - sussurrou, sacudindo a morena.

- O que você quer? - perguntou ríspida. Ela quase nunca conseguia dormir direito, aí em uma das raras vezes em que chegava ao sono profundo, Anne a acordava! Se sua alma não estivesse dormindo, ela provavelmente teria dado um tapa na cara da ruiva.

- Minha barriga tá doendo - reclamou.

- Não é problema meu - se virou para o outro lado e passou a coberta por cima da cabeça. Quando estava começando a achar que Ruivinha havia ido dormir, ela a sacudiu de novo.

- Tania - sussurrou com mais urgência.

- Tá bom, eu desisto! - se levantou de uma vez, jogando um travesseiro na cabeça da Shirley - o que foi?

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora