Capítulo 29

611 84 21
                                    

Tania acordou quando os primeiros raios de sol já entravam pela janela, e, pela primeira vez desde que se lembrava, não quis voltar a dormir.

A primeira coisa que viu foi o rosto adormecido de Gilbert; deveria ter se virado de frente para ele enquanto dormiam.

Antes de sequer pensar no que estava fazendo, ela levou os dedos até o rosto dele, tocando seu nariz, as sobrancelhas, depois as bochechas, então enrolou um cachinho no dedo, antes de lhe dar um beijo na testa e se levantar.

Anne a encarava com uma cara esquisita.

- Você e Gilbert estão juntos? Tipo, romanticamente? - ela parecia brava, mas havia uma centelha de animação em seus olhos inquietos.

- Bom dia pra você também - abriu o armário, colocou um vestido e pegou um dos casacos do pai na bolsa que ela guardava bem lá no fundinho, vestindo-o enquanto Anne trocava de roupa - eu e Gilbert somos só amigos.

- Não parece - Tania lhe deu um tapinha na bunda quando ela estava passando pela porta - ei! - a morena deu risada e correu o mais rápido que pôde ao começar a ser perseguida pela ruivinha - Nem pense- a Stacy se sentou com tudo em uma cadeira à mesa, mas ela caiu e saiu rolando com o impulso, parando com a bunda pra cima, na qual Anne bateu entre risadas - toma!

- Odeio o karma - ela murmurou, se levantando enquanto esfregava o ponto onde a Shirley havia batido.

- Eu o amo - sorriu brilhantemente enquanto as duas se sentavam.

- Bom dia, pequenos prejuízos - Marilla cumprimentou.

- Bom dia, grande prejuízada - a morena respondeu.

- Essa palavra não existe - ouviu uma batida na porta - quem será a essa hora da manhã? - teve sua resposta ao abrir a porta e ser imediatamente atropelada por uma Ruby eufórica e uma Diana frustrada.

- Desculpe por ela, senhorita Cuthbert.

- Não se preocupe - disse para a Barry - o que a deixou tão animada?

- Vamos fazer comida para o Gilbert, assim ele vai se apaixonar por mim! - a Gilles exclamou, ouvindo um bocejo logo em seguida; o bocejo do citado moreno, que esfregou os olhos ao parar de pé ao lado da cadeira de Tania.

- Bom dia - o menino disse, com uma voz rouca que causaria borboletas a qualquer um. As jovens sentiram o cômodo ficar mais quente, especialmente a Stacy, cujas bochechas se avermelharam.

- Sua voz quando você acorda deveria ser um crime - reclamou, e ele lhe respondeu com um sorriso preguiçoso, antes de se sentar no colo dela - Bert! - brigou, lhe empurrando de leve.

- O quê? - ele se ajeitou, passando um braço ao redor dos ombros dela enquanto estendia o outro para pegar uma torrada.

- Eu te odeio - murmurou, mas abraçou a cintura dele.

- Hmmm eu sei - deu uma mordida na torrada amanteigada - Ruby, o que estava dizendo? - se virou para a loura, como se nada de anormal estivesse acontecendo.

- N-nada - gaguejou, os olhos cor de amêndoa arregalados - eu vou embora - e agarrou Diana pela mão, puxando-a porta afora sem mais nem menos.

- Então é isso que você queria dizer quando falou que Anne não podia conversar comigo - ele refletiu. As orelhas da ruiva ficaram da cor de seus cabelos.

- Você ouviu? - fez uma careta. Pobre Ruby.

- Ouvi - deu um sorriso ladino.

- Não deixe subir a cabeça - advertiu.

- Não prometo nada - piscou um olho.

- Não conte pra Ruby que ouviu - mandou - e seja gentil com ela.

- Eu sou sempre gentil - resmungou, passando o outro braço ao redor dela e inspirando o cheiro de seu cabelo - como você está? Dormiu bem?

- Melhor do que nunca - afastou-o de si para sorrir pra ele - você?

- Eu só descobri o que é dormir de verdade noite passada - devolveu o sorriso.

- Vocês dois parecem personagens de um livro de romance, por Deus - Anne reclamou, deixando o Blythe extremamente corado enquanto saía às pressas do colo de Tania, cujas pernas já estavam dormentes - eu vou pra casa da Diana antes que pegue diabetes - levantou-se, vestiu o casaco e saiu, deixando os dois sozinhos com Marilla.

- Então, é oficial? - ela perguntou como quem não quer nada.

- O que é oficial?

- Isso - gesticulou para os dois.

- Se é oficial que somos melhores amigos e nada além disso? Sim, absolutamente oficial - a Stacy falou, já começando a se irritar com o quanto o mundo todo queria que os dois ficassem juntos.

- Exatamente - o moreno assentiu vigorosamente, e Marilla franziu a testa.

- Está bem - e foi para a dispensa pegar mais manteiga, voltando logo em seguida - Tania, você não vai para a casa da Diana?

- Acho que vou ficar o Bert, se passar mais de meia hora longe de mim ele fica com abstinência - ela riu. A Cuthbert sorriu, enquanto o Blythe corava.

- É claro - passou o creme amarelado em um pedaço de pão - bem, não fiquem aqui parados, vão fazer algo de útil, ou ao menos andar por aí - balançou as mãos vagamente no sentido da porta.

- A Marls me odeia, sim ou claro? - Tania brincou.

- Absolutamente - Marilla concordou entre risos.

- Olha o bullying que fazem comigo nessa casa - a morena disse dramaticamente para o amigo - vou denunciá-los por maus-tratos infanto-juvenis.

- Isso nem existe - a mais velha disse.

- Pois deveria - a jovem respondeu, agarrando Gilbert pela mão e puxando-o para fora.

- Por que todo mundo parece achar que estamos juntos?

- Porque somos exageradamente obcecados um pelo outro e passamos 24 horas por dia 7 dias por semana de grude - a Stacy falou simplesmente - e ontem meio que prova o ponto deles.

- Tínhamos combinado de fingir que aquilo nunca aconteceu - ele reclamou.

- Ou - ela se virou para ele de uma vez - eu poderia passar o resto da vida te zoando por aquilo - sorriu largamente.

- Ha ha, engraçadinha. Não pense que eu não percebi você tocando meu rosto como se eu fosse uma escultura grega hoje de manhã; isso sim prova o ponto deles - ela lhe deu um empurrão - ou também "a sua voz quando você acorda deveria ser um crime" - fez uma vozinha fina e irritante.

- Cala a boca, todo mundo estava pensando aquilo!

- Claro, claro - puxou-a para si pela cintura - nem Ruby ficou tão vermelha - sussurrou no ouvido de Tania, que sentiu o corpo todo arrepiar.

- Se continuar com isso eu vou te bater - ameaçou.

- Se eu continuar com isso você vai virar uma maçã antes de conseguir me bater - retrucou com um sorriso ladino - e nenhum de nós dois quer isso, não é mesmo?

- Eu prefiro virar uma maçã do que te beijar - ele abriu a boca e pôs a mão no coração, dramaticamente ofendido.

- Assim você machuca meus sentimentos - ele reclamou, lambendo a bochecha dela em seguida.

- Ewww - ela o empurrou pra longe com força - nojento - Gilbert caiu na gargalhada - esse seu surto induzido pelo luto está começando a me irritar - então ela tomou uma decisão - portanto, enquanto você cria senso, eu estarei na casa da Diana.

- Cozinhando alguma coisa pro seu futuro marido - ele provocou.

- Pra jogar na cara do ser humano que eu mais odeio em toda a eternidade, sim - devolveu.

- Isso aí, vai lá cozinhar, é pra isso que você serve - ironizou.

- Porque lugar de mulher é na cozinha - ela concordou solenemente, e ambos começaram a rir - te vejo depois?

- Óbvio - e os dois seguiram caminhos diferentes, com sorrisos bobos dos quais não se orgulhavam.

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora