- Marilla, eu estaria no paraíso se você cedesse e me deixasse ir à festa da senhorita Josephine - Anne pediu pela milionésima vez. Seu cabelo já crescera consideravelmente, e lembrava Tania de uma das amigas de sua mãe de quem ela mais gostava. Era uma mulher um pouco rechonchuda, com um cabelo cacheado maravilhoso do qual ela cuidava com afinco, e que estava sempre cortado de um jeito diferente, mas nunca chegava a alcançar-lhe o queixo. Certa vez, ela pedira a ajuda de Annabeth e Tania para pintá-lo de azul.
- Desculpe por decepcioná-la, mas eu já disse não. Não quero que se anime demais e fique doente.
- Animação não é uma coisa perigosa - exclamou Nan, perseguindo a mulher ao redor da cozinha, como um rabo.
- Anne, por favor, já conversamos sobre isso. Na sua idade, não se vai a festas; é jovem demais para isso.
- Mas eu nunca fui a uma festa antes - ela parecia estar cada vez mais proficiente nos 'olhos de cachorro pidão'.
- Surgirão outras festas para ir ao longo de sua vida - tentou consolar.
Anne bateu os pés escadas acima.
Ao chegar em seu quarto, onde Tania tranquilamente costurava bordados no vestido de "rainha-guerreira" que estava fazendo, ela se irritou com a irmã.
- Como não está frustrada por ter sido proibida de ir à festa? - exigiu.
- Ainda temos tempo, querida, conseguiremos convencê-la.
- Tal feito me parece fundamentalmente impossível - bufou e se jogou na cama.
- Acalme-se, Nan. Daremos um jeito, está bem? Já fizemos coisas mais difíceis.
- Mais difíceis do que dobrar Marilla Cuthbert? - perguntou cética.
- Sim - jurou, antes de olhar para o relógio - veja só, estamos atrasadas - embolou o vestido apressadamente e guardou-o do baú, calçou os sapatos e arrastou a irmãzinha resmungona até a escola.
Lá, elas e Ruby estavam ouvindo de Diana a nova fofoca sobre a senhorita Peter MacPherson.
- Peter? É este mesmo o nome dela? - a Shirley estranhou.
- Antes de ela nascer, os pais decidiram que chamariam o bebê de Peter se fosse menino, e Angelina se fosse menina; mas, quando cresceu, ela decidiu que preferia Peter a Angelina, e assim foi chamada dali em diante - explicou Tania - ela é conhecida por odiar homens.
- É uma solteirona, entende? - adicionou Ruby - Vive sozinha com mais gatos do que se pode contar; dizem que a única coisa que ela odeia mais do que homens, são cachorros. "Quanto mais vejo dos homens, mais eu gosto de gatos" é o que ela fala.
- Ela costumava ser a professora dos meninos na escola dominical - completou Diana.
- Lembro-me que ela negou a turma das garotas porque Nia estava lá, e ela dava nós e laços em todos que tentavam pregar, pobrezinhos.
- A senhorita Peter tinha pavor de mim - Tania concordou - sempre que eu me aproximava, ela saía de perto; chegava a ser cômico.
- Como desculpa para não ter que ensinar as meninas, ela disse que talvez, se começasse com eles moços, poderia transformar os garotos em seres humanos decentes. Enfim, um jovenzinho, Jimmy Spencer, não estava comparecendo à escola dominical, e a senhorita Peter descobriu que era porque ele estava trabalhando na fazenda de Abraham Bennet. Não deu outra: ela foi até lá - Ruby e Tania explodiram em gargalhadas.
- O que há de graça? - a pobre Anne estava perdida na conversa.
- O senhor Bennet tem uma fama de odiar mulheres profundamente - disse Ruby, as bochechas coradas - e ter um cachorro enorme. Oh céus, imagine os dois interagindo!
- Espere, fica melhor - falou Diana, e elas se inclinaram para frente com interesse - souberam do surto de varíola que está acontecendo no leste de Avonlea? Bem, o senhor Bennet é um dos que tiveram contato com a mulher adoecida - elas sacudiram os dedos em expectativa - adivinhem? A senhorita Peter precisou ficar de quarentena na casa dele por um mês! Apenas eles dois, o cachorro do senhor Bennet e o gato favorito da senhorita Peter.
- Oh meu Deus - pasmou-se a loira, enquanto a Stacy gargalhava - terão eles matado um ao outro lá dentro?
- Muito pelo contrário, minha querida Ruby - disse Diana, e fez uma pausa para aumentar o suspense - agora, a antiga senhorita Peter MacPherson é a senhora Bennet!
- Não! - as três gritaram juntas em surpresa - Impossível, aqueles velhos solteirões rabugentos realmente amoleceram o coração um do outro?
- Devemos crer que s- foi interrompida pelo barulho alto de Gilbert batendo a mão na mesa do professor, antes de voltar, raivoso, para a própria carteira.
Com a testa franzida, Tania pediu licença às amigas e foi até ele, que encarava a carteira enquanto respirava fundo para conter a frustração.
- Ei, meu amor - disse baixinho, agachada ao lado da cadeira dele - o que aconteceu?
Gilbert esfregou os olhos antes de se virar para ela, para ter certeza de que não pareceria irritado quando olhasse para a namorada. É claro que ela sabia que ele estava nervoso, mas não era culpada e não merecia qualquer destrato da parte dele.
- Nada demais - disse pausadamente, controlando o tom de voz - eu pedi aulas extras para recuperar o que perdi viajando, e o Philips recusou com a pior metáfora possível; ele disse "seu pai deveria dar os frutos do pomar para alguém só porque a pessoa acha que merece? Tempo é dinheiro, Blythe" e não foi nada agradável, sabe? - ele estava falando baixo e se esforçando para manter o semblante tranquilo, mas sua mandíbula estava tensa e as mãos fechadas em punho. Tania assentiu, acariciando de levinho os antebraços dele. Algumas pessoas estavam encarando; Perseu Gilles, que se matriculara na escola após o feriado de Natal, era uma delas - Então eu o lembrei de que meu pai está morto. Não sei porque senti tanta raiva, Nia - acabou dizendo.
- Ele é um homem cruel - ela disse - é claro que deveria estar com raiva, Bert - acrescentou - posso fazer algo para ajuda-lo a se sentir melhor? Você quer sair daqui? - ele negou com a cabeça. Mesmo com os toques suaves de Tania, seus braços continuavam tão duros quanto antes - Vamos resolver isso, está bem? Podemos ir até Charlottetown comprar livros de medicina e sobre tudo que você perdeu, e eu posso pedir as anotações de Anne - sugeriu.
- Não é esse o problema - ele disse, um pouco mais ríspido do que gostaria. A Stacy respirou fundo. Ah.
- Bem, então acho que não podemos resolver - queria arrancar dele pelo menos uma risada solitária e bufada, mas conseguiu apenas um sorriso de escárnio. Devagar, sentindo cada vez mais olhares sobre si, ela subiu as mãos até o rosto dele e o segurou entre elas, antes de encostar a testa na do namorado - respire devagar pra mim, está bem? - sussurrou ao ouvir a respiração dele sair trêmula - Se for para jogar um tijolo na cabeça dele, que seja longe da vista de qualquer um - dessa vez ela conseguiu um sorrisinho mais verdadeiro, e se deu por satisfeita.
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The Fairy Queen - Awae
FanfictionTania ~ nome de origem russa que significa rainha das fadas. "Suponho que adoro minhas cicatrizes, porque elas permaneceram comigo por mais tempo do que a maioria das pessoas" - Nikita Gill Oc x Gilbert Blythe Fanfic baseada na série Anne with an e