- Algo antigo.
- Algo novo.
- Algo emprestado.
- Algo azul.
- E a moeda de prata?
- No meu sapato - Priscilla Andrews encaixou a moeda sob a sola do pé, e as meninas riram.
Depois de chegar em casa, Tania lavou o rosto, colocou o vestido rose florido que fizera para usar no casamento, maquiou as bochechas e lábios pálidos, calçou os sapatos, prendeu uma presilha de cravos sintéticos no cabelo, vestiu um casaco enorme e quentinho e foi até a casa de Prissy, onde todas as meninas estariam para ajudar a noiva a se arrumar.
- Ah Prissy, só espero que eventualmente a união entre você e o senhor Philips cresça para uma relação em que ambos realizem seus anseios - disse Anne com um sorriso. Entretanto, as outras meninas ficaram sérias no mesmo instante. A Stacy nem se dera ao trabalho de sorrir, para começar - e-eu só quis dizer que, mesmo que o casamento não seja romântico, ainda terá uma vida maravilhosa em Toronto e talvez possa voltar à escola - sua voz foi diminuindo conforme falava; a tentativa de Nan de consertar falhara miseravelmente.
Diana, como sempre salvando a melhor amiga de situações constrangedoras, falou:
- A deixaremos a sós - e puxou as amigas para fora do quarto. Nia, que estava quietinha em um canto, ficou despercebida.
Quando o som dos passos delas desapareceu, Prissy se virou para Tania.
- Amar é tão bom quanto você faz parecer?
Pega de surpresa, ela hesitou por um segundo. Pensou na briga, na manhã que a antecedeu, na noite anterior e em tudo que veio antes.
- Sim. Talvez seja melhor. Não sei como faço o amor parecer.
- Como se fosse tudo que importa. Como se ele fosse oxigênio depois de anos embaixo d'água.
- Algo assim, então - sorriu de leve - é assim que se sente? - olhou fundo nos olhos escuros da loira - Você o ama? - saiu do quarto antes de receber uma resposta.
...
- Se lembra o quão apressados foram nossos votos?
- Estavam entre nós e a lua-de-mel, nunca falei tão rápido na vida.
As irmãs Cuthbert riram baixinho ao ouvir por acidente a conversa dos Lynde.
Encontrando Mathew e Marilla em um banco mais ou menos no meio da Igreja, se sentaram ao lado deles; os olhares de Nia e Bert se encontraram por um momento, antes das portas da igreja se abrirem e todos se levantarem.
Priscilla estava linda, era impossível negar. Mas não parecia.. radiante. Não parecia alguém que estava andando até o amor de sua vida. Seu sorriso era forçado e acanhado, acompanhando o pai a passos incertos.
Quando Prissy já estava de frente para seu noivo e o pai dela ao lado do resto da família, todos se sentaram; mas ao olhar para Tania, Gilbert percebeu que ela já não olhava para ele; estava torcendo, implorando, rezando para que Prissy não cometesse aquele erro, para que percebesse que ainda havia tempo, que ela merecia ser feliz.
O sr. Philips parecia tão infirme quanto a Andrews, se não mais, quando tirou o véu do rosto dela.
Ela olhou ao redor, parando os olhos por mais tempo em Anne, Tania, na senhora Lynde, e então em sua própria mãe. Para a surpresa da todos, Prissy deixou cair o buquê e saiu correndo da igreja. Soltando o ar que estivera prendendo, a Stacy foi a primeira a se apressar atrás dela, ladeada por Jane, seguidas por Diana, Nan, Ruby e Josie.
Vários metros de neve branca, mais clara do que o vestido de noiva, separavam as meninas da igreja quando Priscilla Andrews caiu de joelhos no chão macio.
Preocupadas, se agacharam ao redor dela, que olhou para o céu e soltou uma gargalhada de puro alívio; depois do choque inicial, todas riram junto. Prissy então começou a dançar de alegria, e elas deram as mãos para girar ao seu redor, gritando e rindo em êxtase.
Foi Di quem jogou a primeira bola de neve, e as amigas logo trataram de acompanhar; nem Tania, que se ressentia tanto do frio, estava incomodada. Elas apenas se divertiram, sendo crianças, absolutamente felizes e complicadas e brilhantes.
As garotas se deitaram no chão fofo e, naquele momento, olhando para o céu infinito e acompanhada daquelas meninas incríveis, Prissy estava radiante. Não radiante como uma noiva, mas radiante como a própria liberdade. Tania a amou muito, como todo o seu coração, por um instante. Anne também.
...
Aconteceu uma festa do pijama na casa dos Andrews naquela noite.
Elas comeram doces até entortar, jogaram todos os jogos de tabuleiro do sótão, dançaram ao som das músicas mais animadas da coleção de discos da sra. Andrews e experimentaram combinações extravagantes e absolutamente horrendas de roupas; no baú velho de coisas dos falecidos avós, Jane encontrou botas com saltos altíssimos sobre os quais elas tentaram se equilibrar e, quando Ruby tropeçou e rasgou sem querer o vestido de casamento com o salto fino, elas pegaram tesouras e o destroçaram até que parecesse uma pilha de neve. O sol já ameaçava raiar quando se deitaram para dormir, mas ainda passaram horas conversando antes de cair no sono.
Acordaram às duas da tarde, com marcas de travesseiro nas peles de porcelana e os cabelos caóticos. Fazendo barulho ao correr descalças sobre o chão gelado, se apressaram até o banheiro e fizeram maquiagens coloridas e espalhafatosas, e tiraram fotos e mais fotos na câmera caríssima e ultra frágil do sr. Andrews.
Já estava escurecendo quando Eliza Barry chegou para buscar Diana, e logo todas meninas foram embora, deixando beijos borrados de batons chamativos nas bochechas umas das outras e planejando quando fariam aquilo novamente.
Quando as irmãs Cuthbert, as últimas ali, agradeceram a senhora Andrews pela hospitalidade e fecharam a porta da frente, a mulher se jogou em uma poltrona e soltou um longo suspiro, exausta. Como adolescentes tinham tanta energia?
Nan e Nia foram até Greengables aos pulinhos, rindo e comentando a maravilhosa noite. Até Josie Pie, que era sempre tão enfadonha, as divertira com sua versão "atualizada" de Romeu e Julieta (onde, ao invés de morrer, eles falsificavam sua morte e aterrorizavam seus familiares se fingindo de assombrações para convencê-los de que seriam brutalmente assassinados se não permitissem seu amor, e então voltavam dizendo que haviam fugido para se casar em segredo).
Elas entraram em casa ainda entre risadas, mas Tania parou ao ver Gilbert conversando casualmente com Mathew à mesa da cozinha.
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The Fairy Queen - Awae
FanfictionTania ~ nome de origem russa que significa rainha das fadas. "Suponho que adoro minhas cicatrizes, porque elas permaneceram comigo por mais tempo do que a maioria das pessoas" - Nikita Gill Oc x Gilbert Blythe Fanfic baseada na série Anne with an e