Capítulo 58

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- Eu estou com medo, Tania - a Barry sussurrou para a amiga - vamos embora.

- Você é quem quis vir - rebateu, bebendo mais um gole de champanhe.

- Senhor, por favor - insistiu Anne - há algo que possa nos dizer? - ele não respondeu. Ela suspirou - Eu sei que o senhor está triste, e sinto muito por incomodá-lo em sua tristeza; mas se puder nos contar alguma coisa sobre o ouro, ficaremos imensamente gratas.

Conformado com a insistência da Shirley, ele tirou da mochila um caderno e jogou para ela.

- Eduque-se - ela agarrou o caderno como se sua vida dependesse dele - em silêncio!

- Mas que lindo - elogiou a garota - sua letra é muito caprichosa - outra pessoa teria dito aquilo para cair nas graças de Malcom, mas Anne genuinamente admirava sua caligrafia - você tem em uma mente organizada, senhor Frost, eu respeito isso - se dirigiu então às amigas - os esboços me lembram um pouco o livro que Nate me deu.

- Nate é o geólogo que encontrou ouro no solo de Avonlea - Diana esclareceu para o homem, que claramente não se importava.

- Ele me mostrou o ouro no microscópio, mas não consegui ver nada - Tania sorriu e terminou a taça. Quando um especialista lhe dissesse que não havia ouro, Anne acreditaria.

- Não enxergou o ouro? - franziu a testa. O sorriso ladino da Stacy aumentou um pouco.

- B-bom, quando eu aprender mais sobre o assunto serei capaz de ver o que está diante dos meus olhos.

- O ouro é muito brilhante - senhor Frost disse o óbvio.

- As partículas eram pequenas - defendeu a Barry.

- Ou não estavam lá - Tania e Malcom disseram juntos. Ele piscou para ela - você pode ser irritante - se dirigiu a Anne - mas não parece burra nem cega. Se houvesse ouro, teria enxergado.

- Nã-

- Viu? Logo de cara! Ninguém escuta a voz da razão - indicou Tania com a cabeça - por esse motivo eu não queria falar sobre isto - se inclinou na direção de Nan - você veio aqui especialmente para falar comigo sobre esse assunto específico. Então eu digo uma verdade, algo que é fato, uma coisa que eu sei graças a décadas de pesquisa, e você fala "não". Vou lhe dizer uma coisa, já que insiste tanto que eu diga: aposto meu último dólar que a sua cidade fará exatamente o que CapeWolfe fez. Sim, há traços de ouro no solo da Ilha do Prince Edward; e não, não é o suficiente para justificar o custo da mineração, mesmo que garimpem por 900 anos não haverá o bastante! - considerando que ele estava quase berrando ao final do discurso, os ocupantes de mesas próximas estavam encarando. O senhor Frost se sentou novamente e respirou fundo - A sua cidade tola vai repetir a história - concluiu em tom normal, antes de beber de uma vez o conteúdo de um copo que lhe fora servido - para qual companhia trabalha o tal geólogo? - agora ele convenceria Anne. Perguntas: a melhor maneira de provar o engano a quem o cometeu.

- E-eu não sei, ele nunca disse.

- Conversaram sobre números? Calcularam quanto ouro uma tonelada de minério produziria?

- Não - a voz da Shirley estava falha - hm..

- Por que não? Direi o porquê. Uma tonelada de minério nesta ilha gerará de 40 a 60 centavos de lucro. Uma tonelada, 40 centavos. Compra meia dúzia de ovos.

- Não compramos ovos, nós temos galinhas - murmurou Diana.

- Meninas - refletiu Anne com o olhar distante - por que o Nate nunca me deixou acompanhá-lo nas escavações?

- Porque não tem ouro - Tania respondeu, tirando o copo recém servido da mão do senhor Frost antes que ele o levasse aos lábios e engolindo o líquido amargo. Ele apenas assentiu.

- Por que o capítulo sobre ouro era o mais folheado do livro de geologia? - sua voz estava começando a tremer de raiva.

- Porque ele estudou para forjar a descoberta - respondeu Malcom.

- Por que o senhor Barry achou que a minha carta pro Gilbert era o certificado?

- Essa me pegou - Frost admitiu. Tania também franziu as sobrancelhas. A própria Anne respondeu.

- Porque eu escrevi num papel que furtei do quarto do Nate - repassou a memória na mente - e ele tem um gravador de relevo, de New York. Ele falsificou, por que eu nunca juntei essas peças?

- Porque não me escutou - cantarolou Tania.

- Quem tem ouvido recentemente, os adultos a sua volta ou a sua mente? - deu um peteleco na testa sardenta.

- Eu sou uma criança, senhor Frost.

- Tolice! Crianças são puro instinto. Não conhecem o bom e o ruim, acreditam na análise que fazem da situação. Deveria ter confiado em si e na sua amiga. Parece que já desvendaram tudo.

- O Nate e o sr. Dunlop são comparsas! - se levantou de repente, batendo as mãos na mesa.

- O quê? - a voz da Stacy afinou com o choque - Do que está falando?

- Os ouvi brigando outra noite, era uma briga de pessoas que se conhecem a anos.

- Onde há um vigarista sempre há outro.

- São criminosos - Tania constatou, agora com lágrimas se formando nos olhos. Ela confiava no senhor Dunlop - usaram Greengables para enganar a cidade toda!

- Vigaristas. Escória!

- Precisamos avisar os seus pais - Anne exclamou para Diana.

- Esperem, esperem, esperem - chamou Malcom - esse ainda tem páginas em branco - jogou um caderno idêntico ao outro para Nan - tome nota das explorações de sua vida, vai ajudar a compreendê-la. Cultivem seus instintos, eles são cruciais - a última frase foi dirigida a ambas as Cuthberts. A ruiva agarrou a mão do homem e começou a sacudi-la.

- Obrigada, senhor Frost, de coração! - largou a mão dele, pegou o caderno e as três saíram do bar às pressas.

Antes que começassem a correr até a loja de tecidos, ouviram o grito da senhora Barry.

- Diana! - chamou, se apressando até as garotas. Atrás dela estavam Minnie May e um policial - Diana!

- Mãe! - ela rebateu, ansiosa - Nós descobrimos algo terrível sobre o ouro!

- O que estava fazendo neste estabelecimento? - não, não, não! Não era para a senhora Barry descobrir que elas haviam saído, muito menos que tinham ido a um bar! Ela entenderia tudo errado!

- Nate e o senhor Dunlop estão mentindo - disse Anne.

- Mãe, precisa nos ouv-

- Muito obrigada, senhor guarda - falou Eliza ao policial, ignorando as palavras de Diana - nós já vamos.

- Tchau tchau - Minnie May despediu-se alegremente.

- Tchauzinho - o homem abaixou a aba do chapéu em cumprimento, antes de seguir seu caminho.

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora