Capítulo 54

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Alguns dias depois, Anne e Tania foram convidadas para acompanhar os Barry's em uma viajem a Charlottetown (Tania iria de qualquer maneira para se apresentar no teatro, mas resolveu aproveitar a carona)(Anne estava indo para despachar a carta sobre o ouro que enviaria para Gilbert)(Tania não sabia daquele detalhe).

Marilla não se preocupava com Tania, mas pensar em Anne nas mãos dos Barry, que certamente não tinham preparo para uma criança caótica como ela, lhe deixava nos nervos.

- Estou permitindo essa viajem contrariando o meu bom senso.

- Garanto que, quando voltarmos da aventura, verá que sua decisão foi acertada - jurou Anne.

- Aventura? - as narinas de Marilla inflaram.

- Ah, n-não - corrigiu a ruiva - não uma aventura propriamente dita. U-uma jornada comedida para edificação pessoal e socialização familiar - Marilla pareceu satisfeita, apesar de preocupada.

- Não me obrigue a defender mau comportamento à senhora Barry.

- Entendido.

- É uma viajem de negócios.

- Duplamente entendido.

- Qualquer insensatez terá con-

- Vou mantê-la na linha, mãe.

- Não vai precisar. Eu estarei calma como o lago das águas brilhantes em um dia ensolarado.. ou uma noite de luar, como preferir - ouviu o barulho da carruagem chegando e abriu a porta imediatamente, saindo apressada. Quando Tania ia seguir a irmã, Marilla segurou-a pelo ombro.

- Fique de olho nela. Sabe como Anne é inconsequente.

- Ficarei - e os três saíram de casa.

- Será bom ter um pouco de sossego para decidir o futuro.

- Futuro?

- Por quanto tempo os pensionistas ainda vão ficar.

- Espero que não muito - comentou Tania, indo até a carruagem cumprimentar Diana e Minnie May.

- Senhor e senhora Barry - cumprimentou Mathew.

- Obrigada pela gentileza de deixar nossas meninas os acompanharem em sua ida a Charlottetown.

- A tia Josephine expressou enfaticamente seu entusiasmo em revê-las, principalmente a querida Anne. Não podemos desapontá-la.

- Tem certeza de que não quer mesmo realizar o teste do solo em Greengables? - perguntou William a Mathew.

- Estamos decididos.

- Uma lástima perder essa oportunidade de ouro.

- Temos o suficiente, sr. Barry - Marilla cortou o que seria uma insistência sem tamanho.

- Isto - Mathew tirou alguns dólares da carteira - é para as passagens de trem - estendeu as moedas.

- Tem certeza? Certamente pod-

- Querido, não vamos discutir - disse Eliza, aceitando - é melhor irmos andando.

- Claro - pegou as moedas e guardou-as no bolso.

- Bom dia Marilla, Mathew, cuidaremos muito bem das meninas.

- Obrigada. Façam boa viajem.

Todos se despediram e a carruagem seguiu caminho para a estação de trem.

- Que tédio! - reclamou Minnie May despois de dois minutos - Falta muito pra chegar?

- Um tanto bom, Minnie. O que acha de jogarmos um jogo, para passar o tempo? - perguntou Tania.

- Que tipo de jogo?

- Um jogo de viajem. Já brincou de 'eu vejo com os meus olhinhos'?

- Nunquinha.

- Então vai brincar agora - sorriu.

Enquanto Tania explicava o jogo para Diana e sua irmãzinha, Anne fazia perguntas ao senhor Barry.

- Sei que é indecoroso perguntar sobre finanças, mas eu estou muito curiosa sobre o ouro.

- Sim. O que gostaria de saber?

- Por onde começo? Estou fascinada pela ideia de como o dinheiro viaja de um país para o outro, parece mágica.

- Entendo porque acha isso.

Enquanto Tania explicava o jogo, Minnie May começou a brincar com o cabelo da irmã, puxando-o sem querer.

- Minnie May, cuidado! - brigou Diana. Entristecida, a pequenina colocou as mãos sobre as pernas e ficou quieta.

- Vem aqui, Minnie - a Stacy puxou a loirinha para o próprio colo e lhe ofereceu uma mecha de cabelo - quer fazer uma trança em mim? - Minnie May assentiu, sorridente.

- Então seu dinheiro viaja da Inglaterra a Charlottetown?

- É como uma carta, mas com dinheiro ao invés de palavras.

- O senhor deve estar recebendo uma quantia substancial, já que não está testando apenas o seu solo m-

- Anne, você mesma disse que é indecoroso perguntar sobre finanças - advertiu Tania aos sussurros.

- Eu acredito que esta maré será boa para todos os barcos - concluiu o sr. Barry.

- O senhor Barry não costuma discutir suas finanças, você está com sorte, Anne - Eliza comentou, lançando um olhar cortante ao marido. Ela então notou a filha mais nova brincando com o cabelo da convidada - Minnie May, respeite o espaço das pessoas!

- Não se preocupe, senhora Barry. Eu mesma pedi que ela fizesse uma trança - sorriu para a garotinha.

Antes de ir até a residência de Josephine Barry, todos foram ao teatro para deixar Tania lá e assistir à apresentação

...

- Tia Josephine - Tania foi a última a cumprimentar, dando um curto abraço na mulher.

- Olá, querida Tania. Tenho novidades - cochichou para que só ela ouvisse, puxando-a discretamente ao escritório enquanto Rollings escoltava os outros à sala de estar.

- Novidades sobre o quê? - a jovem perguntou quando a porta foi fechada.

- Sobre o seu livro - abriu a gaveta e tirou dela uma quantidade um pouco absurda de dinheiro - esses foram os ganhos do mês - entregou para ela, que mal conseguiu segurar tudo em uma mão só. Não parecia ter apenas dólares ali.

- Do mês de roubar o banco, você quer dizer - brincou, encarando as notas que segurava na mão, cética - isso não é coisa que se minta sobre, senhorita Barry.

- Sei muito bem disso, senhorita Stacy. Sei que me pediu para colocar tudo em seu cofre no banco, mas chegou hoje, então imaginei que fosse gostar de ver.

- Quantos dólares tem aqui?

- 125 dólares canadenses, 216 dólares americanos e 138 libras. Então, aproximadamente 650 dólares canadenses.

- O quê? - Tania quase gritou - Você está brincando comigo!

- Não estou, querida. E espero que já esteja escrevendo o próximo livro, pois me foi dito que os clientes das livrarias e bibliotecas que tem Enola Holmes no catálogo não param de perguntar pela continuação.

- Tia Josephine, isto é inacreditável. Me prometa que não é uma pegadinha - pediu.

- Não sou de fazer brincadeiras, Tania; prometo que esta não é uma exceção.

- Isso é- obrigada senhorita Barry, muito obrigada. Não teria acontecido sem você - exclamou, abraçando os ombros da mulher.

- Você vai virar uma escritora renomada com ou sem a minha ajuda, mas me alegra fazer parte do processo - beijou a bochecha dela - o que acha de irmos à sala? Os outros estão esperando.

- Sim, é claro - fazendo um esforço para lembrar de como se respirava, ela guardou o dinheiro no envelope e o envelope na gaveta, e foi até a sala com a grisalha.

Apesar da expressão contida, os pés de Tania quase dançavam de animação, e ela estava contorcendo os dedos das mãos.

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora