Capítulo 72

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O aniversário é meu mas quem ganha presente são vocês 🤍
Não estou mimando vocês demais, postando capítulo fora de hora?
Enfim, amu6, bom dia, aproveitem o capítulo.

Ao chegar em casa, enquanto Sebastian se embrulhava novamente em cobertores, Gilbert lavava dois pratos e servia neles o alimento. Lavou também dois pares de talheres e colocou tudo na mesa. Bash puxou o prato para si e cheirou a comida, que parecia magnífica.

- Oh, isso sim Blythe. Sabia que pelo menos uma pessoa cozinharia bem nessa ilha - Bert sorriu fracamente, brincando com a refeição enquanto o amigo a devorava - você está quieto. O que foi? Saudades da namorada? - o jovem deu de ombros - Vamos, Blythe, você nunca fica quieto - ele suspirou, torcendo um fio solto do suéter.

- Tania tem uma cicatriz nova.

- Cicatriz? Nova? - ele franziu a testa, preocupado.

- Nunca te contei de onde ela veio, não é?

- Achei que ela tinha vindo da barriga da mãe, como tudo mundo - Bert sorriu de levinho, mas logo ficou sério.

- Da mãe que morreu quando ela tinha sete anos - Bash apertou os lábios - ela foi pra um orfanato, e eram horríveis lá. Horríveis mesmo - olhou nos olhos do amigo, e ele entendeu. Cicatrizes - a Nia, ela não teve uma vida que nem a minha. Ela nem sempre teve uma boa casa, ou segurança. Mas sempre foi segura de si; acredita no próprio potencial, sabe do que é capaz. E hoje ela teve medo de que eu pensasse que estava feia, Bash, feia - ele riu de descrença - quero dizer, que tipo de coisa terrível pode fazer uma mulher como aquela duvidar da própria beleza por um segundo sequer?

- Devo concordar com você que algo muito ruim, Blythe - ele admitiu - por que não pergunta a ela?

- Vou perguntar - mordeu o lábio inferior - acha que ela vai responder?

- Você a conhece, Blythe, não eu. Acha que ela vai responder? - devolveu a pergunta.

Sim. Ela responderia. Se Gilbert perguntasse, ela responderia. Tania confiava nele.

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Na manhã seguinte, na escola, a turma dela teria apenas ensaios da coreografia da música da Pantomima, e como Tania havia criado a coreografia, foi para a casa de Gilbert assim que acordou.

Lá, com uma garrafinha cheia de chocolate quente e um pote de cookies na bolsa, ela bateu na porta.

- Bom dia - disse assim que Bash abriu a porta.

- Bom dia, senhorita Tania - saiu do batente para que ela entrasse. Gilbert, que havia acabado de voltar do mercado, estava guardando as compras na despensa.

- Bom dia, meu amor - ela disse enquanto o abraçava por trás, ficando nas pontas dos pés para apoiar o queixo no ombro dele.

- Bom dia, Fadinha - se virou para falar com a namorada - dormiu bem? - ela já havia dormido bem?

- Suficientemente - respondeu - e você?

- Dormi bem, mas pouco. Estava pensando.

- Em?

- Você - Nia deu um sorrisinho - estou sempre pensando em você - disse, só para ver as bochechas dela ficarem vermelhas. E porque era verdade.

- O que acha de sairmos dessa despensa abafada? - sugeriu, sentindo a poeira começar a sufocá-la.

- Claro - passou um braço pela cintura dela e a guiou até a cozinha.

- Eu trouxe chocolate quente - disse quando chegaram onde Bash estava - e cookies - colocou tudo na mesa.

Os três beberam e comeram em silêncio. Havia tensão no ar. Sebastian elogiou bastante o chocolate quente. Depois que ele parou de falar e um certo constrangimento voltou a pairar sobre a cena, Bert chamou Tania para ir ao quarto dele, para que conversassem.

Ele limpara o quarto na noite anterior, então estava livre de poeira. Gilbert se sentou em uma poltrona e puxou a morena para o próprio colo, como fizera na escola; então, com uma mão pousada na cintura dela e outra na coxa, o Blythe a beijou, devagar, suavemente. E, como no dia anterior, desceu os beijos pelo pescoço dela, antes de subir até a orelha e sussurrar:

- Eu te amo - um beijo - você é perfeita - outro - minha fadinha - mais um.

Ela riu.

- Também te amo - ela se afastou um pouco para se deitar no ombro dele, e subiu uma das mãos para brincar com a gola de sua camisa - eu senti muito a sua falta, Bert.

- Acho que consegui sentir a sua ainda mais - ele disse, acariciando o cabelo dela, que negou com a cabeça.

- Impossível - sorriu levemente - e então, como foi o seu ano?

- Bom. Conheci lugares bonitos, fiz um bom amigo, catei tanto carvão que acho que meus pulmões vão ficar danificados para sempre - ela riu - e decidi que quero ser médico - a garota levantou a cabeça do ombro dele para olhar nos seus olhos.

- É? Algum fator especial influenciou essa decisão?

- Eu fiz um parto - a Stacy ergueu as sobrancelhas - uma menina, Ruth, estava em trabalho de parto e não tinha nenhum médico por perto. Eu e Bash a ajudamos, e percebi que quero fazer isso; quero ajudar as pessoas - Nia sorriu. Era óbvio que ele queria - e você?

- Quero ser escritora. Já sou, tecnicamente. Não é tão nobre quanto medicina, mas acho que é bom. E não é algo que vou precisar parar de fazer quando virar uma esposa.

- Não vai precisar parar de fazer nada quando virar uma esposa - ele garantiu - minha esposa vai ser uma mulher feliz e livre, que faz o que bem entender. Você não aceitaria que fosse de qualquer outra maneira - ela assentiu, sorrindo - ..já é uma escritora? - sorriu - Aquele livro vingou?

- Ganhei mais de 600 dólares no primeiro mês - Gilbert arregalou os olhos.

- Por Deus Nia, isso é incrível - riu de orgulho - você é incrível - deu um beijo sorridente nela - eu sabia que conseguiria - a boca dela se repuxou em um sorriso bobo - ..e aquela história de ser bailarina?

- O teatro de Charlottetown está fechado para reformas, mas planejo voltar quando ele reabrir. Só não acho que quero seguir carreira no ballet pelo resto da vida - deu de ombros, ainda sorrindo. Sentira tanta saudade de conversar com ele.

- E de resto, como foi o seu ano? - Blythe ficou sério. O sorriso dela caiu também. Porcaria. Ele tirou uma mecha de cabelo do rosto da namorada e a prendeu atrás da orelha.

- Bom. Cansativo. Muitas noites insones e muitas coisas para fazer. Teve aquilo do ouro.

- Me explique aquilo, por favor. Ainda estou perdido na história toda.

- Lembra que eu te falei que estávamos com problemas financeiros? - ele assentiu - Marilla decidiu que abrigaríamos pensionistas para nos manter até a colheita. Eles eram vigaristas. Enganaram todos dizendo que havia ouro no solo da cidade, pegaram o dinheiro que seria utilizado para "testar o solo de cada um" e fugiram. Conseguimos colocar um deles na cadeia, mas o outro ainda está por aí.

- Meu Deus - ele franziu a testa - sinto muito.

- Tudo bem. Acabou. Nós, Cuthberts, não tivemos nenhum prejuízo financeiro, mas os Barry ainda estão se reerguendo.

- Bem, o que mais aconteceu? Me conte algo bom.

- Hmm.. eu me aproximei bastante de Ruby Gilles. E acho que Jane Andrews e Tillie Boulter também gostam de mim. Elas são divertidas.

- Que bom - sorriu. Era ótimo saber que Nia não andava mais tão sozinha quanto na infância - agora algo ruim.

Algo ruim.

Havia tantas coisas.

Ela não queria contar nenhuma.

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora