Capítulo 48

406 61 1
                                    

Anne e Tania voltaram para casa juntas, o que por algum motivo era raro, mas não aproveitaram muito. Enquanto a morena caminhava silenciosamente, a ruiva proferia sobre o senhor Philips todos os insultos que conhecia, e eram muitos.

- Aquele monte de estrume, cocô de passarinho, goblin cruel, vagabundo, paquita do capeta, chupeta de baleia, saco de lixo de peruca, bafo de bunda, filhote de lombriga, peido de jumenta, energúmeno descerebrado, amargurado d-

- Tania! - Cole parou na frente dela - Ah, Tania me perdoe. Philips é horrível, eu me sinto péssimo. Você não merecia aquilo, deveria ter ficado calada. Deus, eu odeio aquele homem. Me desculpe, por favor - a Stacy colocou a mão que não estava machucada no ombro do amigo, acalmando-o.

- Não foi culpa sua, querido, não se preocupe - fez um carinho leve no braço dele antes de continuar seu caminho, sendo seguida pelo menino.

- Ainda me sinto horrível.

- Jura? Eu também - disse com sarcasmo. Cole ficou quieto.

- Está doendo muito? - Nan perguntou ao ver a irmã apertar a mão enfaixada.

- Lembra quando estávamos correndo pela Travessa dos Amantes e você ralou as canelas em um galho espinhento?

- Lembro.

- Pior.

- Ai - ela murmurou, empática.

- E o que vai fazer?

- Ir para casa e passar remédio.?

- Em relação ao Philips - o Mackenzie esclareceu.

- A ideia da Anne de proferir todos os insultos que conheço parece ótima.

- Então não vai fazer nada?

- O que você quer que eu faça, Cole? Enfie aquela vara na goela do cara enquanto ele dorme?

- Olhe aqui, você é Tania Stacy! Ninguém mexe contigo. O que vai fazer?

- Não sei, está bem? Vou pensar em alguma coisa - abriu a porteira de Greengables e entrou junto de Anne, enquanto Cole seguiu até a própria fazenda.

*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*

- Oi, mãe - Bash chamou a atenção da mulher que colocava as roupas no varal aos fundos da casa.

- Sebastian! - colocou a mão sobre o coração - Moleque, está tentando me matar? - aproximou-se alguns passos - Alguém viu você? - ele negou com a cabeça - Venha, venha - esticou os braços. O filho andou até ela, que lhe apertou em um abraço. Gilbert assistia a cena, sem saber bem como agir. A senhora Lacroix então notou o menino - ah! Quem este garotinho branco que trouxe com você? Ele parece um pássaro molhado - se dirigiu ao Blythe - qual o seu nome de batismo?

- Me chamo Gilbert Blythe, senhora - tirou o chapéu enquanto andava até ela.

- Bem, isso nunca aconteceu antes. Você deve ser o primeiro a me chamar de senhora. De onde é?

- Ilha do Prince Edward, Canadá.

- Eles não te alimentaram no navio, Gilbert Blythe?

- O Sebastian - a convinha apareceu na bochecha esquerda quando disse o nome, que ainda não conhecia - me prometeu a melhor medicina natural de Trindade.

- Entendi - sorriu para o filho e entrou na cozinha, provavelmente para buscar comida.

Depois de alguns segundos, Gilbert não conseguiu se segurar.

- Sebastian - e lá estava a covinha - é muito mais elegante do que Bash - segurou a risada.

- Cale a boca - o jovem gargalhou.

A mãe de Sebastian voltou com dois potes de comida.

- Eu acabei de preparar - colocou os potes na mesa - meu instinto me disse que eu logo veria meu filho - segurou o rosto de Bash entre as mãos.

Então um menininho de pele branca feito porcela e cabelos e olhos pretos chegou correndo.

- Hazel! - o menino chamou ela, que o pegou no colo - Ele tá roubando? - apontou para Sebastian.

- Não, docinho. Lembra que jesus disse que precisamos ajudar as pessoas? Os homens estão com fome - dirigiu-se a eles - pronto, já tem sua comida.

- Podemos voltar amanhã - Bash disse.

- Não, já foi caridade o suficiente. Se voltar aqui novamente, terá problemas - alternou o olhar entre os dois, antes de voltar para a casa - vamos, docinho.

Muito calados, Sebastian e Gilbert pegaram seus potes e foram embora.

...

Gilbert estava comendo seu caldo medicinal, enquanto perguntava a Bash o que era cada um dos ingredientes. O homem não parecia muito feliz.

- Cara, se isso é remédio, eu gostaria de ficar doente todos os dias.

- Que bom que está apreciando os frutos do trabalho escravo, Blythe - o jovem hesitou.

- Eu achei que a escravidão aqui havia acabado a cinquenta anos.

- Minha família nunca deixou aquela casa. Minha avó, minha mãe; ela criou as crianças deles. Eu mal a conheço.

Gilbert colocou a colher no prato; ele não estava mais com fome.

*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*¨*

- Tania, o que aconteceu com sua mão? - Marilla perguntou assim que elas entraram em casa.

- Nada, logo melhora.

- Nada? - indignou-se Anne - O senhor Philips aconteceu! Aquele cretino! Tania estava simplesmente dizendo a verdade, e ele desceu a vara na mão dela!

- Seu professor fez o quê? - a mulher parou de lavar a louça, virando-se completamente para as meninas

- Puniu uma aluna por ser honesta!

- Por ser desrespeitosa, Anne - Tania corrigiu.

- Ele é o desrespeitoso! Tania só disse uma coisinha, e ele a puniu como se tivesse explodido a porcaria da sala!

- Anne Shirley Cuthbert, olhe a boca! O que você disse, Tania?

- Eu lhe contaria mas você vai lavar minha boca com sabão se eu disser.

- Diga, prometo que não lavarei sua boca com sabão.

- Eu mandei que ele enfiasse o giz no c- Marilla tapou a boca dela com a mão.

- Eu bem que queria não ter feito aquela promessa - sussurrou para si mesma - por que, pelo amor de Jesus Cristo, você disse isso?

- Ele estava punindo Cole sem motivo nenhum, e não é a primeira vez que acontece. Eu não consegui ver tamanha injustiça com meu amigo e ficar calada, Marilla, realmente não consegui.

- Mas precisava ter dirigido ao professor tamanha ofensa?

- Não sei, mãe. Talvez eu tenha exagerado. Não tiro o direito do professor de me punir, só acho demasiado errado que ele possa agredir fisicamente os alunos.

- Bem - Marilla suspirou - também não acho certo que um professor tenha tal direito, mas ele tem; não posso julgá-lo pelo que fez. Agora, vamos cuidar da sua mão - se sentou à mesa com Tania ao seu lado - Anne, pode pegar o mel e a babosa na dispensa, por favor? Tania tem sorte que cortei o aloe vera hoje, vai curá-la em poucos dias.

- Odeio aloe vera, arde demais - Anne disse, trazendo o mel e a babosa da dispensa.

- Se tiver sido devidamente limpa, a babosa pode até aliviar a dor. Seja lá quem usava aloe vera nos seus machucados antes daqui, não sabia o que estava fazendo - Marilla disse.

- As freiras do orfanato definitivamente não sabiam, uma vez queimei o dedo e, quando passaram a babosa, pareceu estar queimando ainda mais - Anne assentiu vigorosamente. Tania fechou os olhos quando sentiu o mel gosmento tocar a pele maltratada.

The Fairy Queen - AwaeOnde histórias criam vida. Descubra agora