Fogo no parquinho

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(P.O.V. Remus)

11/12/1973

- Eu me decidi! – Sirius exclamou do nada, se levantando do meu colo. – Não vou mais adiar isso... Vou me tacar da torre de astronomia!

- Posso ir junto? – James questionou, frustrado, se levantando também.

- Eu também quero ir! – Peter participou, fazendo o mesmo.

- Meninos, eu já disse que tá tudo bem. Não foi culpa de vocês! – tentei apaziguar pela milésima vez o sentimento de impotência que eles estavam tendo desde a última lua cheia, há dois dias.

- Falhamos com você de novo... Somos péssimos amigos! – James abaixou a cabeça.

- Não falharam não! Eu tô orgulhoso de vocês!

- Orgulhoso da nossa falha? – Piet perguntou, também cabisbaixo.

- Tô orgulhoso de vocês terem ido tão longe.

- Era pra ter dado certo, lobinho. Era pra finalmente a gente ter passado da primeira fase da transformação! Ninguém engoliu a folha dessa vez, mas justo no dia que o céu não podia ter ficado nublado, ele ficou! – Sirius levantou os braços, completamente frustrado. – E de novo a gente falhou com você!

- Vocês sabem que não podem controlar o clima, certo? Não foi culpa de vocês que o céu ficou nublado justamente na lua cheia que vocês passariam pra segunda fase.

Os três ficaram me olhando, completamente perdidos. Era bem óbvio que estavam esperando que tudo desse certo dessa vez, mas o fato das nuvens terem atrapalhado o esforço contínuo de um mês inteiro os deixou sem chão, e as regras da transformação eram claras: se o céu estiver nublado, você é obrigado a começar tudo de novo.

- Perdemos um mês inteirinho! – James se tacou de volta na própria cama.

- E só vamos recomeçar em janeiro! – Sirius voltou para meu colo com um biquinho mal humorado, adorável na minha humilde opinião.

- Tanto esforço pra... – Peter se interrompeu ao ouvir alguém bater na porta.

James rapidamente retirou o feitiço silenciador e destrancou o quarto, abrindo uma brecha para Frank entrar.

- Entra aí, Longbottom! – Six chamou.

- Não precisa, eu só vim avisar pra vocês que alguns alunos tão se reunindo na comunal pra curtir um pouquinho, já que amanhã a maioria vai pegar o trem pro recesso natalino. Vocês vem?

- Humm... Tem Firewhisky? – Sirius levantou levemente a cabeça.

- O pessoal do sétimo ano deve ter – Frank respondeu. – Eles vivem contrabandeando de Hogsmeade.

- Eba!

- Você não vai beber! – Segurei sua mão no momento exato em que ele fez menção de se levantar. – Nenhum de vocês três vai!

- Isso nem passou pela minha cabeça – Jay disse ao caminhar até Frank.

- Nem na minha! – Piet pronunciou, seguindo fielmente James.

- Só um pouquinho não faz m...

- Sirius!

- Todo mundo bebe, Rem!

- Você não é todo mundo! – As sobrancelhas dele se arquearem de forma desafiadora.

- E eu não posso beber porque você não quer que eu faça isso? – debochou, me olhando no fundo dos olhos.

- Você tem catorze anos!

- E daí? Você tem treze, não tem direito de mandar em mim!

- Você tá sendo irresponsável pra caramba... de novo! Dá última vez...

- A última vez não importa!

- Importa pra mim! – exclamei.

- Eu só quero me divertir.

- Tem outras formas de diversão, que não são encher a cara tendo catorze anos.

- Mas eu quero. Você NÃO manda em mim! Quer saber, eu tô indo pra lá AGORA! E não vai ser VOCÊ quem vai me impedir. Tenha uma excelente noite, Remus John Lupin!

- ÓTIMO! VAI LÁ, SIRIUS! ENCHE A CARA, SÓ NÃO VOLTA AQUI DEPOIS QUE ESTIVER QUASE CAINDO DE TÃO BÊBADO PRA EU CUIDAR DE VOCÊ, PORQUE EU NÃO VOU LEVANTAR UM DEDO PRA TE AJUDAR!

- EXCELENTE! EU TÔ INDO!

- ENTÃO, VAI!

Ele se levantou com raiva e foi em direção à porta, saindo junto com os meninos que nos olhavam espantados.

Por que ele tinha que ser tão teimoso? Que ódio! Não era difícil de entender que ele não pode beber. E ele ainda fazia questão de me irritar!

- Vai se ferrar também, seu idiota! – exclamei, tacando a almofada que estava no meu colo de volta para a cama dele.

Peguei o livro que eu estava lendo da cômoda ao lado da minha cama e o folheei com mal humor, até chegar na parte onde eu estava...

"- Ora! Não posso explicar-te. Quando amo intensamente alguém nunca digo a outros o seu nome, pois é quase uma traição. Aprendi a amar o segredo. Parece-me ser a única coisa capaz de fazer-nos a vida moderna misteriosa ou maravilhosa. O que possa haver de mais comum nos parecerá estranho, desde que alguém o oculte. Quando deixo esta cidade, não refiro o destino que tomo, porque, fazendo-o, perco todo o meu prazer. É um mal hábito, confesso, mas que me faz sentir na vida qualquer coisa de romanesco... Estou certo de que me julgarás doido, ouvindo-me falar assim..."

- Doido... certamente não, Basil. Mas um tolo apaixonado, com certeza sim. Você claramente ama um idiota, esnobe, arrogante, rebelde e que só faz merda... Caralho! Você é um imbecil, Hallward! – A irritação preencheu minha voz. – Não sei por que continua insistindo na droga de uma amor não recíproco...

"O Dorian fica com a Sybil e, por causa dele, ela comete suicídio! Sua vida seria muito mais fácil se você saísse daí..., mas... não! Você insiste e insiste, e no final morre pelas mãos dele! Por quê? Porque você amava ele e mesmo conseguindo enxergar o quanto ele era um babaca irresponsável, que nunca pensa em ninguém além dele mesmo, você continuou do lado dele até o fim. Você conseguiu ser mais estúpido que eu!"

Um suspiro cansado saiu de minha boca.

- Somos dois tolos apaixonados por caras irritantemente ridículos e que não sentem o mesmo por nós...

Abri o livro novamente e passei os olhos pelas linhas das páginas sem conseguir me concentrar de novo, fechei meus olhos e suspirei longamente, pensando de novo no que havia gerado aquela discussão...

...continua no próximo capítulo...

Os Marotos (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora