•°•°• Capítulo 58 •°•°•

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Na manhã seguinte, quando Marinette desceu para o café, já podia sentir o clima diferente de como normalmente está, poucos minutos depois que se juntou ao casal, notou que Gabriel parecia mais sério do que de costume e Emilie não estava sorridente ou faladeira.

Ela preferiu não tocar no assunto na frente de Gabriel, não queria deixá-lo ainda mais irritado do que já parecia estar, não demorou para que ele finalizasse o café e fosse até o escritório, se trancando lá, como fazia quando tinha que trabalhar ou estava com a cabeça cheia, Marinette aproveitou para falar com Emilie, mesmo sem ter certeza se seria uma boa ideia.

ㅡ Como você está?

ㅡ Magoada, estressada, preocupada...

ㅡ Vai ficar tudo bem, logo eles fazem as pazes. ㅡ A mestiça sorriu para ela. ㅡ O Adrien está bem?

ㅡ Não sei, ele não abre a porta e nem me responde. Deve me odiar por não ter feito nada ontem.

ㅡ Não tinha muito o que fazer, todos fomos pegos desprevenidos. Eu posso tentar falar com ele, se você quiser.

ㅡ Por favor... Eu agradeço. ㅡ Emilie se levantou. ㅡ Bom, eu vou ler um pouco e tentar me distrair. ㅡ Ela disse em voz baixa, era notável a tristeza em seu olhar. Ela observou a mulher se afastar, antes de ir ao armário, pegando a bandeja para que pudesse levar o café á Adrien.

Ela subiu as escadas devagar, parando em frente a porta dele, bateu duas vezes e esperou que ele respondesse, mas não aconteceu.

ㅡ Adrien? Já acordou? ㅡ Ela se aproximou da porta, tentando ouvir algo. ㅡ Eu trouxe o café, você está com fome, não está? ㅡ Ainda sem resposta. ㅡ Você quer que eu deixe aqui na porta?

ㅡ Está sozinha? ㅡ Ela pôde perceber que a voz dele parecia muito próxima, provavelmente estava a mesma distância que ela, da porta.

ㅡ Estou sim. Posso entrar? ㅡ A porta se abriu e ela entrou enquanto ele voltava para a cama. ㅡ Como está se sentindo?

ㅡ O que você acha? ㅡ Ela se sentou ao lado dele, colocando a bandeja em seu colo.

ㅡ Eu não sei, se soubesse, não estaria te perguntando. Adrien, eu sei que está irritado, mas eu não tenho culpa, só estou tentando te ajudar, então seria legal se você ao menos tentasse ser menos arrogante. ㅡ Ele se manteve em silêncio. ㅡ Onde você estava ontem?

ㅡ No bar.

ㅡ Seu carro ficou lá?

ㅡ Sim.

ㅡ Quer que eu busque?

ㅡ Não precisa, eu vou mais tarde.

ㅡ Está tudo bem se você não quiser conversar, eu posso sair se preferir.

ㅡ Me desculpa, eu não consigo controlar a raiva que estou sentindo.

ㅡ Eu não sei com detalhes o que aconteceu, mas acho que foi melhor assim, agora você finalmente está livre dessa relação tóxica.

ㅡ Bom, podia ter sido de uma forma menos dolorosa né.

ㅡ Você ignorou todos os sinais, talvez você só precisasse de um tapa na cara.

ㅡ Ou um chifre na cabeça. ㅡ Marinette riu e ele a encarou. ㅡ Não foi uma piada.

ㅡ Me desculpa. Você não vai comer? Nem tocou no café ainda.

ㅡ Sabe, eu sei que isso não devia acontecer, já não estávamos mais juntos, mas quando eu vi aquilo, meu mundo desabou. Caramba, eu amava ela, por mais mimada e egocêntrica que ela pudesse ser, eu fiquei tão furioso, me senti traído duas vezes, e porra, na minha casa? Isso é demais até pra mim.

ㅡ Eu sinto muito por isso.

ㅡ Agora eu perdi a mulher que eu amo, perdi um dos meus melhores amigos, fiz minha mãe chorar e nem quero ver meu pai. Tem como ficar pior?

ㅡ Para ser sincera, eu acho que não. Não é muito, mas eu estou aqui, caso queira conversar mais. Não quero que se sinta assim.
Você é um cara tão legal, não devia aceitar menos do que você merece.

ㅡ Não é tão simples, Mari, não mandamos no coração.

ㅡ Sim, você tem razão. Mas e você? A sua saúde mental não importa? As vezes devemos deixar a razão falar, seria bom que fizesse isso agora. Podia começar por pedir desculpas ao seu pai.

ㅡ Eu? Foi ele que me bateu!

ㅡ Você tem noção do quanto ficamos preocupados com você? Você faz ideia que passamos horas te procurando e você volta daquele jeito, ainda mandando ele se ferrar? Nós não temos culpa, se tem alguém que merece toda essa sua raiva, é a Chloé e o Kim, na verdade nem eles, não vale a pena.

ㅡ Eu não sei o que fazer. Estou com raiva, mas ao mesmo tempo isso dói tanto.
Eu estou angustiado, é como se essa vontade imensa de chorar me sufocasse. Eu só queria desaparecer.

ㅡ Mas você não pode. Eu sei que está doendo, mas se você for pensar, é melhor doer agora, mesmo que seja tudo de uma única vez, do que doer para sempre aos pouquinhos. Não estou concordando com o que ela fez, mas vocês já estavam nesse vai e vem a tanto tempo, não estava dando certo, Adrien, uma hora algo assim aconteceria de qualquer forma. Não posso fazer essa sua dor passar, mas posso estar aqui para te abraçar até que passe.

Ele sorriu gentilmente. ㅡ Você está sendo muito legal, de verdade.

ㅡ Se fosse a um tempo atrás, eu ia preferir não me meter, mas acho que já tenho autoridade para falar como uma amiga com você e sei que agora você não vai querer se abrir com pessoas não tão próximas, sei que está envergonhado. Mas não tem motivo para isso, quem errou foram eles, não você. E nós estamos com você! Sua mãe está super preocupada e seu pai está arrependido por te bater.
Você devia mesmo falar com eles.

ㅡ Eu vou falar. ㅡ Adrien deixou a bandeja ao lado, se levantando e indo até a porta. ㅡ Você não vem?

ㅡ Vou esperar no meu quarto, depois você me diz como foi, vou estar aqui se precisar de mim. ㅡ Ele sorriu novamente antes de sair.

Quando Adrien chegou ao andar de baixo, os pais estavam rindo enquanto viam algo na tv, pôde perceber a seriedade de ambos, após vê-lo ali.

ㅡ Podemos conversar? ㅡ Ele disse se aproximando dos dois.

ㅡ Claro. ㅡ Emilie respondeu, dando espaço e ele se sentou entre os dois.

ㅡ Sobre ontem, eu sinto muito. Não quis parecer ingrato ou irresponsável. Mas eu senti tanta raiva, tanta vergonha, me senti humilhado. ㅡ Os pais o ouviam atentamente. ㅡ Eu sei que a Chloé tem todos os defeitos dela, mas eu a amo mesmo assim, eu já estava acostumado com o jeito dela. Mas isso foi demais, ultrapassou qualquer limite de perdão que eu poderia ter. Pai, me desculpa por ter mandando você se ferrar, eu... ㅡ Adrien foi interrompido pelo pai, que o abraçou forte antes de desabar em lágrimas.

ㅡ Me desculpa, eu não quis te bater, é que eu estava tão preocupado e você foi tão rude que eu agi no automático. Não consegui me controlar, não quis te machucar. Me perdoa, filho.

Emilie observou os dois por um breve momento, antes de se aproximar, os abraçando com todo o amor que sentia por eles.

Marinette observava tudo do topo da estada, com um sorriso discreto, estava feliz que tudo havia se resolvido e que a família estava novamente reunida, se afastou logo em seguida, deixando que eles ficassem a sós.

O valor de um segredo.Onde histórias criam vida. Descubra agora