O valor de um segredo.

•°•°• Capítulo 96 •°•°•

Emilie caminhou pelo corredor que agora estava vazio, parando em frente ao quarto de Gabriel, que arrumava suas coisas, já que havia sido convidado a se retirar do resort depois de toda a confusão. Um dos seguranças ainda passava por ali em um curto espaço de tempo, apenas verificando se estava tudo sob controle.

Respirou fundo mais uma vez antes de abrir a porta, sem bater, não estava com paciência para formalidades. Apenas entrou percebendo que o marido a observava com um olhar bastante triste.

— Emilie. — Disse ao tentar se aproximar, mas ela o afastou no mesmo instante.

— Como você pôde?

— Eu sinto muito... Eu perdi o controle, não quis fazer aquilo com a Marinette, não tive a intenção de machuca-la. Se me der a chance de me explicar.

Ela riu negando com a cabeça, tentando conter as lágrimas. — Se explicar? Acha que algo que disser pode ser capaz de consertar isso?

— Você não conhece a Marinette, ela não é quem você pensa.

— E falando nisso, por acaso — você — é quem eu penso? Porque meu marido não agrediria uma garota indefesa e muito menos me trairia com a minha melhor amiga. Pelo menos era isso que eu esperava.

— Amor, eu sinto muito. Se eu pudesse voltar no tempo-

— Uma pena que você não possa... — Sentiu uma lágrima escorrer por seu rosto. — Por favor, Gabriel... Me diz que tudo isso é um grande mal entendido.

— Emilie... Você não faz ideia do quanto eu me arrependo. Eu não queria que nada disso tivesse acontecido. Eu estava sofrendo tanto e precisando de alguém, eu não sabia lidar com a perda do bebê e você estava tão distan-

Gabriel não concluiu sua fala, uma vez que Emilie o acertou em cheio um tapa no rosto. — Você não sabia lidar? Fui eu quem tomava todos aqueles medicamentos para manter nosso filho bem, fui eu que passei noites acordada com medo do pior acontecer, você não estava lá... Estava ocupado demais, sofrendo nos braços de outra.

— Eu também sofri, eu tinha acabado de perder meu filho e você mal falava comigo.

— Eu estava de LUTO! — Ela gritou.

— Eu também estava, precisei de você, te procurei várias vezes, mas eu não obtive o mínimo de atenção. A Sabine também não estava bem e acabamos nos aproximando, eu não queria aquilo, só aconteceu. Eu nunca quis te deixar.

— Mas deixou. É claro, por que ficar com a esposa que vivia dopada para não cometer suicídio, quando podia ficar com a amante que também estava carente.

— Eu não queria ter feito aquilo, mas eu estava me sentindo sozinho e precisava de amor, precisava me sentir amado e alguém que me entendesse, me ouvisse, você não me dava nada disso.

— E eu tive? Eu me senti culpada por anos, simplesmente por ter me levantado naquela noite! Se eu não tivesse me levantado, se não tivesse ficado tonta logo no topo da escada, provavelmente teríamos dois filhos agora. Você deveria estar comigo, deveria cuidar de mim e me apoiar, me desculpa se eu não estava perfumada e te esperando de pernas abertas depois do trabalho, mas o meu filho tinha acabado de morrer.

— Ele era meu também. E não se trata de sexo, eu queria alguém para conversar.

Emilie não conteve uma gargalhada carregada de odio.

— Conversar... Sabe com quem eu conversava? Com um psicólogo. Você devia ter feito o mesmo, ao invés de se aproximar de outra e dormir com ela, vocês tem uma filha, tem noção da gravidade disso? Gabriel você destruiu a nossa família simplesmente porque eu não tinha condições de estar disponível para você. Você estava sofrendo? Ok, mas sofresse ao meu lado. Porque enquanto eu tomava remédios, sentia náuseas, dores intensas de cabeça e vontade de chorar naquele maldito quarto até morrer enquanto eu olhava as coisas do meu bebê, coisas que ele nunca chegaria a tocar, você estava enchendo a cara com a Sabine. EU precisei de você, não ela. Quando ela estava sofrendo com a morte do Tom, fui eu quem a convidou para morar conosco, eu ofereci ajuda, eu deixei que ela entrasse na minha casa. A acolhi de braços abertos, mas ela me apunhalou pelas costas, assim como você... As duas pessoas que eu mais amava, me deixaram sozinha naquela escuridão que parecia eterna para fazer companhia um ao outro.