Aquele dia havia se tornado um turbilhão de emoções para todos. Gabriel principalmente, que ficou sem reação ao descobrir que Marinette não era sua filha, e que Sabine havia o enganado, ele sabia que tinha grande parte de culpa em tudo o que havia acontecido nas últimas semanas, mas isso era imperdoável, ele destruiu sua família por conta dessa mentira, algo que já estava a muito tempo escondido debaixo do tapete e muitas vezes nem era lembrado por ele. Não teve nem tempo de absorver todas as informações, já que poucas horas depois foi informado sobre o acidente e imediata foi até o hospital onde Adrien estava. Não pensava em nada, só queria vê-lo, mostrar que estava ali para o que precisasse, sua cabeça girava, estava com medo, triste e sentia uma raiva estrondosa crescer em seu peito. Mas agora não era hora, precisava ver Adrien, precisava abraçar seu filho, não sabia qual era a gravidade da situação, então se encontrava desesperado por informações.
Ao chegar na recepção, foi barrado por algumas pessoas, estava transtornado, chegou ao ponto de lhe oferecerem algum calmante, o que foi recusado por ele. Logo as informações chegavam, tranquilizando seu coração. Adrien estava bem, não, na verdade bem não era a palavra, mas estava estável, não havia ferimentos graves, mas ficaria em observação.
Gabriel então decidiu ir até a sala de espera, tentava manter a calma, sabendo que Emilie com certeza estaria ali e essa seria a primeira vez que a veria depois de toda a confusão. E foi exatamente isso, ela de fato estava sentada no sofá, olhando em direção ao corredor que dava acesso ao quarto do filho, a mulher desviou o olhar brevemente em direção a ele, mas não esboçou reação alguma, apenas voltou o olhar para o corredor. Gabriel por sua vez, se sentou do lado contrário, quase de frente para ela, que parecia não dar a mínima para sua presença, não era ruim, melhor que ser recebido aos berros, mas ainda assim, estava chateado, esperava que a mulher o acolhesse, mas claro que seria pedir demais, era apenas uma ilusão criada por sua mente, como havia feito milhares de vezes.
— Que bom que ele está bem, eu quase tive um treco quando soube do acidente. — Disse em voz baixa, sem encara-la, e ela fez questão de não o responder. — Você já entrou? Como ele está?
Emilie suspirou irritada. — Sim, está bem. — Ela continuava a encarar o corredor.
— Que ótimo, fico aliviado, já que-
— Da para parar? — Ela o encarou furiosa. — Não precisa ficar de conversinha comigo, você veio aqui para ver o nosso filho e eu não vou impedi-lo, nossos problemas não tem nada a ver com ele, então você tem todo o direito de continuar seu papel de pai, mas por favor, me poupe dessa conversa fiada, não estou nem um pouco interessada em ouvir sua voz e muito menos ser sua amiga.
Gabriel a encarou surpreso, ela nunca havia dirigido a palavra a ele daquela forma. — Você tem razão, me perdoe...
Ele mantinha a cabeça baixa, enquanto ela voltava a olhar para o outro lado, era frustrante dividir o mesmo ambiente com ele, estava com raiva e queria chorar, odiava aquele maldito perfume que chegava até ela, aquilo trazia recordações das quais ela não queria sentir falta, ele não merecia, não merecia nem um vestígio que fosse do que sobrou de seu amor. Se é que sobrou alguma coisa, talvez fosse apenas uma nostalgia, mas esses pensamentos logo desapareceram ao se lembrar que se não fosse por ele, não estariam naquela situação agora.
Estava decidida a esquece-lo, e faria isso.
(...)
Adrien havia tido alta no dia seguinte, o mesmo em que se reencontrou com Marinette, ele queria poder abraça-la e conversar melhor sobre tudo, mas Emilie não permitiu, já que as recomendações eram para que ele repousasse, sua cabeça estava uma bagunça, a de todos estavam. A mulher não queria interferir na vida do filho, mas não estava pronta para lidar com aquilo agora, e sabia que a volta dos dois a afetaria, por mais que quisesse vê-lo feliz, precisava de mais um tempo. Adrien entendia o lado da mãe, aquilo estava mesmo uma bagunça e Marinette também não parecia chateada por continuar um pouco afastada. Resolveriam com calma, ainda haviam muitas pontas soltas, muito a ser resolvido e isso levaria tempo.
Isso deixava Emilie aliviada, pelo menos não veria Gabriel tão cedo, já que ele iria visitar Adrien em horários em que ela não estava em casa e teria tempo para voltar a olhar para Marinette com mais empatia, sabia que a garota não tinha culpa, mas ainda assim, era complicado controlar suas emoções sempre que a via. Pelo menos agora, tudo parecia mais calmo... Ou não... Talvez essa fosse apenas uma esperança boba, coitadinha, como poderia ter paz? Que besteira, seria pedir demais.
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O valor de um segredo.
أدب الهواةApós a morte do marido, Sabine se vê perdida, afogada em dívidas e preocupações, um amigo próximo decide ajudar, até as coisas ficarem confusas. Agora com um problema ainda maior, a mulher se vê novamente desamparada e pressionada a esconder a verd...