•°•°• Capítulo 04 •°•°•

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O Doutor decidiu que a melhor opção seria induzir o parto, demorou para que Emilie aceitasse, mas após dias relutante a mulher finalmente aceitou. Sentindo que uma grande parte de si mesma havia partido, junto com aquela criança.

Quando saíram do hospital, o motorista já os esperava do lado de fora. Durante todo o trajeto o casal não trocou uma só palavra, Gabriel até tentou uma proximidade, sentando mais perto da esposa e acariciando seu cabelo suavemente, mas a mulher não tinha reação, ela estava com o rosto virado para a janela, olhando para a paisagem.

ㅡ Você está bem? ㅡ Gabriel perguntou preocupado.

Emilie se virou incrédula.

ㅡ Estou ótima. ㅡ Respondeu com ironia. ㅡ Que tipo de pergunta é essa? É claro que não estou bem, você está?

ㅡ Não...

ㅡ Como eu vou estar bem? Eu acabei de perder a pessoa mais preciosa da minha vida. Estamos indo preparar o velório do nosso filho.

ㅡ Você tem razão, me desculpe. ㅡ Gabriel se virou para frente novamente e abaixou a cabeça, então seguiram o restante do caminho em silêncio.

Os momentos seguintes foram uma tortura para ambos, o mundo de repente havia perdido a cor e o clima parecia frio e mórbido.

Quando voltaram a mansão, Gabriel se direcionou para o escritório, enquanto Emilie seguiu até a sala, pegou seu livro e se sentou na cadeira suspensa, na varanda, mas não conseguia se concentrar na leitura, ela só pensava no bebê que acabou de perder. Então se levantou, colocando o livro na mesinha ao lado, foi em direção às escadas, seguindo pelo corredor e por fim, chegando ao quarto do filho...

Fez uma breve pausa, antes de colocar as mãos na maçaneta e entrar, sentiu um calafrio ao olhar para o quarto, estava tudo tão perfeito, exatamente como ela mesma havia planejado.

O quarto em tons claros, com alguns nichos que continham os ursos de pelúcia, uma cortina clara, para dar um ar mais leve ao ambiente. Ela se sentou na poltrona, em frente ao berço do bebê, pegando um dos ursinhos que estava ali, abraçando o mais forte que podia, era como se pudesse sentir seu filho ali, sentiu a dor tomar conta de seu peito novamente.

Como ele seria? Será que ia se parecer comigo? Ou com o Gabriel?
Eu seria a melhor mãe do mundo.

Emilie ouviu um barulho e se virou para a porta, vendo Gabriel encostado no batente, a observando.

Quando chegamos em casa, percebi que ela queria ficar um pouco sozinha, não a culpo, afinal, compartilhava da mesma dor. Então fui direto para o escritório tentar me ocupar com o trabalho, mas eu não conseguia parar de pensar nela e em nosso bebê, aquele sentimento estava me matando, eu sei que ela seria uma mãe incrível e o quanto queríamos essa criança. Decidi ir para o quarto descansar, mas ouvi Emilie chorar, segui o som até o quarto do bebê.

Quando entrei, vi ela sentada na poltrona, abraçada com um dos ursos, ela o abraçava com força e estava com a cabeça baixa, seu choro partia meu coração, mas eu realmente não sabia o que fazer, quando ela levantou a cabeça e começou a olhar ao redor, decidi me aproximar, mas ela me viu, não disse nada, só me encarou, então me ajoelhei em sua frente, colocando as mãos em suas pernas e apenas observei seu rosto.

Ela sempre foi uma mulher tão linda, radiante, tinha uma luz própria, mas agora não, agora aquele brilho havia se apagado, mas não a culpo por isso.

ㅡ Posso ficar aqui com você? ㅡ Gabriel perguntou receoso.

ㅡ Claro! Me desculpe por hoje mais cedo. Eu só não estou sabendo lidar com isso, mas sei não que é sua culpa. ㅡ As lágrimas escorriam continuamente em seu rosto, ela estava tão destruída por dentro, sua dor estava explícita no olhar.

Gabriel se levantou, tirando o urso dos braços da esposa, a segurando pelas mãos, mas ela se mantinha de cabeça baixa.

ㅡ Olha pra mim, Emilie. ㅡ Gabriel levantou seu rosto com o dedo indicador, gentilmente, fazendo com que ela o olhasse. ㅡ Eu realmente sei, o quanto isso dói, também sei que vai demorar para passar, mas eu preciso de você aqui comigo, tudo bem? Vamos passar por isso juntos, posso contar com você? ㅡ Ele sorriu, mesmo que não estivesse feliz no momento.

ㅡ Sim, vamos passar por isso juntos. ㅡ Emilie abraçou o marido, enquanto os dois olhavam para o quarto vazio, que até uns dias atrás simbolizava alegria.

Um pouco mais tarde, os dois já estavam na cama, o clima ainda estava muito ruim, mas Gabriel insistia em tentar se aproximar da mulher, então se virou de lado na cama, olhando para a esposa e acariciando seus cabelos, a mesma permanecia deitada de barriga para cima, olhando para o teto.

ㅡ Podemos passear amanhã, ir ao parque talvez?

ㅡ Eu prefiro ficar em casa, mas podemos ir outro dia. Agora precisamos dormir. ㅡ Deu um beijo rápido no marido e se virou, sentindo o abraço acolhedor dele.

Quando acordou, Gabriel olhou para o lado, mas Emilie não estava mais na cama, se sentou preocupado, ela não costumava acordar tão cedo, então saiu em direção às escadas, avistando a esposa na varanda, aonde costumava ir quando queria ficar sozinha.

ㅡ Bom dia meu amor. ㅡ Ele se aproximou, dando um beijo breve. ㅡ Levantou cedo.

ㅡ Bom dia, não estava conseguindo dormir. ㅡ Disse olhando para o jardim, pela janela.

ㅡ Eu vou me arrumar e ir até a padaria, você quer ir comigo? ㅡ Ele esperava que ela dissesse sim, para poderem se aproximar um pouco mais.

ㅡ Não, eu te espero aqui. Estou um pouco cansada.

ㅡ Tudo bem, vou subir para me trocar.

Ele voltou para seu quarto e entrou no banho, precisava encontrar um jeito de se aproximar, não queria sentir que tinha um muro entre os dois.
Gabriel escolheu sua roupa e desceu novamente ao encontro da esposa.

ㅡ Já volto querida, não vou demorar.
ㅡ Deu um beijo em sua bochecha.

ㅡ Tudo bem.

Caminhou para o lado de fora, entrando no carro e seguindo até a padaria. Ao chegar, como já era de se esperar, foi recebido alegremente por Sabine.

ㅡ Bom dia, veio cedo hoje.

ㅡ Bom dia, sim, não dormi muito bem. ㅡ Ele se aproximou do balcão.

ㅡ Eu soube do acidente, sinto muito, como está a Emilie?

ㅡ Está péssima, mas já era de se esperar. ㅡ Ele abaixou a cabeça.

ㅡ Eu entendo, sei como é perder alguém amado. ㅡ Ela deu a volta no balcão, segurou nas mãos dele e o abraçou. ㅡ Ela ainda pode... ㅡ Fez uma pequena pausa, para pensar se a pergunta era indelicada demais.

ㅡ Ter filhos? ㅡ Se afastou para olha-la. ㅡ Sim, o Dr. Disse que não haverá problemas futuramente, mas creio que ela não pensará nisso tão cedo.

ㅡ Entendo, fico feliz que isso não tenha a prejudicado.

ㅡ Eu também. Mas enfim, eu gostaria de levar alguns Croissant's.

ㅡ Claro, vou buscar. ㅡ Não demorou para que a mulher voltasse com o pedido. ㅡ Bom, aqui está.

ㅡ Obrigado. ㅡ Gabriel efetuou o pagamento em silêncio, não queria prolongar aquela conversa.

ㅡ Se precisar estarei aqui.

ㅡ Eu sei, agradeço pelo carinho, até logo. ㅡ Disse se virando e indo em direção a porta.

O valor de um segredo.Onde histórias criam vida. Descubra agora