Horas depois, quando já tinha certeza de que não encontraria mais Gabriel por ali, Emilie finalmente pôde voltar para casa, não havia chegado a Paris a muito tempo, mas preferiu esperar mais um pouco, rodando a cidade por garantia. Não queria correr o risco de encontrá-lo ali, aquela casa, não era mais dele. Como o combinado, ele abriu mão da mesma, para deixar ao menos o conforto para sua família, como se isso fosse corrigir alguma coisa. De qualquer forma, não podia reclamar, amava aquele lugar e tudo o que construiu ali dentro, seria uma perda imensa ter que sair dali.
Adrien já havia subido para o quarto, ela não o julgava, sabia que sua cabeça estava tão cheia quanto a dela e esse era o motivo de sua falta de sono. Em outra ocasião estaria exausta, mas naquele momento não, era estranho. Não estava agitada, na verdade, seu corpo estava bastante cansado, mas sua mente não parecia querer relaxar.
Se lembrava da briga, das palavras, e de tudo o que já foi dito anos antes, pensava o que era verdade e o que não era, isso ela nunca saberia.
Estava sentada no sofá, em frente a TV desligada, perdida em seus pensamentos. Só sentia dor e raiva, era horrível, parecia difícil de respirar, aquele nó na garganta estava a sufocando.
— Sem sono? — Ouviu a voz de Adrien que se aproximava.
— Eu não sei se consigo... — Disse sem encara-lo, olhando para o chão enquanto apoiava as mãos nos joelhos. Adrien sentou ao seu lado, suspirando baixo.
— Não consegue o quê? — Colocando uma das mãos sobre a dela, pôde ver que ela parecia se segurar para não chorar.
— Não consigo perdoar.
— Você não precisa.
— Mas e se... A culpa for minha? — Disse em voz baixa. — Eu poderia ter sido mais compreensiva, ou se eu tivesse voltado a me entregar mais cedo, ele não precisaria-
— Não. Não fala uma besteira dessa, ele tinha a obrigação de te esperar, nada justifica. Ele está errado, mãe, não você. Ele estava sofrendo, ok, eu entendo. Mas você também estava, não só emocionalmente como fisicamente, você teve o seu filho já sem vida retirado do seu corpo. Você tinha todo o direito de estar se sentindo péssima, você precisava dele ao seu lado, não vagabundiando por aí. Eu amo o meu pai, mas tenho total consciência de que o que ele fez foi sim muito errado e não somos obrigados a perdoar. Por outro lado, essa decisão é sua, só você sabe o que se passa no seu coração. Eu estou aqui para te apoiar em qualquer decisão que tomar. Ficando com ele ou não, o que importa é que você esteja feliz, se não te faz bem, afasta. Vai doer, claro que vai, mas vai passar. E eu vou estar aqui com você. Espero que seja o suficiente.
Emilie desviou o olhar para o filho, mantendo um sorriso fechado no rosto. — Você é o que eu tenho de mais precioso na minha vida, estou feliz que esteja aqui. E eu sinto muito, pela Marinette... Eu sei que você estava feliz, mas infelizmente, as pessoas são assim, nos decepcionam quando menos esperamos. Não podemos confiar.
— Ela não teve culpa, é tão vítima quanto nós. Por favor, não jogue isso para cima dela. — Emilie franziu o cenho, um pouco desconfortável com o rumo da conversa. — Inclusive, se não fosse por ela, nós nunca descobririamos. Claro que eu estou muito mal com isso, afinal, eu amo ela como nunca amei ninguém e saber que não podemos mais estar juntos, é uma dor que eu não sei como descrever. É como se eu tivesse perdido alguém para sempre, mesmo que ela esteja viva. Eu queria falar com ela, tentei encontrá-la, mas parece que ela não quer me ver. Acho que ela me odeia, mas eu nem fiz nada. Eu não tenho culpa, nenhum de nós temos. — Ele olhou para a mãe, com os olhos marejados em lágrimas. — Também não vou conseguir... Eu amo ela de outro jeito, não posso fingir que isso não existe.
— Você não pode mais ficar com ela.
— Eu sei, mas eu quero.
— Você não pode!
— Mãe...
— Adrien, nós dois perdemos hoje. Perdemos nossos amores, perdemos nossa alegria, nossa esperança. Agora somos só eu e você e vamos nos reerguer assim, um sendo o ponto de apoio do outro. Nós vamos conseguir se estivermos juntos, como você disse, certo? Deixe a Marinette em paz, ela vai seguir com a vida dela e você com a sua. Ela não é mais nossa responsabilidade. Temos que cuidar de nós. Por favor, não me odeie por dizer a verdade. As palavras certas nem sempre são as que gostaríamos de ouvir. Você sabe que eu mais do que qualquer pessoa nesse mundo faço tudo por você, porque eu sou sua mãe e quero te ver feliz. Posso estar te machucando agora, mas juro que é para o seu próprio bem. — Ele apenas assentiu com a cabeça. — Eu te amo, meu filho, parte meu coração te ver sofrer assim, sabendo que sou incapaz de fazer algo.
— Eu vou ficar bem... Nós vamos.
— Isso mesmo. — Disse se aproximando e beijando a bochecha dele antes de se afastar. — Bom, acho melhor dormirmos agora.
— Não vai subir?
— Não... Eu não quero dormir naquela cama hoje, prefiro ficar aqui. — Adrien apenas concordou, forçando um sorriso.
— Boa noite, mãe.
— Boa noite, meu amor.
Adrien subiu as escadas rapidamente, sentia que iria mais uma vez desabar, não sendo diferente da mãe, que fazia o mesmo enquanto abraçava uma almofada no sofá.
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O valor de um segredo.
FanficApós a morte do marido, Sabine se vê perdida, afogada em dívidas e preocupações, um amigo próximo decide ajudar, até as coisas ficarem confusas. Agora com um problema ainda maior, a mulher se vê novamente desamparada e pressionada a esconder a verd...