•°•°• Capítulo 104 •°•°•

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Que Emilie estava se saindo bem apesar de tudo, isso era um fato. Pena que não podia dizer o mesmo de Gabriel, que agora suspirava frustrado enquanto esfregava as mãos no rosto de forma até que agressiva.

Trabalhar naquele lugar estava sendo uma tortura, não por ser ruim, mas por se sentir totalmente deslocado.

Um prédio diferente, com funcionários diferentes, além de precisar se manter focado, mesmo sentindo um vazio devastador em seu coração. Não havia um único dia em que não sentia falta da sua esposa ou filho. Para Gabriel, sua vida já havia acabado, não tinha ideia de como era feliz, até o momento. Emilie estava sempre tão linda, disposta a fazer tudo ao seu lado, o apoiando nas ideias, até as mais malucas, sempre tão sorridente e cheias de planos, que saudade que tinha daquele sorriso, dela cantarolando pela manhã e o enchendo de beijos, ela o amava, mesmo com o passar dos anos, aquele amor nunca havia se enfraquecido, não até agora. Sentia falta de Adrien, das piadas ruins e das broncas que dava no filho, nunca pensou que sentiria falta por reclamar dele andar de cueca pela casa, mesmo sabendo que os funcionários o viriam assim, ou de vê-lo jogado no sofá, dos passeios dele com a mãe no jardim, os dois eram lindos juntos. Até mesmo de ficar irritado por Adrien chegar bêbado em casa e vê-lo correr para os braços da mãe, evitando que o pai o desse uma boa coça. Apesar que ele nunca mais bebeu, não a ponto de se embebedar. Droga!

— Chega... Já acabou, eles não fazem parte da minha realidade. — Disse em voz baixa, limpando uma lágrima que escorria em seu rosto, voltando o olhar para o celular, que estava com sua última conversa com Emilie aberta. Se segurava para não ouvir o áudio que já conhecia de cor. Suspirou uma última vez, antes de tocar a tela.

Bom dia, meu amor, espero que tenha dormido bem. Levantei mais cedo e vim caminhar um pouco, queria que estivesse aqui, mas estava dormindo tão gostoso que senti pena de acorda-lo. Logo estarei de volta, vamos tomar café juntos. Espero que não se sinta abandonado, vê se não morre de saudades hein.

O áudio foi pausado logo depois da risada dela, ele então respirou fundo, se preparando para voltar a ouvir.

Eu te amo, tenho sorte em ter você.

Seu coração parecia querer explodir, não pôde conter as lágrimas.

Eu te amo

Eu te amo

Tenho sorte em ter você

— Eu também te amo, Emilie... Me perdoa, eu nunca mereci você. — Aquela dor era tão intensa, sabia que era sua culpa, sabia que havia colocado tudo a perder, mas não aceitava, não poderia. Ele viveu anos ao lado daquela mulher, amou tanto ela quanto o filho mais do que poderia amar qualquer outro ser humano no universo. Se não fosse pela maldita Marinette... — Não... Não foi a Marinette. — Disse em voz baixa, jogando o corpo contra o encosto da cadeira. — Foi minha culpa... Se eu não tivesse deixado a Emilie sozinha, se eu não tivesse me envolvido com aquela... Quem eu estou tentando enganar? A culpa é apenas minha. A Sabine também precisava de ajuda... Mas não era eu quem deveria oferecer. — As lágrimas agora caiam mais insistentes. Sentia que o ar ficava mais pesado a ponto de fazer o peito doer. — Me perdoa... Eu me dediquei tanto para corrigir esse erro, eu te amei tanto, cuidei tanto de nós... Emilie... Por favor... — Queria que ela pudesse ouvir as suas palavras, mas agora era tarde. Pegou o celular novamente, agora abrindo a conversa com o filho, que era mais recente. Limpou o rosto, antes de começar a digitar a mensagem.

"Essa noite eu me lembrei de um acontecimento. Quando você tinha uns quatro anos, você entrou correndo, gritando e chorando no meu quarto, quase matou eu e sua mãe de susto, disse que estava com medo das luzes no céu, ouvimos um trovão muito forte e logo entendemos o que havia acontecido. Sua mãe te pegou no colo e abriu a cortina, apontou para o céu e disse que eram trovões e raios, que não devia ter medo, eram apenas os filhos dos Deuses brincando com suas espadas magicas. Aquilo não fazia sentido algum, era uma besteira, mas você riu e disse que também queria brincar. Nesse momento comecei a imaginar como ela ia dizer que aquilo era mentira, mas ela apenas sorriu e disse que brincariamos no dia seguinte. E advinha? Ela encontrou as benditas espadas que brilhavam, você ficou tão feliz que corria pela casa batendo em todo mundo e imitando os sons do trovão. Sei que não se lembra disso, mas quis te contar. Sinto tanto a sua falta, eu daria tudo para poder te colocar no meu colo e acariciar seus cabelos até você dormir, como quando era pequeno e ainda precisava de mim. Eu te amo, Adrien. Você sempre vai ser o meu bem mais precioso."

As lágrimas se formavam nos olhos do rapaz ao terminar de ler aquela mensagem, estava com raiva, isso com certeza, mas não podia negar que sentia falta do pai e daria qualquer coisa para tê-lo de volta.

Mas eu ainda preciso de você, pai. Eu te amo e espero te ver de novo... Um dia.

Queria que o pai soubesse, mas acabou apagando a mensagem, optando por enviar outra.

Tem razão, eu não me lembro. Mas tenho certeza que foi divertido.

Gabriel, sorriu fraco ao ler a mensagem, mas instantes depois, ouviu a notificação novamente.

Pai?

Sim?

Eu te amo e estou com saudade.

Gabriel dessa vez deu um grande sorriso, sentindo seu coração se aquecer. Adrien por sua vez, bloqueou a tela do celular rapidamente, se arrependendo de ter enviado a mensagem, mas ainda assim, acabou sorrindo.

— Deuses... Que besteira.

Gabriel então voltou ao trabalho, precisava tentar seguir em frente e agora estava feliz por saber que apesar de toda aquela confusão, Adrien ainda o amava e com isso, esperava que sua esposa também, será que pensava nele como ele fazia com ela? Será que sentia sua falta? Esperava que sim. Esperava reencontra-la um dia.

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