Capítulo 16

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Capítulo 16 - Princesa
Cpx do Alemão, Rio de Janeiro. 
Segunda, 14h

Após o almoço, nós ficamos conversando um pouco ainda no restaurante da dona Jô. Eu fiquei impressionada o quanto o strogonoff da Rita parece com o que a tia Daiane fazia.

— Ai eu, Sábio e Pikachu que tomamos conta das finanças do morro, mas é pica atrás de pica. — ele diz.

— Eu chamei a minha amiga que faz as contas da Penha pra vir no baile sábado que vem, se não for problema pra você, aí ela pode ajudar vocês mostrando como ela tem feito lá. Ela tá na faculdade e tudo.

— Bandida formada — Jogador ri

— Cara, se ela te ouve chamando ela de bandida, ia surtar. — Eu gargalho — Os pais dela são os pastores do morro.

— Caralho, que resenha boa que isso deve dá — ele ri negando com a cabeça.

— Você não tem noção, ela trabalha na boca escondido deles. Ela é foda.

— Tem como ela vir mais cedo no sábado? Vamo dá uma fortalecida

O jogador e eu pegamos as motos e partimos em direção à boca, mas passamos pela esquina da casa do Sábio e ele viu Laís saindo de casa com o Filho e alguns seguranças.
Ele desviou do caminho até eles e eu o segui.

— Fala aí, moleque — diz Jogador parando com a moto.

— Eai, tio. Minha mãe tá me levando pra tomar sorvete. — a criança sorri animada e olha pra mim, tentando me reconhecer.

— Oi — eu sorrio tímida — Você deve ser o Lucas, eu sou a Princesa.

— Fala com a tia, filho — Laís diz colocando a mão na suas costas.

Eu desço da moto, abaixo e Lucas me dá um abraço.

—  Vamos tomar sorvete com a gente — ele olha pra mim e pro jogador

— Po, molecote, o tio tá cheio de parada pra resolver lá com teu pai, mas leva a Princesa com vocês.

— Vamos, Princesa, assim eu te mostro mais o morro. — Laís pede.

Eu sorrio e concordo com a cabeça.

— Vou deixar a moto aqui e a gente vai a pé, pode ser? — eu pergunto

— Deixa aí, depois o Pretinho dá um jeito de te entregar— Jogador diz — vou nessa, qualquer coisa só falar.

Jogador parte com a moto dele enquanto eu, Laís, Lucas e um menino da segurança vamos até a pracinha tomar sorvete.

— Você quer sorvete de que, Lucas? — eu pergunto.

— Morango! — Ele diz enquanto estamos chegando na praça. — Com calda!

Pouco tempo depois, nós chegamos na sorveteria do morro e pegamos nosso sorvete, o soldado que acompanhava se juntou aos outros que ficam do outro lado da rua, nós fomos sentar e o Lucas brincar com outras crianças enquanto tomava sorvete.

— Quanto tempo você tá com o Sábio? — pergunto pra Laís.

— Olha, vai fazer 10 anos — eu olho pra ela surpresa já que ela parece ser nova. — O Lucas tem 7.

— Você era bem novinha quando começaram a ficar né?

— Tinha 16 e ele 18 — ela sorri lembrando enquanto come seu sorvete de brownie — imagina a confusão que eu não criei pra minha família, 16 anos e namorando um traficante. Filho chefe ainda.

— Seus pais não apoiaram?

— Foram totalmente contra, me trancaram em casa, o nanau chegou a ir lá conversar com eles antes de morrer. Dizia que o filho dele era um rapaz decente, que não tinha criado moleque.

— Realmente, o Sábio é daqueles que honra a palavra.

— Ele dizia que não ia me trocar por essas meninas de ilusão. Acho que isso foi uma parada que o Nanau ensinou bem tanto pro Maurício quanto pro irmão. Eles nunca deram muita moral pra essas piranhas, sempre foram discretos.

— O casamento do Tio Nanau com a Tia Daiane era de se espelhar, não me espanta eles serem assim.

— Você viveu bem a relação dos dois, né?

— Meu pai era muito amigo dos dois, como eu não tive mãe presente, tia Daiane foi uma das poucas figuras femininas que eu tive na infância. — eu digo raspando o potinho de sorvete com a colher — Mas ela morreu quando eu tinha 10 anos, eu não tive mais coragem de voltar aqui depois disso.

— Eu nunca tive contato com ela, quando cheguei aqui no morro ela já era falecida, mas não tem uma pessoa daqui que poupe elogios — sorri com sinceridade — Você tem alguém? Romanticamente falando — ela me pergunta levantando o pescoço pra ver o Lucas e volta a comer o sorvete.

— Não, eu fico com algumas pessoas mas nada demais. Não conheci ninguém que valesse a pena me envolver romanticamente.

— Te falar, só vale a pena se tu gostar mesmo da pessoa. Relacionamento é difícil, ainda mais nesse meio que a gente vive.

— Cara, eu tenho medo de um homem atrapalhar meu crescimento agora, mas só ficar, não vejo problema, sabe?

— Foi exatamente isso que disse ao Sábio quando eu saí de casa, não queria ser dondoca, bancada. Não me sinto bem sendo. — ela nega com a cabeça — e po, tu é gata a beça, o que deve ter de carinha trás de tu é brincadeira...

eu sorrio pra ela

— Jogador me falou que você tem um salão aqui no morro.

— Tenho, às segundas eu fecho pra folga, mas tava precisando de uma modelo morena pra ficar loira, tô querendo divulgar o trabalho do salão pra fora do morro. Quer ficar loira hoje não?

— Loira? — eu arregalo os olhos

— É, minha filha. Eu to com a chave do salão aqui, eu faço o loiro e tiro umas fotos suas. Você tem ficha limpa, né?

— Tenho, acabei de me formar na faculdade. Mas assim do nada? Eu não sei se loiro vai combinar comigo, sempre fui morena.

— Confia em mim?

Ela pergunta e eu sorrio.

Sonho dos crias [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora